Tudo
de novo!
Em minhas consultas
como Filósofo Clínico, já ouvi algumas pessoas usarem a expressão: “Tempo bom
que não volta mais!” Estas pessoas usaram esta expressão para denotar a falta
de algo que ficou no passado e não pode mais ser recuperado. Existem ainda
aquelas que dizem: “Não sei onde deixei meus sonhos, em algum lugar pelo
caminho, mas não sei onde”. Outras pessoas pedem: “Gostaria de retomar quem eu
era, uma pessoa alegre, extrovertida, que via o mundo como um grande desafio”.
Palavras como estas e muitas outras denotam que estas pessoas têm um ponto,
algo que dizem ter perdido, ou que apenas lhes resta alguns dados. Quando
pessoas que têm este tipo de queixa vêm ao consultório, uma das coisas que
pode-se fazer por elas é a reconstrução.
Reconstrução é um procedimento
simples, muitas pessoas fazem isso instintivamente e nem se dão por conta. Como
aquelas que se sentam no num café pela manhã e ao ver uma criança com a bola na
mão começam a dizer: ”No meu tempo a bola era totalmente diferente, as roupas,
até mesmo o campinho em que essa garotada joga é totalmente diferente do
nosso”. Cada um dos aspectos que ela descrever a partir da imagem do menino com
a bola na mão é uma reconstrução. Outro exemplo para ilustrar a questão é o
marido que se senta ao lado da esposa e ao pegar a taça de vinho lembra de
quando os dois eram namorados. A partir dessa lembrança, ambos começam a
acrescentar dados até que a memória seja tão forte que não precisem mais ajudar
um ao outro, a memória estará viva na cabeça de cada um. O importante é
perceber que se parte de um pequeno ponto, uma fração e se vai em direção às
questões circunvizinhas. Como em um quebra cabeça, onde partimos de uma pequena
peça. Talvez no início seja difícil, mas depois de certo tempo fica fácil pois
temos claramente a figura as cores, contextos.
Agora que o conceito
ficou claro é possível verificar algumas questões ligadas ao processo de
reconstrução, como os conteúdos que reconstruímos. De milhares de exemplos que
poderiam ser dados, os exemplos ligados aos casamentos são os que mais me
chamam atenção, assim como os das empresas. Algumas pessoas quando fazem a
reconstrução de alguma coisa, são tão bons no que fazem que reconstroem
exatamente como era, até com os mesmos defeitos. Como aquele homem que se
separa da esposa devido à sua falta de atenção com a companheira, falta de
fidelidade e compromisso exagerado com o trabalho. Lá, em certo ponto da vida a
esposa pede o divórcio, ele se diz arrependido e quer começar de novo, quer
reconstruir a vida. Em algum tempo encontra outra companheira e começa a
reconstrução de sua vida a dois, em poucos meses está tudo de pé outra vez. No
entanto, tão bem reconstruído que ele refaz os mesmos comportamentos com essa
nova companheira, que o leva a uma nova separação e assim por diante. Outro
lugar muito comum de reconstruções mal feitas são nas empresas, espaços onde
alguns reconstroem sempre e exatamente o mesmo modelo. Enquanto ele funcionar,
tudo bem, mas quando ele começa a falhar, provavelmente falhará em todos os
lugares, uma vez que é sempre igual.
Mas onde vamos
conseguir os dados para fazer uma reconstrução, onde estará o material
necessário para refazermos o que não existe mais? A fonte de materiais para a
reconstrução é a história de cada um, é lá onde encontramos os elementos que
faziam parte daquela memória perdida. Assim, é importante que saibamos colocar
os dados de uma reconstrução de acordo com a estrutura da pessoa. Usando uma
analogia, se não levarmos em conta a história da pessoa é como se, ao
reformarmos uma casa colocássemos mais peso do que a estrutura agüenta.
Provavelmente ela irá ruir. O alerta é
para que, ao fazer o processo de reconstrução, procuremos coisas boas a serem
reconstruídas, refeitas. Leia mais em www.filosofiaclinicasc.com.br
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