Autogenia – Resumo III
Este texto é a continuação do resumo anterior, onde foram apresentados
de maneira resumida e objetiva os conceitos de Autogenia e os modos de
identificação via linguagem e vizinhança. Neste resumo veremos a
identificação de patamar via mecanicidade, a resolução do caso do profissional
que se casou e se tornou pai e também que nem toda questão existencial é
necessariamente autogênica.
Apenas para lembrar, seguindo o mesmo exemplo do resumo II, nosso guia
como é o caso de uma pessoa que ao longo de sua vida teve como direcionamento
existencial a Busca (Tópico 11). Apenas como ilustração este tópico é o determinante
para ele, fazendo com que até mesmo o casamento tenha sido uma maneira de
ascender profissionalmente. No entanto, após um ano de casado nasceu o primeiro
filho e junto com ele veio a proposta de promoção e mudança de cidade. Até o
momento, apenas o tópico determinante (Busca) dava as ordens, mas com o
nascimento do filho, a Interseção de EPs (Tópico 28) se mostra importante a
ponto de confrontar sua Busca. Fica então evidente o choque entre os tópicos 11
e 28. No resumo anterior vimos como a pessoa se orientará para solucionar a
questão de acordo com o patamar autogênico que vive. Neste resumo mostraremos
como se dá o desenvolvimento de acordo com o patamar por mecanicidade.
03 - Identificação de patamar via mecanicidade
A
identificação do patamar autogênico por mecanicidade é bastante simples, basta
perceber a maneira como a pessoa conduz sua problemática na direção do
Desfecho. Há na estrutura de pensamento tópicos específicos que são pela
constituição mecânicos, um dos quais a Razão (Tópico 10). Sendo um tanto
simplista pode-se dizer que uma pessoa será tanto mais mecânica quanto mais
racional for na resolução do problema em questão. Outro tópico que indica
mecanicidade no desenrolar das situações é Comportamento & Função (Tópico
13). Assim como no caso da razão para comportamento e função também, quanto
mais baseada neste tópico a solução for, mas mecânica será. Existem ainda
outros tópicos com relativa mecanicidade, mas estes dois já servem como
exemplo.
No
entanto é possível que uma pessoa não seja mecânica como tópico
especificamente, mas como estrutura. Algumas estruturas, quando você observa
uma parte dela, parece pouco mecânica, parece intuitiva, mas isso é apenas
ilusão, ao olhar a estrutura como um todo a mecanicidade fica evidente. Pela
palavra intuitiva é possível perceber que falo em sites e aplicativos, algumas
estruturas são assim. Intuitivas nas partes, mas mecânicas no todo. É
justamente por isso que dizer que uma estrutura é mecânica somente pelo uso da
razão é bobagem, pois a razão é um dos indicadores da estrutura e não a estrutura
como um todo.
Um
parágrafo contradiz o outro? Não. A condução da solução de acordo com
princípios racionais ou de comportamento e função não deixou de ser mecânica. O
que muda do primeiro para o segundo parágrafo é a consideração da estrutura
como um todo, se a solução vier de tópicos específicos pode dizer de sua
mecanicidade pela base de onde ela vem. Agora, se a solução vier da estrutura,
se os dados que encaminham a solução vierem do todo que é a Estrutura de
Pensamento, é necessário considerar a mecanicidade da estrutura. Como o que nos
interessa é a consideração a partir da Estrutura e não dos Tópicos, a
mecanicidade depende exclusivamente da Estrutura.
Uma
pessoa mais mecânica, ou seja, abaixo dos patamares de nossa época, setembro de
2015, na condução de uma solução, pensará em todos os passos necessários e o
quanto de esforço é necessário para que tudo aconteça. Pensa no quanto de
desgaste, na força, nos perigos, na logística, nos possíveis problemas que pode
ter para que tudo dê certo. Em boa parte dos casos o cenário mostra que a força
necessária para fazer tudo o que precisa ser feito torna o que tem que ser
feito pouco interessante. Eu já ouvi em alguns casos: “Aí o molho sai mais caro
que a carne”. É uma frase interessante, que mostra que tudo o que precisa ser
feito torna o prato principal desinteressante. Geralmente são expressões que
mostram falta de entendimento dos motivos de acontecer justamente naquele
momento, pensando até ser azar. No caso de nosso exemplo, o profissional agora
pai, a partir da proposta começará a arquitetar as possíveis soluções que tem e
o que precisa ser feito para que cada uma delas dê certo. Ele pensa em como
será se mudar com o filho para outra cidade e o que pode fazer para não afastar
o filho dos avós. Pensa no custo que terá para manter isso, mas ao mesmo tempo
que o custo vale a pena pela criança. Ele construirá esquemas resolutivos
diversos contendo os prós e contra da proposta até chegar a uma conclusão. No
entanto, os esquemas que elaborará serão de tal forma complexos e difíceis que
se mostrarão demasiados pesados pelo retorno que darão. Por mais que pense em
todos os meios para solucionar seu dilema, tem ainda a ideia consigo de que é
conspiração do destino para que não consiga o que quer, azar, “coisa feita”.
Uma
pessoa de nossa época, setembro de 2015, quando tiver um problema usualmente
procurará entender como foi que ele ocorreu e a partir das prerrogativas do
próprio problema tentará resolvê-lo. Um bom exemplo é o de pessoas que se
atrapalham financeiramente e entendem que revendo seu orçamento, trabalhando
mais, gastando menos irão resolver o seu problema, e de fato irão. Outro bom
exemplo é do relacionamento que está ruim, cada um vê onde está errando e
procura melhorar para que assim o relacionamento como um todo melhore. Pode-se
dizer que entender as causas e a lógica do problema dê às pessoas a capacidade
de resolvê-los. O nosso quase íntimo pai de família procurará ver como foi que
surgiu a situação, verá o que tem que ser feito para resolver o seu problema,
procurará na própria situação que vive a solução para ela. Pode-se dizer que,
em nossa época, boa parte da mecanicidade está atrelada ao fato de que este pai
buscará em sua situação a solução para ela.
Uma
pessoa menos mecânica que os patamares de nossa época, quando tiver um problema,
considerará o problema como algo que vai além do que vive no momento que está
inserida e a partir de si própria enquanto história de vida. Assim pode ser
considerado Gandhi, que ao liderar seu povo contra a Inglaterra fez algo
simples, recomendou aos indianos voltarem a ser indianos. Como Jesus Cristo que
ao ser perguntado sobre a moeda responde com simplicidade, mesmo a resposta
parecendo um tanto mecânica ela não é resolvida a partir do problema, mas vai
além dele. O caso de nosso personagem, o profissional que se tornou pai, ao ser
menos mecânico ele começa a considerar sua vida como um todo e não apenas o
momento que vive. Ao considerar a família, o filho, os avós, sua carreira e
colocar a si mesmo enquanto história de vida pode fazer com que outros
elementos, que até então estavam de fora, apareçam.
Solução para o caso exemplo
Independente
do método utilizado para identificar o patamar autogênico é importante ter em
conta se a questão a ser tratada é ou não de cunho autogênico. De acordo com a
definição de Nunes; Pedrosa (2000) do Submodo Autogenia é “a organização orientada da EP, feita pelo filósofo clínico,
via interseção, para que dê à pessoa um rumo mais recomendável”. Considerando a
definição de Nunes; Pedrosa, para que uma questão possa ser considerada
autogênica precisa ter como assunto último um trabalho que se dedique à
organização ou reorganização da Estrutura de Pensamento da pessoa.
O caso que foi utilizado como exemplo que mostrou o choque
entre a Razão (Tópico 10) e Interseção de EPs (Tópico 28) não tem como ser
considerado um assunto de cunho autogênico. A questão, do modo como foi
estruturada, apresenta um choque pontual entre dois tópicos e num
acompanhamento filosófico clínico demandará encaminhamentos pontuais. Alguns,
os mais dramáticos, perguntarão: “Mas isso não pode gerar um questão
autogênica?” A resposta é simples: “Pode”. Mas aí teríamos uma condição
diferenciada onde o choque entre dois tópicos produz efeitos capazes de
tracionar toda a estrutura, o que é plenamente possível. Lembrando que para isso
são necessárias condições ímpares, o que usualmente não acontece.
Como o problema de nosso profissional que se tornou pai não é
autogênico, ele deverá ser resolvido no patamar que se encontrar. Se no caso
ele se encontrar num patamar mais baixo que o patamar de nossa época, onde há
amarrações linguísticas que indicam falta de saída, vizinhanças pesadas que
mostram um caminho de difícil solução e mecanicidade que aponta o azar, falta
de sorte e que será necessário muito esforço para que dê certo, é possível que
ele opte por não aceitar a promoção. Ele pode ter utilizado como Submodo
Esquema Resolutivo (Sub. 05) e o fim da equação mostrar que “não vale a pena”
ser promovido. Neste caso, a Interseção de EP venceu e a Busca perdeu. É
possível que ele veja no filho a frustração profissional, quase como a
personificação de busca interrompida.
Num patamar como o de nossos dias, o nosso personagem
provavelmente utilizaria também como Submodo o Esquema Resolutivo (Sub. 05),
levantaria os prós e contras da proposta e tentaria, ao máximo, compor uma
solução que lhe pudesse dar as duas coisas. Ao examinar a situação, perceber a
possibilidade dos avós também irem para a cidade onde seria alocado, percebe
então que é possível viver sua Busca. Mesmo que as condições sejam complicadas
e que exija dele certo esforço para fazer dar certo, arrumar lugar para morar,
a logística de levar os avós da criança, a adaptação da mulher e a sua na nova
cidade. Neste caso, dos diversos possíveis, a Busca se sobressaiu conseguindo
também manter as interseções.
Já num patamar mais elevado o profissional percebe que, no
contexto que vive, a promoção que lhe foi dada veio em boa hora, pois ele gosta
de dirigir e a cidade que fica a 150 km de distância pode ser um bom passeio
diário. Assim, a interseção é mantida e a busca também ganha vazão, a
conciliação faz com que Busca e Interseção sejam mantidas tal e qual estavam.
Pode ser esquisito, mas o menos mecânico tende a observar de fora da caixa e
pode perceber ainda outras formas de encaminhar a situação.
Em cada uma das soluções o resultado final pode ser diferente
tanto pelo tópico que é atendido, tanto pelo Submodo que é utilizado para
encaminhar a situação. O exemplo é apenas uma ilustração de que um caso não
autogênico deve ser resolvido no patamar que está de acordo com os submodos que
a historicidade da pessoa sugere.
Rosemiro A. Sefstrom