Quanto vale uma vida?
Antes de qualquer
resposta a priori é necessário entender que não há uma medida de valor que
possa quantificar uma vida. Cada ser em sí é único, insubstituível, com suas
características, jeito de ser, maneira de ver o mundo. No entanto, é
interessante pensar em algo que comumente se vê e não se percebe: que a vida de
uma pessoa é tratada, em muitos casos, a partir de um juizo de valor. Nesses casos, nem sempre muito claros, as
pessoas que dependem do outro ficam a mercê de seu juízo de valor. Em Filosofia
Clínica todo o juízo de valor é chamado de axiologia, assim como na Filosofia
Acadêmica. Assim, axiologia me diz o que é importante para a outra pessoa, ou
seja, o que ela considera importante para si; não necessário, mas importante.
Hoje pela manhã ao ver
o jornal, deparei-me com uma notícia muito comum nos dias de hoje. O jornalista
dizia que um jogador de futebol engravidou uma moça. Até então normal, mas o
que espanta é dizer que o jogador já avisou a família que cumprirá com todas as
obrigações financeiras. Não conheço o jogador e muito menos a moça, mas se pode
perguntar: qual é o valor desta vida gerada pelos dois? Posso arriscar, talvez
cometendo um erro vergonhoso, mas parece que para ela ter um filho é garantir
uma boa quantia em dinheiro para si, o filho é um meio para ganhar a vida. Para
o jogador o filho é a consequência de uma atitude que vai lhe custar dinheiro,
só. A vida de uma pessoa que ainda nem nasceu já tem preço.
O filme “Antes de
Partir”, estrelado por Jack Nicholson no papel do rico empresário e dono do
hospital Edward Colen e Morgan Freeman no papel do mecânico Carter Chambres,
apresenta uma brilhante história que mostra o fim da vida de dois homens que
morrerão de câncer, Neste filme, ao chegar ao hospital, por se saber uma pessoa
simples, humilde, Chambers pede apenas que o médico olhe seus exames. O mesmo
se nega, pois não é sua competênca, isso deveria ser feito pelo médico que acompanhava
seu caso. Em contrapartida, o rico Colen reclama do fato de ser colocado em um
quarto com outra pessoa, quando ele mesmo disse que hospital não é hotel. Naquele momento ele se colocou acima de todas
as outras pessoas, queria que fosse feita a sua vontade, como se afirmasse que
“a vida de uma pessoa tem seu preço e é sempre menor que o meu”.
Ontem, um daqueles
jornais sensacionalistas noticiava a morte de uma jovem pelo namorado. Segundo
a notícia, o jovem assassinou a ex-namorada a facadas porque estava apaixonado
por ela e ela o deixou. Não é difícil ver meninos e meninas que condenam o seu
companheiro ao seu amor, alguns condenam a si próprio. Um amor que sufoca, que
faz do outro objeto de uso, que transforma a outra vida em posse. A vida tem
valor quando é minha, se não for minha não será de ninguém.
Desde sempre, para não dizer
há muito tempo, israelenses e palestinos que vivem num pequeno pedaço de terra
no Oriente Médio estão em guerra. Lá, antes de tudo, sua guerra é por terra e
água, recursos escassos naquela região. Um pouco além deste lugar, outras
regiões também estão em guerra e além de terra, água, riquezas e poder existe a
questão religiosa envolvida. O interessante é que a maioria das religiões prega
o respeito e o valor à vida, mas apóiam práticas violentas contra pessoas que
não têm o mesmo credo. Estou falando de países distantes, mas aqui, do lado da
nossa casa, pode haver uma pessoa de outra religião. Alguns pensam: “a vida
dessa pessoa tem valor se ela tiver a mesma religião que eu.”
Não é por um destes
fatores isolados, mas o conjunto de vários fatores que mostra para cada um
quanto vale uma vida. Pense um pouco sobre isso, veja se as suas atitudes
mostram que você valoriza a vida. Lembre-se que, assim como
você mede, também pode ser medido.
Rosemiro A.
Sefstrom
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