Fui
amputado!
Há algum
um tempo um amigo disse que não era mais o mesmo depois que entrou em um
relacionamento. Segundo ele, desde que começou a namorar, deixou de fazer
diversas coisas que sempre fez, de ver pessoas com quem tinha estreita
convivência. Continuou dizendo que se sentia preso, como se diz, com a rédea
curta. Até certo ponto suas reclamações pareciam até normais, pois de homem
solteiro passou a homem comprometido, isso por si só já lhe tolhia a liberdade.
Aprofundando um pouco mais a conversa contou que sua amada pediu que queimasse
todas as fotos que tinha de antigos relacionamentos. Até aí tudo bem, contava
ele, mas quando ela pediu que ele começasse a visitar somente quem ela
aprovasse, aí ficou difícil. A dificuldade aumentou mais ainda quando ela
começou a verificar as ligações, e-mails e até compartilhamentos e curtições do
facebook. Terminou ele dizendo: “me sinto cada vez menor.”
Essa
conversa lembra um filme, um clássico produzido em 1993, chamado “Encaixotando
Helena”. Este filme conta a história de um médico que se apaixona por uma
mulher, mas esta mulher não quer um relacionamento duradouro. Ele, envolvido
por sua paixão, amputa as pernas e braços da amada. Ao amputá-la ele garante,
ao menos para ele, que terá sua presença, que ela não o deixará. Há um toque de
morbidade no filme, mas mostra de forma clara e chocante o que acontece em
muitos relacionamentos. Ela, por ser objeto de amor do outro, se torna refém de
uma condição que não tem como escapar.
O amigo
citado no início sentia-se, de certa forma, como Helena, amputado de seus
membros, diminuído em seu corpo. Cada pessoa tem seu corpo em algum lugar, não
necessariamente esse de carne e osso que nos dá a referência. Para algumas
pessoas seu corpo é sua casa, para outros suas amizades, para outros seu carro,
enfim, cada um tem seu corpo de forma diferente. Considerando o corpo de cada
um, dependendo do relacionamento, a pessoa pode ser amputada de diferentes
formas. Imagine que seu corpo é sua biblioteca, você entra em um relacionamento
que a pessoa começa a separar e doar parte de sua biblioteca, provavelmente,
você pode se sentir amputado.
No
relacionamento do amigo, sua esposa foi cortando aos poucos seu corpo, que eram
as suas relações. Quando ele se percebeu pequeno, reduzido, encaixotado,
começou a ter problemas de convivência com sua esposa. Ela, de sua parte dizia
que fazia isso para o bem dele, que o relacionamento com certas pessoas não
fazia bem ao casamento. No entendimento dela, cercear as relações do esposo
garantia a continuidade do casamento, mas isso vinha mostrando o contrário. Num
trabalho feito com o casal, foi possível desenvolver um meio termo onde tanto
para ela quanto para ele seria possível manter a relação.
Se perceber amputado ou ser aquele que amputa
não é bom nem mau, nem certo e nem errado, tudo precisa ser avaliado no
relacionamento em questão.
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