Há alguns dias conversava
com uma pessoa quando ela citou-me Fernando Pessoa, dizendo uma de suas
célebres frases: “Navegar é preciso; viver não é preciso”. Por muito tempo me
detive no poema e pensava que o autor dizia, como fala na frase logo abaixo do
poema que viver não é necessário, mas criar. No entanto, neste dia, a pessoa
com quem conversava se referiu a um outro sentido para a mesma frase. O que
mais achei interessante foi que não foi necessário mudar se quer uma palavra
para darmos um sentido totalmente novo a frase. Apenas trocarmos o preciso de
necessidade, ou seja, aquilo que precisamos para alguma coisa por objeto de uso
para preciso de precisão. Assim, o preciso que era necessidade se torna o
preciso de acerto, metodologia que garante um resultado.
Depois dessa troca de
significado da palavra começamos a divagar a respeito da precisão da navegação
e da vida. Para isso perguntei-lhe se a vida não era precisa, ou seja, exata.
Ao que me respondeu com um grande sorriso: “Não, como poderia, a vida é cheia
de inexatidões, voltas e revoltas!” No entanto a mesma pessoa que se referia a
vida de uma maneira tão aberta, livre era a mesma que pensava e vivia muitas
verdades lineares.
Junto com ela muitas
outras pessoas pensam na vida como um lugar de liberdade e escolhas, mas na
realidade fazem da vida uma encenação onde palco e roteiro já estão definidos. Algumas
vezes ouvi o discurso que se segue como testemunho de um roteiro: “Com tantos
anos iniciei minha vida escolar, portanto, quando eu tiver com tantos anos devo
estar na faculdade e assim, com tantos anos devo ter o mestrado. Bom, não posso
esquecer da vida pessoal. Quando estiver na faculdade vou arrumar uma namorada
(o) e provavelmente logo depois da formatura faremos o casamento. Dois anos de
casado teremos filhos e organizaremos o planejamento de como será nossa
velhice...”
Não há problema nenhum em
planejar, orientar a própria vida ou até mesmo esquadrinhar as possibilidades
de futuro, mas tornar-se refém de um planejamento... para a navegação a
precisão é o que garante o destino correto. Mas, quanto a nossa vida, temos
como garantir que nossa bússola aponta para a direção certa? Não temos nenhuma
dúvida? Não há a possibilidade de errarmos no caminho? Não são poucas as pessoas
que nos dias atuais sofrem porque não são o que planejaram ser, mas nunca
pensaram se não são o que deveriam ser. Será que não estamos no lugar e na hora
em que deveríamos estar?
A precisão matemática é
importante para lidarmos com números, proporções, economia, geografia, mas na
vida...
Rosemiro A. Sefstrom
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