Suicídio
Já estive envolvido em
muitas conversas sobre suicídio, na maior parte delas surge uma pessoa que
afirma: “A pessoa que se suicida, nada mais quer do que matar alguma coisa em
si”. Para quem diz isto, o suicida na verdade quer apenas se desfazer de algo
em si mesmo. No entanto, como o ser humano é um todo e não há a possibilidade
de separar apenas a parte que a pessoa não suporta mais, o suicídio acontece. Estas
pessoas, por não saberem como matar, ou seja, retirar de si aquilo que as aflige,
acabam por retirar a vida corporal.
Em Filosofia Clínica, o
entendimento é de que o ser humano é um todo, mas este todo é constituído de
partes, algumas mais e outras menos divisíveis. Quando um filósofo clínico
interage com uma pessoa no consultório ele a observa como um todo, ou seja,
como uma pessoa que lhe procurou. Mas, ao longo do processo ele coleta a
história de vida da pessoa e com esta história monta o que chamamos de
Estrutura de Pensamento. Esta estrutura nada mais é do que o conteúdo da
história compartimentado segundo sua peculiaridade. Desse modo, o que a pessoa
diz de si mesmo é o tópico 02. O que a pessoa disser no consultório a respeito
de medo, amor, ódio, alegria, etc., são conteúdos, por exemplo que serão
categorizados por emoções.
A montagem a Estrutura
de Pensamento leva em conta trinta tópicos, ou seja, trinta identidades
diferentes que o conteúdo da história de vida da pessoa pode ter. Esses trinta
tópicos podem estar em relação harmoniosa, quando a pessoa sente-se bem, vive
um bem estar subjetivo. Mas, estes conteúdos também podem estar em choque e
quando isso acontece diz-se que há choque entre tópicos. Seria o caso de uma
pessoa que tem medos terríveis de ficar sozinha, mas não consegue manter o
casamento. O mal estar subjetivo vai ser
mais ou menos evidente de acordo com cada pessoa, algumas podem estar morrendo
por dentro, mas nem a pessoa mais próxima perceberá.
Quando dois tópicos
entram em choque, em algum tópico da Estrutura de Pensamento a pressão
aparecerá. O exemplo mais corriqueiro é aquele em que o empresário tem uma
série de decisões para tomar, mas não sabe se o resultado será bom ou ruim à
empresa. Isso o incomoda por alguns dias e logo lhe aparecem aftas na boca, outros
têm gastrite, alguns emagrecem e assim será diferente para cada pessoa. No
exemplo acima, o choque entre dois tópicos causou uma pressão nas sensações que
apareceram em forma de afta, gastrite ou emagrecimento.
Retomando o caso do
suicídio, agora conhecendo um pouco mais de Filosofia Clinica, a pessoa pode
sim, querer tirar apenas uma parte dela e por isso acaba tirando a própria
vida. Mas, assim como um cirurgião corta e retira do corpo um nódulo, também é
possível que o filósofo ao longo de um trabalho terapêutico retire da pessoa
aquilo que tanto lhe faz mal. Para algumas pessoas, a terapia parece não ser a
solução para o seu problema, mas pedir ajuda, significa entender que muitas vezes
na vida é preciso caminhar acompanhado.
Tudo o que está escrito
acima sobre o suicídio é apenas uma das possibilidades, faço questão de deixar
claro que não existem duas pessoas iguais. Para muitas pessoas, o suicídio será
totalmente diferente do que está acima, podemos lembrar o caso de Getúlio
Vargas que em carta deixou registrado o que foi o suicídio para ele: “Eu
vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou
o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na
história.”
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