Encontro Nacional

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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Fui amputado!

Há algum um tempo um amigo disse que não era mais o mesmo depois que entrou em um relacionamento. Segundo ele, desde que começou a namorar, deixou de fazer diversas coisas que sempre fez, de ver pessoas com quem tinha estreita convivência. Continuou dizendo que se sentia preso, como se diz, com a rédea curta. Até certo ponto suas reclamações pareciam até normais, pois de homem solteiro passou a homem comprometido, isso por si só já lhe tolhia a liberdade. Aprofundando um pouco mais a conversa contou que sua amada pediu que queimasse todas as fotos que tinha de antigos relacionamentos. Até aí tudo bem, contava ele, mas quando ela pediu que ele começasse a visitar somente quem ela aprovasse, aí ficou difícil. A dificuldade aumentou mais ainda quando ela começou a verificar as ligações, e-mails e até compartilhamentos e curtições do facebook. Terminou ele dizendo: “me sinto cada vez menor.”
Essa conversa lembra um filme, um clássico produzido em 1993, chamado “Encaixotando Helena”. Este filme conta a história de um médico que se apaixona por uma mulher, mas esta mulher não quer um relacionamento duradouro. Ele, envolvido por sua paixão, amputa as pernas e braços da amada. Ao amputá-la ele garante, ao menos para ele, que terá sua presença, que ela não o deixará. Há um toque de morbidade no filme, mas mostra de forma clara e chocante o que acontece em muitos relacionamentos. Ela, por ser objeto de amor do outro, se torna refém de uma condição que não tem como escapar.
O amigo citado no início sentia-se, de certa forma, como Helena, amputado de seus membros, diminuído em seu corpo. Cada pessoa tem seu corpo em algum lugar, não necessariamente esse de carne e osso que nos dá a referência. Para algumas pessoas seu corpo é sua casa, para outros suas amizades, para outros seu carro, enfim, cada um tem seu corpo de forma diferente. Considerando o corpo de cada um, dependendo do relacionamento, a pessoa pode ser amputada de diferentes formas. Imagine que seu corpo é sua biblioteca, você entra em um relacionamento que a pessoa começa a separar e doar parte de sua biblioteca, provavelmente, você pode se sentir amputado.
No relacionamento do amigo, sua esposa foi cortando aos poucos seu corpo, que eram as suas relações. Quando ele se percebeu pequeno, reduzido, encaixotado, começou a ter problemas de convivência com sua esposa. Ela, de sua parte dizia que fazia isso para o bem dele, que o relacionamento com certas pessoas não fazia bem ao casamento. No entendimento dela, cercear as relações do esposo garantia a continuidade do casamento, mas isso vinha mostrando o contrário. Num trabalho feito com o casal, foi possível desenvolver um meio termo onde tanto para ela quanto para ele seria possível manter a relação.
 Se perceber amputado ou ser aquele que amputa não é bom nem mau, nem certo e nem errado, tudo precisa ser avaliado no relacionamento em questão.

Rosemiro A. Sefstrom

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