Encontro Nacional

Encontro Nacional

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Autogenia – Resumo III

Este texto é a continuação do resumo anterior, onde foram apresentados de maneira resumida e objetiva os conceitos de Autogenia e os modos de identificação via linguagem e vizinhança. Neste resumo veremos a identificação de patamar via mecanicidade, a resolução do caso do profissional que se casou e se tornou pai e também que nem toda questão existencial é necessariamente autogênica.
Apenas para lembrar, seguindo o mesmo exemplo do resumo II, nosso guia como é o caso de uma pessoa que ao longo de sua vida teve como direcionamento existencial a Busca (Tópico 11). Apenas como ilustração este tópico é o determinante para ele, fazendo com que até mesmo o casamento tenha sido uma maneira de ascender profissionalmente. No entanto, após um ano de casado nasceu o primeiro filho e junto com ele veio a proposta de promoção e mudança de cidade. Até o momento, apenas o tópico determinante (Busca) dava as ordens, mas com o nascimento do filho, a Interseção de EPs (Tópico 28) se mostra importante a ponto de confrontar sua Busca. Fica então evidente o choque entre os tópicos 11 e 28. No resumo anterior vimos como a pessoa se orientará para solucionar a questão de acordo com o patamar autogênico que vive. Neste resumo mostraremos como se dá o desenvolvimento de acordo com o patamar por mecanicidade.

03 - Identificação de patamar via mecanicidade

A identificação do patamar autogênico por mecanicidade é bastante simples, basta perceber a maneira como a pessoa conduz sua problemática na direção do Desfecho. Há na estrutura de pensamento tópicos específicos que são pela constituição mecânicos, um dos quais a Razão (Tópico 10). Sendo um tanto simplista pode-se dizer que uma pessoa será tanto mais mecânica quanto mais racional for na resolução do problema em questão. Outro tópico que indica mecanicidade no desenrolar das situações é Comportamento & Função (Tópico 13). Assim como no caso da razão para comportamento e função também, quanto mais baseada neste tópico a solução for, mas mecânica será. Existem ainda outros tópicos com relativa mecanicidade, mas estes dois já servem como exemplo.
No entanto é possível que uma pessoa não seja mecânica como tópico especificamente, mas como estrutura. Algumas estruturas, quando você observa uma parte dela, parece pouco mecânica, parece intuitiva, mas isso é apenas ilusão, ao olhar a estrutura como um todo a mecanicidade fica evidente. Pela palavra intuitiva é possível perceber que falo em sites e aplicativos, algumas estruturas são assim. Intuitivas nas partes, mas mecânicas no todo. É justamente por isso que dizer que uma estrutura é mecânica somente pelo uso da razão é bobagem, pois a razão é um dos indicadores da estrutura e não a estrutura como um todo.
Um parágrafo contradiz o outro? Não. A condução da solução de acordo com princípios racionais ou de comportamento e função não deixou de ser mecânica. O que muda do primeiro para o segundo parágrafo é a consideração da estrutura como um todo, se a solução vier de tópicos específicos pode dizer de sua mecanicidade pela base de onde ela vem. Agora, se a solução vier da estrutura, se os dados que encaminham a solução vierem do todo que é a Estrutura de Pensamento, é necessário considerar a mecanicidade da estrutura. Como o que nos interessa é a consideração a partir da Estrutura e não dos Tópicos, a mecanicidade depende exclusivamente da Estrutura.
Uma pessoa mais mecânica, ou seja, abaixo dos patamares de nossa época, setembro de 2015, na condução de uma solução, pensará em todos os passos necessários e o quanto de esforço é necessário para que tudo aconteça. Pensa no quanto de desgaste, na força, nos perigos, na logística, nos possíveis problemas que pode ter para que tudo dê certo. Em boa parte dos casos o cenário mostra que a força necessária para fazer tudo o que precisa ser feito torna o que tem que ser feito pouco interessante. Eu já ouvi em alguns casos: “Aí o molho sai mais caro que a carne”. É uma frase interessante, que mostra que tudo o que precisa ser feito torna o prato principal desinteressante. Geralmente são expressões que mostram falta de entendimento dos motivos de acontecer justamente naquele momento, pensando até ser azar. No caso de nosso exemplo, o profissional agora pai, a partir da proposta começará a arquitetar as possíveis soluções que tem e o que precisa ser feito para que cada uma delas dê certo. Ele pensa em como será se mudar com o filho para outra cidade e o que pode fazer para não afastar o filho dos avós. Pensa no custo que terá para manter isso, mas ao mesmo tempo que o custo vale a pena pela criança. Ele construirá esquemas resolutivos diversos contendo os prós e contra da proposta até chegar a uma conclusão. No entanto, os esquemas que elaborará serão de tal forma complexos e difíceis que se mostrarão demasiados pesados pelo retorno que darão. Por mais que pense em todos os meios para solucionar seu dilema, tem ainda a ideia consigo de que é conspiração do destino para que não consiga o que quer, azar, “coisa feita”.
Uma pessoa de nossa época, setembro de 2015, quando tiver um problema usualmente procurará entender como foi que ele ocorreu e a partir das prerrogativas do próprio problema tentará resolvê-lo. Um bom exemplo é o de pessoas que se atrapalham financeiramente e entendem que revendo seu orçamento, trabalhando mais, gastando menos irão resolver o seu problema, e de fato irão. Outro bom exemplo é do relacionamento que está ruim, cada um vê onde está errando e procura melhorar para que assim o relacionamento como um todo melhore. Pode-se dizer que entender as causas e a lógica do problema dê às pessoas a capacidade de resolvê-los. O nosso quase íntimo pai de família procurará ver como foi que surgiu a situação, verá o que tem que ser feito para resolver o seu problema, procurará na própria situação que vive a solução para ela. Pode-se dizer que, em nossa época, boa parte da mecanicidade está atrelada ao fato de que este pai buscará em sua situação a solução para ela.
Uma pessoa menos mecânica que os patamares de nossa época, quando tiver um problema, considerará o problema como algo que vai além do que vive no momento que está inserida e a partir de si própria enquanto história de vida. Assim pode ser considerado Gandhi, que ao liderar seu povo contra a Inglaterra fez algo simples, recomendou aos indianos voltarem a ser indianos. Como Jesus Cristo que ao ser perguntado sobre a moeda responde com simplicidade, mesmo a resposta parecendo um tanto mecânica ela não é resolvida a partir do problema, mas vai além dele. O caso de nosso personagem, o profissional que se tornou pai, ao ser menos mecânico ele começa a considerar sua vida como um todo e não apenas o momento que vive. Ao considerar a família, o filho, os avós, sua carreira e colocar a si mesmo enquanto história de vida pode fazer com que outros elementos, que até então estavam de fora, apareçam.


Solução para o caso exemplo

Independente do método utilizado para identificar o patamar autogênico é importante ter em conta se a questão a ser tratada é ou não de cunho autogênico. De acordo com a definição de Nunes; Pedrosa (2000) do Submodo Autogenia é “a organização orientada da EP, feita pelo filósofo clínico, via interseção, para que dê à pessoa um rumo mais recomendável”. Considerando a definição de Nunes; Pedrosa, para que uma questão possa ser considerada autogênica precisa ter como assunto último um trabalho que se dedique à organização ou reorganização da Estrutura de Pensamento da pessoa.
O caso que foi utilizado como exemplo que mostrou o choque entre a Razão (Tópico 10) e Interseção de EPs (Tópico 28) não tem como ser considerado um assunto de cunho autogênico. A questão, do modo como foi estruturada, apresenta um choque pontual entre dois tópicos e num acompanhamento filosófico clínico demandará encaminhamentos pontuais. Alguns, os mais dramáticos, perguntarão: “Mas isso não pode gerar um questão autogênica?” A resposta é simples: “Pode”. Mas aí teríamos uma condição diferenciada onde o choque entre dois tópicos produz efeitos capazes de tracionar toda a estrutura, o que é plenamente possível. Lembrando que para isso são necessárias condições ímpares, o que usualmente não acontece.
Como o problema de nosso profissional que se tornou pai não é autogênico, ele deverá ser resolvido no patamar que se encontrar. Se no caso ele se encontrar num patamar mais baixo que o patamar de nossa época, onde há amarrações linguísticas que indicam falta de saída, vizinhanças pesadas que mostram um caminho de difícil solução e mecanicidade que aponta o azar, falta de sorte e que será necessário muito esforço para que dê certo, é possível que ele opte por não aceitar a promoção. Ele pode ter utilizado como Submodo Esquema Resolutivo (Sub. 05) e o fim da equação mostrar que “não vale a pena” ser promovido. Neste caso, a Interseção de EP venceu e a Busca perdeu. É possível que ele veja no filho a frustração profissional, quase como a personificação de busca interrompida.
Num patamar como o de nossos dias, o nosso personagem provavelmente utilizaria também como Submodo o Esquema Resolutivo (Sub. 05), levantaria os prós e contras da proposta e tentaria, ao máximo, compor uma solução que lhe pudesse dar as duas coisas. Ao examinar a situação, perceber a possibilidade dos avós também irem para a cidade onde seria alocado, percebe então que é possível viver sua Busca. Mesmo que as condições sejam complicadas e que exija dele certo esforço para fazer dar certo, arrumar lugar para morar, a logística de levar os avós da criança, a adaptação da mulher e a sua na nova cidade. Neste caso, dos diversos possíveis, a Busca se sobressaiu conseguindo também manter as interseções.
Já num patamar mais elevado o profissional percebe que, no contexto que vive, a promoção que lhe foi dada veio em boa hora, pois ele gosta de dirigir e a cidade que fica a 150 km de distância pode ser um bom passeio diário. Assim, a interseção é mantida e a busca também ganha vazão, a conciliação faz com que Busca e Interseção sejam mantidas tal e qual estavam. Pode ser esquisito, mas o menos mecânico tende a observar de fora da caixa e pode perceber ainda outras formas de encaminhar a situação.
Em cada uma das soluções o resultado final pode ser diferente tanto pelo tópico que é atendido, tanto pelo Submodo que é utilizado para encaminhar a situação. O exemplo é apenas uma ilustração de que um caso não autogênico deve ser resolvido no patamar que está de acordo com os submodos que a historicidade da pessoa sugere.

Rosemiro A. Sefstrom


Nenhum comentário:

Postar um comentário