Encontro Nacional

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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Alemanha e Grécia: Exame das Categorias

Falar de política e economia não é algo tão simples quanto parece, usualmente são pegos alguns dados que servem de base e sobre eles edificam-se as opiniões do articulista. A ideia não é construir uma opinião, mas como elas são construídas. Lendo há pouco um artigo escrito por Sérgio Aníbal com o título “Milagre econômico alemão teve ajuda de perdão de dívida” é possível ter uma ideia do que não se fala, a história. O artigo aponta o perdão de dois terços da dívida externa alemã, além da adequação das condições de pagamento à situação econômica vivida pela Alemanha. Os credores, EUA, Inglaterra e França, não só perdoaram, mas estruturaram condições de pagamento que condiziam com a situação do país. Depois disso o autor levanta a discussão entre dois outros autores, um que defende o perdão da dívida grega pela Alemanha e outro que é contra. A discussão entre os autores passa pelo valor já emprestado aos gregos, onde a soma é muito maior do que foi emprestado ou perdoado aos alemães. Outra análise que pode ser feita foi a intenção com a qual foi concedida à Alemanha essa benesse em 1953, também levantada pelo autor do artigo. Havia entre os países da troika a preocupação de não cometer o erro que os levou a uma Segunda Guerra Mundial.
O cenário atual da Grécia, aqui falo na Categoria Circunstância, é bem diferente. Em primeiro lugar o país não foi devastado por uma guerra levando consigo boa parte da mão de obra e dos parques fabris. O país tem a população economicamente ativa que mais trabalha na Europa, de acordo com pesquisas recentes, no entanto conta com a baixa produtividade por hora trabalhada. Essa é uma conta simples de fazer, trabalham muito e ganham pouco. No período em que a Alemanha estava endividada, dados da OCDE, os alemães trabalhavam em torno de 2156 horas anuais, contra as 2037 dos gregos nos dias atuais. Um cenário não muito diferente. Hoje, 2015, aqui falo na categoria tempo, a velocidade da economia é diferente. O dinheiro roda o mundo em poucas horas, um pouco diferente de 1953, assim a confiabilidade faz com que os recursos tanto entrem quando saiam mais rapidamente do país. Quanto a confiabilidade, falo da Categoria Relação, é algo imprescindível para que se tenha não só o perdão de uma dívida, mas a possibilidade de pagamento. Há também a questão de que a Alemanha, em 1953, era o “patinho feio” da Europa. A Grécia nos dias atuais conta com uma série de benefícios por fazer parte da Zona do Euro. Retomando ainda o artigo de Aníbal, onde ele diz que além do perdão de parte da dívida, a ajuda do Plano Marshall, a capacidade dos alemães de criar produtos com sucesso no mercado mundial fez com que conseguissem pagar a dívida antes do tempo estipulado. Mesmo com sua população economicamente ativa e o parque fabril em ordem a Grécia não tem produtos que possam chamar a atenção. Nisso a relação com os países credores fica negativa, pois não há perspectiva. No que diz respeito ao espaço físico ocupado pelos gregos, falo da categoria lugar, além de não haver expressividade no que diz respeito a recursos minerais a posição geográfica também não ajuda. A Grécia está muito mais próxima do Oriente do que do Ocidente e seus vizinhos ocidentais são ex-soviéticos também procurando seu lugar ao sol. Um pouco diferente da Alemanha, mesmo sendo um país com poucos recursos minerais está entre grandes produtores. Sua posição geográfica é privilegiada, próxima a polos de desenvolvimento e tecnologia.
Agora, depois de ter visto de forma resumida um exame categorial da situação grega, pode-se voltar ao assunto da dívida, para os filósofos clínicos Assunto Imediato. A dívida grega em si é o que traz a discussão, não é o Assunto Último, ou seja, o que realmente precisa ser resolvido. O Assunto Último em torno da dívida grega pode ser o real interesse que existe na permanência de um país com tais características na Zona do Euro. É, de fato, interessante ao grupo de países continuar mantendo uma relação de fraternidade com a Grécia? Aparentemente não. Deixar que os gregos sigam o seu caminho, tentem uma revolução socialista, indo contra os princípios do capitalismo é uma das formas de encaminhar a saída do país deste grupo. Pode ser que não seja essa a questão, pode ser que estejam considerando a abertura de um precedente, pois ao perdoar os gregos estariam considerando a hipótese de perdoar outros países do grupo. Pode não ser isso também, pode ser o fato de que ao perdoar a dívida dos gregos os alemães estejam assumindo que alguns de seus bancos venham a falir e recuperar banco com dinheiro público alemão não é uma opção. Pode não ser também, pode ser que a postura da própria população em apostar num modelo de governo que vai contra o modelo vigente europeu não deva ser apoiada. Enfim, podem ser tantas coisas, existem tantos fatores, que uma análise histórica e atual com dados parciais conduza a muitos possíveis motivos, mas com um único resultado atual, a dívida não foi perdoada.


Rosemiro A. Sefstrom

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