Kant, filósofo alemão,
diz que o homem tem um esquema mental que o permite reconhecer e agrupar as
coisas de acordo com suas categorias. Para ele as categorias já estão em nós,
ou seja, é uma característica inata do ser humano, aspecto que a Filosofia
Clínica discorda. Outro filósofo, chamado de Arthur Schopenhauer, diz que o
mundo é de acordo com minha representação, ou seja, existe um mundo diferente
para cada pessoa. Unindo as ideias destes dois grandes pensadores pode-se dizer
então que para cada um o mundo é vivido de maneira diferente e ainda que cada
um tem um modelo mental através do qual percebe e classifica o mundo que está a
sua volta. Desse modo, alguns modelos mentais
permitem que algumas pessoas andem pela cidade e percebam certas coisas, como
carros, pessoas, estradas, prédios, mas não lhe permitem ver as flores, os
pássaros, os cachorros, a grama verde.
Agora, imagine que você
gerencie uma organização. Nela, de acordo com o seu modelo mental que orienta a
sua representação de mundo, existem muitos problemas. Ao longo de sua vida como
gestor procura acertar as questões que percebe para tornar seu negócio cada vez
mais rentável, mais competitivo, mais viável. Um pai de família faz o mesmo em
sua casa, quando percebe que tem problemas em sua família procura corrigir,
conversar, ensinar. Assim também acontece, provavelmente, com um professor,
pois este identifica o que precisa ser ensinado e começa seu trabalho. Enfim,
de acordo com o modelo mental de cada um e a representação de mundo gerada
pelas vivências só é possível resolver algumas coisas, muitas outras ficam de
fora.
Um gestor pode, ao
longo de sua caminhada, perceber que resolveu todos os problemas que parecia
ter e ainda não conseguir chegar ao seu objetivo. Ao perceber isto contrata um
consultor, uma pessoa que vai auxiliá-lo na identificação das questões que
limitam seu desenvolvimento. O consultor, pelo seu modelo mental percebe muitas
coisas que são tão ou mais importantes do que as questões trabalhadas pelo
gestor. O consultor faz o levantamento, aponta as questões e sugere soluções,
que em sua visão terão o melhor efeito para as questões propostas. Cada um a
partir de seu ponto de vista percebe algumas coisas e não percebe tantas outras.
Um gestor atento se apropria do conhecimento trazido pelo consultor e agora
também ele tem em seu modelo mental abertura para as questões observadas pelo
consultor.
Em uma família, assim
como na gestão, cada qual tem seu modelo mental diferente. Há casos encontrados
no consultório onde marido e mulher já não se entendem, estão com dificuldades
em afinar suas conversas. Ao observar cada um em separado, existe a vontade de
melhorar o relacionamento, mas cada qual a seu modo está tentando do jeito
errado. O modelo mental do marido aponta que o problema no casamento só pode
ser de ordem financeira, enquanto pelo modelo dela o problema no casamento só
pode ser de ordem extraconjugal. Assim, ele procura cada vez ganhar mais para
tentar solucionar o problema do casamento com dinheiro e ela tenta resolver o
problema do casamento marcando em cima. Como terapeuta é preciso apontar ao
casal que existem diversos problemas que podem afetar o relacionamento e assim
abrir aos olhos para uma questão simples: talvez o problema do casamento é o
fato de que não conversavam mais antes de tomar uma decisão.
Kant estava certo sobre
os modelos mentais, sua incorreção estava em entender que todos tínhamos o
mesmo modelo. Em Filosofia Clínica percebemos que para cada ser humano existe
um modelo mental único, e assim precisa ser tratado em cada contexto. Um modelo
mental está em constante construção, algumas vezes o que a você é impensável
alguém já pensou. Se em seu modelo mental existem problemas, podem haver
modelos mentais nos quais existam soluções para os seus problemas.
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