Encontro Nacional

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sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Viver fora da caixa!

Uma das perguntas comumente ouvidas num consultório é: “Doutor, isso é normal?” A pessoa que faz esta pergunta o faz para que alguém, no caso o terapeuta, possa lhe dizer se ela está ou não dentro dos padrões. O padrão é uma medida associada ao que está ao se redor, por exemplo, hoje é um padrão pagar pelo trabalho de alguém, quem não o faz está cometendo um crime, salvo as exceções para este exemplo. Entretanto, há pouco mais de cem anos o padrão era comprar alguém que fazia os trabalhos de uma casa, ou seja, era padrão ter escravos em casa. O padrão é portanto uma medida que toma por base o que tem ao seu redor. O padrão serve muito bem para questões práticas, para calcular o valor de um carro, para saber se o salário é adequado, para ver se o espaço de moradia está de acordo com a região onde se mora. Mas medir uma pessoa aquilo que há ao seu redor é a pior forma de se fazer isso.
Diferente de um carro, o salário e até mesmo a moradia, uma pessoa apresenta estruturas totalmente diferentes, únicas. Padronizar o ser humano é como pegar os galhos das árvores de uma floresta e querer que todos sejam iguais. Pior do que isso, fazer com que aqueles que não estão dentro do desejado sejam cortados e jogados fora como algo sem valor. Assim como as árvores, cada ser humano tem uma forma única de se estruturar, e essa estrutura tem diferentes formas de se manifestar. Muitas pessoas, por medo, por necessidade ou por conveniência, se mostram como os outros querem que elas sejam vistas. Assim é para a menina que aos seus quinze anos reúne os amigos e faz um lindo baile de debutantes, quando esse padrão nada tem a ver com ela. Infelizmente para a sociedade ela sente que precisa se homogeneizar, ter uma aparência que se espera dela, namorar um namorado que dizem ser o melhor, enfim, ser normal.
A estrutura de uma pessoa, assim como de uma casa ou as raízes de uma árvore têm um formato, suportam um peso diferente. Para uns a base é sua emoção, tudo o que vivem é suportado pelas emoções, são as alegrias, tristezas, ódios, amores, que as fazem suportar a vida ou viver. Em outras pessoas é a razão a base que sustenta toda essa estrutura: suas contas, porquês e lógicas aguentam o prédio que está em cima. Acima do alicerce há toda uma construção que se apóia nesta base, sendo que, para algumas pessoas, a estrutura padronizada é pesada demais para sua base. Pode-se citar o exemplo do filme “Na natureza selvagem”, onde o rapaz tinha a base de sua estrutura na sua identidade. A vida padronizada se fez tão pesada que a base não agüentou e ele perdeu a referência até de si mesmo, ou seja, não sabia mais quem ele era.
Há um exército de seres humanos tratados como máquinas que não suportam a estrutura padronizada que está sobre suas bases. Cada um ao longo da vida deveria construir sua estrutura de acordo com a base que tem, isso seria o recomendável. Em busca da normalidade, algumas pessoas constroem pirâmides que nada têm a ver consigo, mas com o que o padrão recomenda. Padrão este que tem cor certa, roupa certa, música certa, casamento certo, filhos certos, enfim, que acaba por normatizar via Inmetro um ser único. Não há como pregar normalidade quando o próprio padrão está mais próximo da doença.
O seu jeito de ser, as bases sobre as quais você construiu a sua vida indicam como pode ser a estrutura que será edificada. O padrão pode ser um guia, pode ser uma medida de comparação, mas não uma medida de construção. Você é uma pessoa completamente diferente de qualquer outra, isso porque a sua estrutura é única e por mais que se tente encaixotá-la, ela sempre mostrará que não é possível viver na caixa.


Rosemiro A. Sefstrom

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