Tudo é remédio!
Numa das aulas de Filosofia
Clínica, um dos alunos perguntou se um filósofo clínico pode receitar
medicamentos. O professor disse que não e que aos filósofos clínicos é vetada a
possibilidade de medicar. Também foi
perguntado se a Filosofia Clínica é a favor do placebo, ou seja, de se dar um
medicamento que não contém o princípio ativo, um comprimido de farinha. O
professor disse à turma que tudo é medicamento, ou seja, qualquer que seja a
composição do que está sendo prescrito é fármaco. Tanto um quando o outro tem
efeitos colaterais, agem dentro da proposta caso sejam aplicados da maneira
correta e inclusive, curam.
Segundo o conceito dos
dicionários, fármaco vem de uma palavra grega phárn, que tanto serve para designar veneno quanto remédio. Segundo
o conhecimento atual, um fármaco é composto de estrutura química bem definida com
propriedades medicinais. Há ainda o problema de definição se pensado no
conceito vindo da língua inglesa drug,
que era a nomenclatura utilizada para dar sentido às drogas lícitas. Nos
últimos anos, essa nomenclatura ficou como forma de nomear as drogas ilícitas e
fármaco para compostos que tenham fins medicinais.
Já o placebo é uma palavra que
deriva do latim placere, com um
significado de agradarei. Para a medicina o placebo é entendido como um fármaco
ou procedimento sem sentido clínico, que apresenta efeitos fisiológicos em
virtude da crença do paciente. O efeito placebo é muito utilizado no teste de
novos medicamentos, pesquisas nas quais uma série de pessoas escolhidas
consumirá o novo medicamento. Entre estas pessoas existe uma porcentagem que
estará consumindo placebo, somente assim os pesquisadores conseguirão medir a
eficácia do novo medicamento.
Então, segundo os conceitos
acima, tanto o fármaco quando o placebo tem efeito fisiológico. Mas muito mais
do que isso é a real questão: muitos medicamentos e os chamados placebos têm
efeito psicológico. Muitas pessoas que procuram hospitais, clínicas e terapias,
precisam do medicamento, mas não pelo composto que tem naquelas pílulas e sim
pelo que elas representam. Como pessoas que passaram por momentos muito
difíceis, e, quando medicadas o medicamento não é um composto químico, mas o
símbolo de acreditar em si mesma. Algumas pessoas dizem a si mesmas com os
medicamentos: “Eu vou conseguir”. O medicamento diz a ela o que nenhum
terapeuta conseguiria garantir, ou seja, sua melhora.
O entendimento da Filosofia
Clínica é que tudo é remédio, o nome é apenas uma maneira de diferenciar um
artifício “não científico”. Pergunte-se: se você chegar em casa hoje, abrir a garrafa
de um bom vinho, sentar-se na sala com a esposa e degustar demoradamente o
vinho enquanto diz que a ama, isso é placebo ou remédio? Se ao fazer isso você
começa a remediar o relacionamento que estava já adoecido, parece que um bom
vinho e a conversa são remédios. Se depois de algumas seções com o terapeuta
ele prescreve boa música, bons filmes, segundo o que o terapeuta conhece de seu
partilhante, este é o remédio de que precisa.
Se o entendimento da vida for
mais amplo, pode-se perceber que um bom café da manhã é um remédio contra
vários males. Será possível entender que a varinha que a mãe tinha atrás da
porta não era placebo, era um remédio na educação dos filhos. Abrir os olhos ao
que faz bem e usar disso pode ser a maneira mais eficaz e sem contra indicação
de se medicar. Para alguns, por exemplo, o exercício do perdão é o remédio que
falta para ter uma vida melhor.
Rosemiro
A. Sefstrom
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