Encontro Nacional

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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Fundamentos

Numa conversa informal, alguém me contou que teve muita dificuldade em conversar com outra pessoa. Segundo este alguém, a dificuldade estava em concordar com as ideias que a outra apresentava, segundo ela, sem fundamento. Depois que a pessoa saiu fiquei pensando só na palavra fundamento. Entendo que quem me contava a respeito de seu contato com este outro falava dos fundamentos para os argumentos apresentados. Mas, com um pouco de paciência quero trabalhar um pouco os fundamentos, as bases do pensamento de uma pessoa a partir da Filosofia.
Na Filosofia, ao longo dos séculos, cada pensador expôs suas ideias tendo por base algum fundamento, ou seja, uma base, um alicerce. Tomando como exemplo Platão, quais seriam os fundamentos para ele dizer o que disse, afirmar o que afirmou? Este filósofo que pode ter vivido entre 428 e 348 a.C. dizia que tudo o que temos aqui na terra, ou seja, tudo o que podemos ter acesso pelos sentidos existe em quantidade e qualidades perfeitas no mundo das ideias. Vejam, ele diz que existem dois mundos, um mundo onde tudo existe em quantidade e qualidade perfeitos, a este mundo chama “Mundo da Ideias”. No outro mundo, neste em que vivemos, as coisas, objetos, se entregam aos sentidos, podemos ver, cheirar, degustar, tocar. No entanto, para ele, este mundo dos sentidos é uma imitação precária, mal feita de tudo aquilo que existe em perfeição no mundo das ideias. Parece um tanto descabido, uma doidice, mas foi com a contribuição deste filósofo que se produziu e se produz grande parte dos estudos que ainda hoje servem de base para a nossa vida.
Para se ter uma ideia, René Descartes, filósofo nascido mais de mil anos depois de Platão chegou ao auge dizendo que nós nem sequer estamos aqui. Para Descartes nosso pensamentos está produzindo tudo o que vivemos, até mesmo as sensações são fruto do pensamento. Isso parece estranho, mas é com base neste autor que uma ciência como a medicina age. Quando você vai ai médico e ele lhe pergunta os sintomas, dores, sensações, para ele tudo isto é físico, realmente está acontecendo. Sabemos que muitas vezes as aftas da boca são fruto de um negócio mal feito na empresa, as dores de estômago são conseqüência de uma demissão contra a vontade. Não se vai resolver a dor simplesmente pelo corpo, nestes casos, se vai apenas remediar. Assim como outras áreas do conhecimento, a medicina também busca na Filosofia conceitos que orientam o seu trabalho. Lembrando que acerca do que  que foi colocado acima existem tanto correntes a favor quanto contra, é parte do discurso.
Agora que conhecemos a ideia de Platão e de Descartes, volto a questão inicial: qual o fundamento para uma ideia como esta, a de que o corpo está separado do espírito? Eu, você e talvez o maior dos especialistas, Platão e Descartes não tenhamos certeza de onde ele realmente tirou essa ideia, mas sabemos como eles fundamentaram. Tanto em um quanto noutro filósofo o fundamento para suas ideias foram suas experiências de vida, toda uma história de estudo e dedicação. Agora, será que eu, na minha pretensão posso dizer que o que estes pensadores disseram é bobagem? Se o fizer, provavelmente nunca li seus escritos ou não entendo do que falam. Por mais que não tenham fundamento para mim, mas tem para aqueles que pensaram a respeito. Trazendo para nosso tempo, será que o que o outro, essa pessoa que me fala, o que ela diz não tem fundamento? Pode ser que eu não entenda, não concorde, mas sempre há um fundamento para o que o outro diz, ele mesmo.

Rosemiro A. Sefstrom

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