Dói mais em
mim do que em você!
Acredito
que muitos já ouviram esta frase. Quando eu era pequeno, tinha como referência
meu pai e minha mãe, tanto um quanto o outro procuraram corrigir ou orientar os
meus modos. Engraçado, há muito tempo que não me lembrava da palavra modos.
Quando criança, de vez em quando escutava: “Olha os modos”. Durante o processo
educativo eu, assim como muitas outras crianças não tende a passar o dia
fazendo tarefas do lar, mas com certeza faz de tudo por uma tarde brincando com
os amigos. Essa vontade de ir brincar, por vezes brincadeiras inconseqüentes,
era solenemente vetada com um não categórico, ao que geralmente se perguntava:
“Mas por que não?” Minha mãe dizia: “Por que não”.
Com oito,
dez anos, as respostas rápidas e nada explicativas de minha mãe pareciam apenas
falta de vontade de deixar. Olhava para ela e pensava que poderia, quem sabe,
argumentar, dizer que se fossemos faríamos isso ou aquilo, mas o não falava
muito mais alto. Algumas vezes, como não era de ferro, acabava por desobedecer
e quando ela menos esperava já estava na rua brincando. Pela desobediência
recebia o velho e pedagógico puxão de orelhas, quando a “arte” era um pouco
mais grave, umas palmadas e somente para aquelas muito graves, a cinta. Nunca
entendi direito a escala de “arte” média, leve e grave, provavelmente a mãe deveria
saber, pois a cada pouco estava cometendo alguma delas e sendo corrigido.
Quando me
tornei homem, proprietário do meu próprio nariz, tornei-me dono daquilo que
todos acham que tem em quantidade e qualidade o suficiente: o bom senso. Nesse
momento comecei a tomar as minhas próprias decisões, comecei a errar e, agora,
não havia mais o puxão de orelhas, a palmada ou cinta, tão temida. Agora os
agentes corretivos são outros: para as minhas artes financeiras tem a Receita
Federal, para as minhas artes contra os outros há a Polícia e assim por diante.
Há muitas pequenas artes que não tive o privilégio de fazer, e fico muito feliz
por não tê-las feito, não me fez falta. Mas, diferente de muitos que se
identificaram até aqui, que ouviram os conselhos dos pais e se tornaram pessoas
educadas, há muitos que não entenderam nada do que os pais disseram.
Para muitas
pessoas, o aprendizado, chamado epistemologia em Filosofia Clinica, só acontece
pelo tópico 02. Estas pessoas precisam viver na própria carne para poderem
aprender. Algumas dessas aprendem que é errado mexer no que não é seu só após
serem duramente castigadas, caso contrário, continuam fazendo. É por isso que,
muitas vezes, o pai castiga em casa, para que outros não precisem fazê-lo. Não
há nenhum tipo de apologia à violência, mas a atitude educativa dos pais diante
de um filho. Infelizmente, muitas vezes minha mãe queria me deixar ir brincar,
mas sabia que a torturante tarefa de matemática me faria bem no futuro.
Em muitos
casos ser pai não é nada fácil, sofrer com um filho que precisa aprender
sofrendo, é, para muitos pais, sofrer junto. Quando o pai se coloca no lugar do
filho, o sofrimento desse filho se torna tão real para o pai quanto para o
filho. É interessante, primeiro sofre-se como filho até ser enquadrado
socialmente, depois pode-se sofrer como pai tentando enquadrar os filhos.
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