Aurtogenia
– Resumo II
O
termo faz alusão ao Tópico 30 da EP como ao submodo 27. Como Estrutura de
Pensamento, informa como a pessoa está estruturada, como os tópicos estão
inter-relacionados; vê se há choques, se um tópico reforça ou anula outro.
Segundo Packter, Autogenia “é o que dará ao clínico, em interseção, a
oportunidade de entender o relacionamento funcional do que ocorre à EP da
pessoa”. A EP é constituída de dados sensoriais, abstratos, espirituais, etc.
Os exames de Autogenia nos mostrarão como isso ocorre. (NUNES; PEDROSA, 2000,
p. 19)
Quando
o terapeuta preenche todos os tópicos da Estrutura do Pensamento, caso a pessoa
tenha, com os dados de sua historicidade chega a hora de ver como se dá a
relação entre estes conteúdos e a resultante destas relações. O resultados
destas relações é conhecido como Autogenia. A análise autogênica pode mostrar
ao filósofo elementos como: tópico determinante ou determinantes, tópicos
importantes, tópico fraco ou fracos, choques entre e intra-tópicos, inadequação
tópica, etc. O estudo autogênico diz ao filósofo como essa estrutura está
enquanto dinâmica interna.
Quando
o terapeuta finda a montagem da Estrutura de Pensamento ao analisar a Autogenia
da estrutura, percebe que existe um tópico ou alguns tópicos que conseguem
direcionar toda a estrutura. Estes tópicos são considerados como tópicos
determinantes. Essa consideração não se deve ao fato de que o conteúdo do
tópico está mais presente na historicidade ou que a pessoa dá mais evidência. O
que diz se um tópico é ou não determinante à estrutura, é sua participação nos
direcionamentos existenciais de toda a estrutura. Assim se, por exemplo, o
Tópico 11 – Busca, for o tópico determinante é ele provavelmente quem diz para
onde toda a estrutura se direcionará. Caso a pessoa tenha como busca construir
uma carreira de sucesso, e essa busca for determinante, a pessoa tende a tomar
suas decisões, orientar suas escolhas em prol de atender às demandas geradas
pelas buscas.
Diferente
do tópico determinante, temos os tópicos importantes, são tópicos que tem papel
secundário na estrutura enquanto indivíduos, mas quando unidos a outros tópicos
podem se tornar determinantes. Assim, se para uma pessoa que tem como busca a
carreira profissional e isto lhe é determinante, os tópicos importantes como,
por exemplo, Tópico 28 – Interseção de Estruturas de Pensamento, são levados em
conta nas decisões a serem tomadas diante da busca. É assim que se constroem
alguns choques entre tópicos, se a Busca é determinante, mas vai contra
Interseção de EPs que é um tópico importante, pode acontecer que a pessoa não
tenha certeza se seguir carreira seria mesmo a melhor decisão.
Para
exemplificar, um pai de família que ao longo de sua vida teve a carreira como
prioridade, inclusive o casamento colaborou para ascensão na carreira. No
entanto, com um ano de casado nasceu o primeiro filho, agora veio a decisão da
organização de que ele seria promovido, mas que teria de mudar de cidade. A
carreira (tópico Busca) determinante diz que ele deve seguir seu caminho, mas o
filho e a boa interseção (Tópico Interseção de EPs) que tem com ele dizem que
não será uma boa por conta da proximidade com os avós que o menino tem. É assim
que, em muitos casos, o profissional tem um choque interno entre Busca e
Interseção de EPs.
O
tópico fraco, por sua vez, é o tópico em que fica evidente que a Estrutura de
Pensamento passa por dificuldades. Este tópico pode ser comparado aos sintomas
de uma doença, a dor ou desconforto que não é a doença em si, mas o veículo
pelo qual a doença se manifesta. Mesmo que em alguns casos os sintomas sejam a
própria doença. Para exemplificar, voltando ao profissional que se tornou pai e
agora passa por um choque entre os tópicos Busca e Interseção de Estrutura de
Pensamento, agora o resultado deste choque é ansiedade. Este profissional teve
como resultado do choque entre os tópicos uma alteração no Tópico 04 – Emoções.
Assim, o tópico emoções é o tópico fraco ou predisponente, ao menos neste caso.
Cada estrutura tem um ou mais tópicos onde podem se manifestar como sintomas de
dificuldades que a estrutura vive.
Seguindo
o estudo da Estrutura de Pensamento o terapeuta identificará o patamar
autogênico da pessoa. O patamar autogênico corresponde ao modo como os tópicos
se relacionam entre si e o que deles resulta como um todo de acordo com o
contexto que este indivíduo está inserido. Enquanto autogenia os Exames das
Categorias não tem participação direta, mas servem como parâmetro externo de
indicação. Desta forma ao observar como é o mundo que cerca a pessoa de acordo
com os elementos categoriais, sejam eles: assunto, circunstância, tempo, lugar
e relação, são eles os parâmetros contextualizados de localização. A partir
destes contextos, é possível observar que por mais singular que uma pessoa
seja, autogenicamente ela pode fazer par com outros seres. Sua singularidade,
de acordo com a forma como está estruturada participa de contextos específicos
com outros seres que tem estruturas similares. Para exemplificar seguem dois
modos básicos de identificação de patamar autogênico.
01 - Identificação de patamar via linguagem
Pessoas
em patamares mais baixos demonstram, via linguagem, amarrações que mostram
falta de opção diante das circunstâncias que estão. Para estas pessoas o mundo
é mau, um lugar ruim, colocam-se diante da realidade como reféns, o que podem
fazer é apenas seguir o caminho e rezar para que não aconteça o pior. Seguindo
o mesmo exemplo do profissional que se tornou pai e tem uma proposta de
mudar-se para o exterior. Se ele estiver em patamares mais baixos ele utilizará
expressões como: estou num beco sem saída, não tenho como deixar a empresa na
mão, estou entre a cruz e a espada, não vejo luz no fim do túnel, etc..
Pessoas
em patamares comuns de nossa época, setembro de 2015, demonstram via linguagem,
buscar alternativas às circunstâncias que se encontram. Assim, há o
entendimento de que é a pessoa quem tem que fazer a sua parte e buscar
alternativas, achar uma saída. O mesmo pai, agora em situação de patamar mais
elevado utilizaria expressões como: temos que pesar os pró e contra desta
proposta, temos de ver a viabilidade, perder a oportunidade pode ser igual a
perder o emprego, tenho que conversar com alguém que entende minha situação,
etc..
Pessoas
em patamares mais elevados, demonstram linguisticamente despreocupação com os
elementos circunstanciais que vivem, entendendo que o próprio movimento dos
elementos encaminhará as soluções para o que se apresenta. Este pai, por fim,
num patamar ainda mais elevado utilizará expressões como: veio em boa hora,
deve ser obra do destino, é a realização de um sonho, sorte, etc..
No
entanto, em alguns casos, a pessoa via linguagem demonstra estar em um patamar
autogênico, mas está de fato em outro. Um bom exemplo para isto são pessoas que
adquirem hábitos linguísticos religiosos e usam termos como: graça, providência
divina, bênçãos, etc. Termos como estes denotam elevado estágio autogênico,
pois indicam que a pessoa vive de maneira mais leve, toca a sua vida e deixa
que as coisas se encaminhem. Mas não é bem assim que se verifica na
historicidade como um todo, esta pessoa pode estar abaixo do patamar autogênico
dos tempos atuais. O Deus do qual ela fala que vem a graça ou a providência é
um Deus malvado, que pune quem erra, que castiga o pecador, um Deus, inclusive,
com o qual ela negocia. A forma como a pessoa se relaciona com o objeto da
linguagem, ou seja, a maneira como o objeto linguístico é vivido enquanto
vizinho mostra que a análise linguística por si só pode ser enganosa.
O
contrário também é verdadeiro, algumas pessoas tem uma linguagem que denota um
mundo hostil, pesado, difícil, indicando baixos patamares autogênicos. No
entanto a forma como elas lidam com as dificuldades que a vida lhes apresenta
mostra que seu patamar é mais elevado. É o exemplo de quem fala das amarras da
economia, das dificuldades de se livrar da pesada carga tributária brasileira, da
educação pública que não tem mais jeito, da religião que virou comercio, não há
saída. Esta mesma pessoa no seu dia-a-dia trabalha, paga suas contas, tem um
dinheirinho guardado, participa como voluntário na escola. A linguagem denota
um patamar e a análise por vizinhança demonstra um patamar diferente.
02 - Identificação via vizinhança
Outra
forma de se identificar o patamar autogênico de uma estrutura de pensamento é
pelas vizinhanças que ela tem. Um vizinho de uma estrutura é todo e qualquer
elemento que esteja ligado à estrutura via intencionalidade. Todo elemento que
está próximo da estrutura só estará se houver intencionalidade direcionada a
ele. Exemplo, você sai pela sua casa e observa diversas coisas que estão ao seu
redor, ao quê você prestou atenção? A todos os elementos que você descrever que
percebeu são eles seus vizinhos. Os que antes você não percebeu e agora passa a
prestar atenção e passa a perceber, são estes também agora seus vizinhos.
Ao
direcionar então a atenção para um sentimento de amor que se tem pela esposa a
pessoa torna o sentimento de amor seu vizinho. No entanto, não é assim tão
simples, muitos podem alegar que os pensamentos vêm à cabeça sem qualquer
controle, que não se pode controlar o pensamento. Isto acontece porque ao longo
da vida a pessoa não aprendeu a controlar o pensamento e ele traz a ideia que
quer, isto faz com que a pessoa tenha pouco ou nenhum controle sobre os
vizinhos que vem do pensamento. Outras pessoas não educaram seus sentidos e tem
poucas vivências sensoriais, pessoas assim podem tomar um bom vinho e não
sentir o aroma, se quer o sabor. Por isso que para ter algo como vizinho é
necessário nossa atenção sobre ele, tudo o que não tiver nossa atenção não será
nosso vizinho.
Outro erro
que se comete com bastante frequência é não querer um vizinho e, justamente por
isso, tornar o elemento vizinho. Isto acontece porque a pessoa quando não quer
algo se aproxima tentando afastar. É como alguém que não quer pensar nas
palavras duras do pai e tenta esquecer, tentar esquecer destas palavras faz
delas vizinhas, pois se dedica a elas como negação. O mesmo pode acontecer com
uma pessoa que se quer evitar, querer evitar a
pessoa faz com que se pense nela, onde ela poderia estar, o que ela
pensa, o que fazer se encontrar a pessoa. Todos os comportamentos são
intencionalidade que tornam a pessoa um vizinhos.
Quanto
aos vizinhos, outra questão a se considerar é se o vizinho é ou não adequado à
pessoa. Somente uma pesquisa bem feita na historicidade da pessoa indica quais
são os vizinhos que historicamente fazem bem ou mal à pessoa. Além de serem
bons ou maus à estrutura de pensamento, o filósofo fará ainda outras
considerações como o efeito que cada vizinho tem, como motivação, retração,
expansão, enfim, como cada elemento interfere na estrutura quando se torna
vizinho. Algo que pode acontecer, apenas para elencar mais uma das tantas
possibilidades, é que alguns elementos, para se tornarem vizinhos, precisam de
outros. Pode ser assim considerado quando um homem precisa de um filho para ter
como seu vizinho momentos de lazer.
Dos
tantos patamares possíveis, considerados a partir dos elementos de nossa época,
consideraremos apenas três. Um patamar mais baixo que o de nossa época, o nosso
patamar e um patamar superior de acordo com o critério de vizinhança.
Pessoas
em patamares mais baixos tem em suas vizinhanças elementos com os quais a
relação é pesada, sofrida, difícil. Para estes a relação se dá por propriedade.
Há, portanto, uma relação na qual o elemento pertence ao sujeito, como uma
bicicleta, um carro, uma casa. O elemento está e vizinho por pertença, como um
pai que tem o filho como uma propriedade sua, que deve fazer o que ele entende
que seja melhor. Vizinhos assim usualmente tornam a vida muito mecânica, pela
necessidade de gestão de todos os vizinhos que estão em relação com a estrutura
do sujeito.
Pessoas
em patamares comuns de nossa época, setembro de 2015, tem como vizinhos
elementos que estão acima e abaixo deste patamar. Desta forma, é possível ter
contato com vizinhos muito elevados como anjo, mas também é possível ter
contatos com níveis muito mais baixos, a violência. Os vizinhos neste patamar
são normalmente tidos como posse, ou seja, como elementos que me dizem respeito
pela posição que a pessoa ocupa em relação ao objeto. Assim como o pai que
possui o filho e entende que quando ele sai de casa para se casar perde a
posse, outorgando à esposa a posse do filho. Diferente da propriedade, a posse
você pode ter ou não, já a propriedade é intrínseca ao sujeito. Como a liquidez
é uma das propriedades da água, para alguns pais, os filhos são sua
propriedade, não podendo ser separados de si.
Pessoas
de patamares mais elevados tem como vizinhos elementos com os quais as relações
se dão por afinidade. Para estes os objetos sobre os quais direcionam sua
intencionalidade são tidos como elementos com os quais fazem par, ou seja,
entendem que caracteres afins fazem com que esteja próximos. Seria o caso do
pai que está em relação com o filho conversando sobre a escola, sobre os jogos
de futebol, que são elementos de afinidade. No entanto, o pai percebe que aos
poucos o filho se distancia e conversa mais com seus amigos, com sua namorada e
entende que este é o caminho do filho. Percebe que, pela falta de afinidades,
aos poucos o filho se afastou e que em certo momento ele pode voltar a se
aproximar pelo surgimento de outros elementos que os tornem afins.
Lembro
que este escrito é apenas um resumo, pode-se dizer que a estruturação didática
de uma série de conteúdos aprendidos ao longo dos anos em aulas e cursos com o
professor Lúcio Packter, a quem atribuo a autoria do que acima organizei.
Rosemiro A. Sefstrom