Alemanha
e Grécia: Exame das Categorias
Falar de política e
economia não é algo tão simples quanto parece, usualmente são pegos alguns
dados que servem de base e sobre eles edificam-se as opiniões do articulista. A
ideia não é construir uma opinião, mas como elas são construídas. Lendo há
pouco um artigo escrito por Sérgio Aníbal com o título “Milagre econômico
alemão teve ajuda de perdão de dívida” é possível ter uma ideia do que não se
fala, a história. O artigo aponta o perdão de dois terços da dívida externa
alemã, além da adequação das condições de pagamento à situação econômica vivida
pela Alemanha. Os credores, EUA, Inglaterra e França, não só perdoaram, mas
estruturaram condições de pagamento que condiziam com a situação do país.
Depois disso o autor levanta a discussão entre dois outros autores, um que
defende o perdão da dívida grega pela Alemanha e outro que é contra. A
discussão entre os autores passa pelo valor já emprestado aos gregos, onde a
soma é muito maior do que foi emprestado ou perdoado aos alemães. Outra análise
que pode ser feita foi a intenção com a qual foi concedida à Alemanha essa
benesse em 1953, também levantada pelo autor do artigo. Havia entre os países
da troika a preocupação de não
cometer o erro que os levou a uma Segunda Guerra Mundial.
O cenário atual da
Grécia, aqui falo na Categoria Circunstância, é bem diferente. Em primeiro
lugar o país não foi devastado por uma guerra levando consigo boa parte da mão
de obra e dos parques fabris. O país tem a população economicamente ativa que
mais trabalha na Europa, de acordo com pesquisas recentes, no entanto conta com
a baixa produtividade por hora trabalhada. Essa é uma conta simples de fazer,
trabalham muito e ganham pouco. No período em que a Alemanha estava endividada,
dados da OCDE, os alemães trabalhavam em torno de 2156 horas anuais, contra as
2037 dos gregos nos dias atuais. Um cenário não muito diferente. Hoje, 2015,
aqui falo na categoria tempo, a velocidade da economia é diferente. O dinheiro
roda o mundo em poucas horas, um pouco diferente de 1953, assim a
confiabilidade faz com que os recursos tanto entrem quando saiam mais
rapidamente do país. Quanto a confiabilidade, falo da Categoria Relação, é algo
imprescindível para que se tenha não só o perdão de uma dívida, mas a
possibilidade de pagamento. Há também a questão de que a Alemanha, em 1953, era
o “patinho feio” da Europa. A Grécia nos dias atuais conta com uma série de
benefícios por fazer parte da Zona do Euro. Retomando ainda o artigo de Aníbal,
onde ele diz que além do perdão de parte da dívida, a ajuda do Plano Marshall,
a capacidade dos alemães de criar produtos com sucesso no mercado mundial fez
com que conseguissem pagar a dívida antes do tempo estipulado. Mesmo com sua
população economicamente ativa e o parque fabril em ordem a Grécia não tem
produtos que possam chamar a atenção. Nisso a relação com os países credores
fica negativa, pois não há perspectiva. No que diz respeito ao espaço físico
ocupado pelos gregos, falo da categoria lugar, além de não haver expressividade
no que diz respeito a recursos minerais a posição geográfica também não ajuda.
A Grécia está muito mais próxima do Oriente do que do Ocidente e seus vizinhos
ocidentais são ex-soviéticos também procurando seu lugar ao sol. Um pouco
diferente da Alemanha, mesmo sendo um país com poucos recursos minerais está
entre grandes produtores. Sua posição geográfica é privilegiada, próxima a
polos de desenvolvimento e tecnologia.
Agora, depois de ter
visto de forma resumida um exame categorial da situação grega, pode-se voltar
ao assunto da dívida, para os filósofos clínicos Assunto Imediato. A dívida
grega em si é o que traz a discussão, não é o Assunto Último, ou seja, o que
realmente precisa ser resolvido. O Assunto Último em torno da dívida grega pode
ser o real interesse que existe na permanência de um país com tais
características na Zona do Euro. É, de fato, interessante ao grupo de países
continuar mantendo uma relação de fraternidade com a Grécia? Aparentemente não.
Deixar que os gregos sigam o seu caminho, tentem uma revolução socialista, indo
contra os princípios do capitalismo é uma das formas de encaminhar a saída do
país deste grupo. Pode ser que não seja essa a questão, pode ser que estejam
considerando a abertura de um precedente, pois ao perdoar os gregos estariam
considerando a hipótese de perdoar outros países do grupo. Pode não ser isso
também, pode ser o fato de que ao perdoar a dívida dos gregos os alemães
estejam assumindo que alguns de seus bancos venham a falir e recuperar banco
com dinheiro público alemão não é uma opção. Pode não ser também, pode ser que
a postura da própria população em apostar num modelo de governo que vai contra
o modelo vigente europeu não deva ser apoiada. Enfim, podem ser tantas coisas,
existem tantos fatores, que uma análise histórica e atual com dados parciais conduza
a muitos possíveis motivos, mas com um único resultado atual, a dívida não foi
perdoada.
Rosemiro A. Sefstrom
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