A Filosofia Clínica Organizacional vem ganhando corpo rapidamente. Nos últimos dois anos foi premiada pela ABRH Santa Catarina por projetos desenvolvidos no ambiente organizacional. Agora começa a aparecer como um recurso de apoio à alta gestão, Marcelo Gomes da Alvarez & Marsal cita em reportagem o uso de Filosofia Clínica para aguentar a pressão do ambiente organizacional.
POR GLAUCE
CAVALCANTI
24/01/2016 6:00 / atualizado 24/01/2016 6:00
RIO - A
recessão econômica freou o Brasil, mas deu a largada a uma corrida na área
corporativa, com companhias em apuros financeiros pedindo ajuda para
reorganizar seus negócios. É aí que entram em cena os chamados especialistas em
reestruturações operacionais e financeiras de empresas. Na contramão da crise,
fazem hora extra, ampliam a equipe e recusam clientes.
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2015:
1.287 pedidos de recuperação judicial
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Dieta
Forçada
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'Mercado
pouco maduro'
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Especialistas:
revisão da Lei de Recuperação
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Segunda
reestruturação
2015: 1.287 pedidos de recuperação judicial
Os
recuperadores, profissionais especializados em assumir a gestão de empresas em
crise, precisam fazer ajustes rápidos, atuando sob pressão como médicos de um
CTI para botar as finanças da corporação de volta nos trilhos. Hoje, eles são
poucos para dar conta da explosão da demanda por seus serviços. Em 2015, houve
1.287 pedidos de recuperação judicial no país, salto de 55,4% em relação ao ano
anterior, segundo dados da Serasa.
No
currículo dos principais nomes deste mercado, casos de sucesso dividem espaço
com os de companhias que saíram de cena mesmo depois da recuperação judicial. A
trajetória desses profissionais costuma ser um zigue-zague entre erros e
acertos.
MEDITAÇÃO
E IOGA COMO ROTINA
Um
dos especialistas na área é Ricardo Knoepfelmacher. Com sobrenome quase
impronunciável, é conhecido no mercado como Ricardo K. À frente da RK Partners,
acaba de desembarcar na Bombril, depois de acumular passagens pela petroleira
OGX, de Eike Batista, pelos estaleiros Atlântico Sul e Enseada, e por Galvão
Engenharia e UTC, enquadradas na Lava-Jato.
Experiências
diversas também pavimentaram o caminho do advogado Fábio Carvalho, que se
tornou presidente da Casa & Video, após ter cuidado da recuperação judicial
da varejista — que superou um escândalo de fraude e sonegação fiscal —, além de
ter participado dos processos de Varig e LG Philips. Parte de sua formação vem
do tempo em que atuou sob a supervisão de Marcelo Gomes, diretor da Alvarez
& Marsal no Brasil, gigante mundial do setor, que hoje cuida de casos como
os de OAS e Alumini.
—
Infelizmente, não podemos atender a todos que nos procuram e, atualmente, com o
crescimento de nossa equipe, estamos trabalhando para oito clientes, o dobro de
um ano atrás — conta Ricardo K.
A
crise agravou a situação de muitas empresas. Mas, quando o assunto é gestão
corporativa, especialistas recomendam assertividade e olho atento à geração de
caixa. Perder o foco pode custar caro. Gomes relembra que, na primeira reunião
que a consultoria convocou com a diretoria da Varig, na década passada,
solicitou que cada um dos 13 diretores mostrasse onde podia melhorar a operação
e cortar custos. Um deles levantou a mão e justificou a perda de clientes na
ponte aérea com a piora do serviço de catering. A solução para a
crise passaria pela volta do hambúrguer de picanha ao cardápio.
—
A companhia estava quebrando, e um diretor estava focado na qualidade da comida
à bordo! — comenta.
Não
basta ter foco, analistas alertam que é preciso tomar decisões na hora certa.
E, se preciso, reestruturar a companhia antes de pedir proteção judicial:
—
Esse é um dos erros das empresas em crise financeira: buscam assessoria quando
a situação já está muito crítica. O ideal seria que contratassem bem antes de
iniciar o processo de não pagamento das dívidas. Quanto mais cedo, mais tempo
há para planejar e iniciar a negociação de forma mais harmoniosa e menos
litigiosa — destaca K.
Dieta Forçada
A
recuperação funciona como uma espécie de dieta forçada. Uma pessoa que está
acima do peso e já tentou diversas estratégias para emagrecer, por fim, recorre
a um especialista. Junto a esse profissional, desenha um plano — que exige
sacrifícios e disciplina — para alcançar uma meta definida: perder “X” quilos e
reencontrar o equilíbrio com a balança. Se chega a esse objetivo, o regime foi
bem-sucedido.
—
Entre 30% e 35% das empresas que pedem recuperação no país concluem o processo.
Equilibram compromissos e geração de caixa e tocam o negócio adiante. Isso não
as livra de, mais adiante, enfrentarem novos problemas — explica Luís Alberto
Paiva, sócio-diretor da Corporate Consulting, que hoje atende a 15 empresas,
como Latina e Pioneira da Costa.
Lidar
com o estresse envolvido numa recuperação não é tarefa para iniciantes. Manter
a calma é essencial. Gomes, por exemplo, pratica meditação, além de filosofia clínica. E mantém o hábito de
escrever sobre os casos que acompanha. No futuro, não descarta lançar um livro
sobre a Varig, por exemplo. Até lá, está mergulhado em trabalho:
—
Em 2014, tivemos 35% mais clientes. No ano passado, dobramos a carteira. Este
ano, prevemos avanço de 50% porque precisamos respeitar nossa capacidade. Em
paralelo, nossa taxa de rejeição de clientes subiu de 10%, em 2014, para 50%,
agora. Boa parte das recusas ocorre por falta de condições de recuperação de
empresas que nos procuram.
Carvalho,
que também é adepto de técnicas como a ioga para compensar a rotina
estressante, recomenda evitar ao máximo a proteção da Justiça:
—
Recuperação judicial é só dor. Raramente é a melhor alternativa. Mas, às vezes,
é a única. Torna a negociação mais lenta, traz custos, compartilha a condução
da empresa com a máquina estatal. Tudo fica difícil.
Carvalho
trilhou um caminho peculiar. Depois de assumir a recuperação da Casa&Video,
em 2009, acabou fazendo um aporte financeiro na varejista, recuperou e assumiu
o negócio.
Agora,
ele está cruzando sua segunda fronteira profissional. Após passar de
recuperador a executivo, atua como investidor. Comprou a fatia do BTG na
Bravante, de apoio marítimo ao setor de óleo e gás. Levou 38% de participação e
a cadeira de presidente do conselho, num negócio de R$ 60 milhões. O passo é
consequência da criação da Legion Holdings, focada em investir em empresas que
passam por reestruturação, preferencialmente sem recuperação judicial.
—
Vejo mais oportunidade no lado do ativo do que da dívida dessas companhias,
como miram alguns fundos. Com isso, não preciso deter o controle, mas ter
capacidade de influenciar o processo de tomada de decisão da empresa. Ter
participação na gestão para ajudar na virada operacional — conta ele.
No
mercado, é dada como certa a entrada de Carvalho — como investidor — na Leader,
que sofre com uma dívida de quase R$ 1 bilhão e com a decisão do BTG de reduzir
ou zerar sua participação de 70% na varejista fluminense. Ele reconhece
participar de conversas sobre a empresa.
Para
ele, a crise nas companhias brasileiras tem fundamento econômico, pelo impacto
na geração de caixa. A solução, diz Carvalho, não virá do governo nem da massa
de consumo da classe C, mas da rearrumação da equação entre compromissos e
operações das empresas e acordos com instituições financeiras:
—
A recuperação judicial não vai salvar o setor corporativo brasileiro. E, sim, a
negociação entre as empresas e os bancos. Os bancos, hoje, têm capacidade
financeira para chegar a acordos que consigam dar fôlego ao setor produtivo.
Todos têm de ceder.
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