Viver fora da caixa!
Uma das perguntas comumente
ouvidas num consultório é: “Doutor, isso é normal?” A pessoa que faz esta
pergunta o faz para que alguém, no caso o terapeuta, possa lhe dizer se ela
está ou não dentro dos padrões. O padrão é uma medida associada ao que está ao
se redor, por exemplo, hoje é um padrão pagar pelo trabalho de alguém, quem não
o faz está cometendo um crime, salvo as exceções para este exemplo. Entretanto,
há pouco mais de cem anos o padrão era comprar alguém que fazia os trabalhos de
uma casa, ou seja, era padrão ter escravos em casa. O padrão é portanto uma
medida que toma por base o que tem ao seu redor. O padrão serve muito bem para
questões práticas, para calcular o valor de um carro, para saber se o salário é
adequado, para ver se o espaço de moradia está de acordo com a região onde se
mora. Mas medir uma pessoa aquilo que há ao seu redor é a pior forma de se
fazer isso.
Diferente de um carro,
o salário e até mesmo a moradia, uma pessoa apresenta estruturas totalmente
diferentes, únicas. Padronizar o ser humano é como pegar os galhos das árvores
de uma floresta e querer que todos sejam iguais. Pior do que isso, fazer com
que aqueles que não estão dentro do desejado sejam cortados e jogados fora como
algo sem valor. Assim como as árvores, cada ser humano tem uma forma única de
se estruturar, e essa estrutura tem diferentes formas de se manifestar. Muitas pessoas,
por medo, por necessidade ou por conveniência, se mostram como os outros querem
que elas sejam vistas. Assim é para a menina que aos seus quinze anos reúne os
amigos e faz um lindo baile de debutantes, quando esse padrão nada tem a ver
com ela. Infelizmente para a sociedade ela sente que precisa se homogeneizar,
ter uma aparência que se espera dela, namorar um namorado que dizem ser o
melhor, enfim, ser normal.
A estrutura de uma
pessoa, assim como de uma casa ou as raízes de uma árvore têm um formato,
suportam um peso diferente. Para uns a base é sua emoção, tudo o que vivem é
suportado pelas emoções, são as alegrias, tristezas, ódios, amores, que as
fazem suportar a vida ou viver. Em outras pessoas é a razão a base que sustenta
toda essa estrutura: suas contas, porquês e lógicas aguentam o prédio que está
em cima. Acima do alicerce há toda uma construção que se apóia nesta base, sendo
que, para algumas pessoas, a estrutura padronizada é pesada demais para sua
base. Pode-se citar o exemplo do filme “Na natureza selvagem”, onde o rapaz
tinha a base de sua estrutura na sua identidade. A vida padronizada se fez tão
pesada que a base não agüentou e ele perdeu a referência até de si mesmo, ou
seja, não sabia mais quem ele era.
Há um exército de seres
humanos tratados como máquinas que não suportam a estrutura padronizada que
está sobre suas bases. Cada um ao longo da vida deveria construir sua estrutura
de acordo com a base que tem, isso seria o recomendável. Em busca da
normalidade, algumas pessoas constroem pirâmides que nada têm a ver consigo,
mas com o que o padrão recomenda. Padrão este que tem cor certa, roupa certa, música
certa, casamento certo, filhos certos, enfim, que acaba por normatizar via
Inmetro um ser único. Não há como pregar normalidade quando o próprio padrão
está mais próximo da doença.
O seu jeito de ser, as
bases sobre as quais você construiu a sua vida indicam como pode ser a
estrutura que será edificada. O padrão pode ser um guia, pode ser uma medida de
comparação, mas não uma medida de construção. Você é uma pessoa completamente
diferente de qualquer outra, isso porque a sua estrutura é única e por mais que
se tente encaixotá-la, ela sempre mostrará que não é possível viver na caixa.
Rosemiro A. Sefstrom
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