Encontro Nacional

Encontro Nacional

segunda-feira, 31 de março de 2014

Entradas e saídas

“Não joga fora não, um dia posso precisar para alguma coisa”. Existem pessoas que juntam tudo o que podem e guardam com a justificativa de que um dia podem precisar. Elas guardam desde pequenos objetos, que realmente podem ter uso até objetos que não terão serventia alguma. Existem casos extremos em que chegam a guardar alimentos, sementes, pedaços de madeira, tecidos, ou qualquer outro objeto. Os objetos que elas juntam ocupam espaços, precisam de um lugar para serem alocados na casa e pela falta de arrumação acabam por servir de esconderijo para insetos, ratos e outras coisas. Por serem objetos velhos, muitos deles sujos, logo começam a criar mofo e espalhar doenças. Quem convive com pessoas assim logo nota que sua “mania” não é saudável e tentam intervir para mostrar os males que podem decorrer disso. Esse procedimento de juntar recebe o nome de adição em Filosofia Clínica, a pessoa soma uma coisa a outras que já existiam naquele local.
Assim como algumas pessoas trazem coisas para casa justificando sua utilidade futura, também existem aqueles que levam coisas pela vida que não precisariam levar. Na casa existe uma quantidade possível de se guardar, tendo em vista o tamanho do local, assim também é com as pessoas. Cada um tem um espaço interno para guardar o que soma pela vida até que tenha de colocar para fora para que outras coisas possam ocupar o lugar. Em alguns o espaço de adição é muito grande, elas levam muito tempo neste processo até que precisem descarregar. Do outro lado existem as pessoas com um espaço para adição muito pequeno e pouco depois de começarem as adições precisam colocar para fora. Tanto os que adicionam pouco quanto os que adicionam muito, cedo ou tarde precisarão arrumar um destino para este conteúdo. Em algumas pessoas o lugar onde o conteúdo será descarregado é o corpo, ele será o receptáculo para o que foi guardado durante um tempo. Outras pessoas descarregam tudo nas suas abstrações e tendem a caminhar em direção às ideias complexas, em outras palavras, desconectar-se do mundo.
A adição é como uma conta matemática qualquer e qualquer conteúdo pode ser somado. Como o ser humano é muito rico em vivências, ele tanto pode somar jóias, dinheiro, como mágoas, ressentimentos, raiva. Algumas pessoas passam pela vida como lixeiras existenciais, vivem com um propósito, coletar e catalogar o que há de ruim em seu caminho. Estas pessoas, de um dia que viveram, guardam o sol que não saiu, a roupa que não secou, a casa que ficou suja, o negócio que não deu certo, a ofensa de um amigo. Vivem como lixeiros existenciais, guardam tudo aquilo que deveria ser jogado fora. Aos poucos adoecem existencialmente, o que não é de estranhar pois guardam rancor, mágoa, ódio, tristeza. Poderiam amanhecer e ver o nascer do sol, sentir o amor da esposa, ver a bondade de um amigo, viver a fé em deus, acumular coisas boas.
Depois de um tempo somando é hora de colocar para fora este conteúdo. Se passou a vida juntando sofrimentos, dores, agonias, maus pensamentos é provável que quando for colocar para fora é isso que saia. Se isto for sair em direção ao corpo pode aparecer como uma úlcera estomacal, afta, dores de cabeça, alergias, e tantas outras coisas ruins. Mas, se passou o tempo juntando coisas boas, amor, alegria, amizade, bons filmes, músicas, quando este conteúdo for em direção ao corpo será uma pele lisa, vitalidade, disposição. Em algumas pessoas o conteúdo é despejado no corpo, em outras pode ser as ideias, o mundo, no que acha de si mesma, etc.
É importante lembrar que algumas pessoas não fazem adição, fazem outros processos para gerenciar seus conteúdos. Aos que fazem a adição, não há nada de errado, mas é preciso prestar um pouco de atenção ao que tem somado nos últimos tempos. Não é de espantar que pessoas que somem coisas ruins e suas vidas não pareçam boas.

Rosemiro A. Sefstrom 

sexta-feira, 28 de março de 2014

O filho exemplar

Há em Filosofia Clínica um tópico chamado Buscas. Esse tópico se ocupa em identificar na história das pessoas seus direcionamentos existenciais. Há também um tópico da Estrutura do Pensamento chamado Termos Unívocos e Equívocos. Este tópico trata da clareza como as informações são expressas e o quanto são entendidas. Se uma informação sai de uma pessoa e é plenamente entendida pelo outro, esta é unívoca, caso não seja entendida ou seja mal interpretada, diz-se que a informação é equívoca. Se pensarmos no caso de uma pessoa que une buscas com termos equívocos, pode-se dizer que estamos diante de alguém que quer chegar a algum lugar, mas não tem clareza de onde quer chegar. Quando isso acontece, a pessoa aponta para várias direções ao longo da vida, a cada tanto inicia uma nova jornada de busca sem chegar a lugar algum. Muitas pessoas padecem por não conseguirem decifrar claramente qual seria a melhor direção existencial, sofrendo por não saberem se caminham em direção ao que parecem querer.
Agora imagine que essa equivocidade, essa falta de clareza, não aconteça com você, mas com seu pai, que ele seja equívoco no que busca. Pense que este pai tem como objetivo de vida educar seus filhos para que sejam responsáveis, sinceros, justos, trabalhadores, estudiosos, enfim, que sejam pessoas que ele considera de caráter. Pode acontecer que este pai deseje esse modelo de educação para seu filho, mas faça exatamente o contrário na prática. Algumas ilustrações podem deixar claro como isso pode acontecer e quanto sofrimento pode provocar. Colocarei alguns relatos que já ouvi no trabalho como terapeuta.
Uma jovem moça me falou que seus pais sempre disseram que queriam formar uma mulher responsável, que queria que ela fosse um exemplo. No entanto, ouvindo sua história de vida, pode-se perceber que seus pais fizeram tudo ao contrário do que desejavam. Desde cedo a menina não tinha hora para acordar, nem hora para ir dormir, quando lhe era exigido arrumar o quarto ela chorava, esperneava e assim era dispensada da tarefa. Quando mais jovem ia à escola e tinha um comportamento já bem rebelde, seus pais chamaram a atenção dos professores em sua frente, dizendo que eles deveriam saber o que fazer com seus alunos. Com essas e outras situações criaram alguém que não corresponde aos seus objetivos.
Outro rapaz me contou um dia que seu pai queria que ele fosse um jovem trabalhador, empenhado em resultados. Porém, ao longo de sua história, percebe-se que seu pai desde cedo desobrigava o rapaz das tarefas do lar. Em casa quando ele bagunçava seu quarto, era a empregada que limpava, quando queria qualquer soma em dinheiro, facilmente conseguia, os trabalhos de escola eram feitos pela mãe. Quando foi convidado para trabalhar com seu pai não tinha horário para chegar, assim como não tinha para sair. Quando entendia que não precisava ir ao trabalho, simplesmente não ia, sequer dava satisfação, deixando toda uma equipe desfalcada. Para o pai isso era coisa da idade, agora ele está com quase trinta anos e ainda não chegou à idade responsável.
Os casos citados são de pais que cobram dos filhos o que nunca lhes foi ensinado, queriam que os filhos fossem pessoas com determinadas características, mas não lhes ensinaram a ser. Alguns queriam filhos exemplares, mas não lhes ensinaram a ser os exemplos que desejavam. Muitos dizem: “Não quero para o meu filho o que eu passei”. Estes mesmos não se dão conta que muito do que passaram foi o que ajudou a formar o que são hoje. Estes pais buscam equivocamente que o filho seja como eles, sem educar para que o sejam. Filhos exemplares, na maior parte dos casos, foram frutos de uma educação exemplar.

Rosemiro A. Sefstrom

quinta-feira, 27 de março de 2014

Composição

Tirar fotografias é um hobbie que faz parte da vida de muita gente. Nos dias de hoje com o advento da tecnologia fotográfica muitas pessoas têm acesso ao equipamento, desde os mais simples embutidos em um celular até os profissionais. A primeira fotografia conhecida veio ao mundo pelas mãos do francês Joseph Nicéphore Niépce em 1826, lembrando que a invenção da fotografia não pode ser atribuída a Joseph, pois foi um longo processo que envolveu muitos outros pesquisadores. As primeiras fotografias necessitavam de mais ou menos oito horas de exposição à claridade para que se pudesse obter a imagem no papel. Há pouco tempo ainda era necessário fotografar e esperar pela revelação para ver se o efeito esperado apareceria no papel. Muitas vezes a tão esperada foto “queimava”.
Por mais que seja fácil fotografar, produzir um bom material já não é tão simples. Existem algumas regras que fazem com que o resultado seja agradável aos olhos e não apenas um registro do momento. A primeira regra básica é preencher os espaços, basta olhar fotografias consagradas e podemos perceber que não aparecem espaços vazios, o assunto que interessa preenche o espaço. Uma segunda regra é perceber se o fundo tem a ver com o tema principal, observar se as cores, formas e claridade estão de acordo com o assunto mais importante da foto. Outra dica interessante é planejar com antecedência, é necessário ao fotógrafo criar o ambiente da fotografia, observar os elementos e dispô-los de maneira a produzir o efeito desejado. Por fim recomenda-se enquadrar bem, perceber se o tema da foto não está muito longe, muito perto, se está de acordo com o que propõe a temática.
Em nossa vida o dia-a-dia não está muito longe de uma fotografia, observe. Por exemplo, sua esposa pergunta como foi o seu dia, ou seja, de tudo o que você viveu ela espera de você em algumas palavras uma composição. Como a pergunta foi pelo seu dia, o tema é livre, pode falar do trabalho, do almoço, do caminho até o trabalho, dos pensamentos, enfim. Como o seu dia tem muitas coisas você vai escolher algo para ser o seu tema, o elemento que vai preencher sua narrativa. Deste modo, você pode  contar os horríveis buracos que têm na Avenida Centenário na Próspera e utilizar como fundo o bom dia de trabalho que teve. Pode ainda usar como tema o belo dia que teve e usar como fundo o projeto de um passeio no fim de semana. O tema que você escolher vai determinar com o que você está entrando em contato, alimentando-se, compondo.
O fundo do dia-a-dia de cada um é diferente. Para alguns o tema é a grande história de amor que vivem, mas usam como pano de fundo dívidas, brigas, traições. Parece estranho, mas usam elementos que não combinam numa mesma foto, percebem que não está legal, mas não entendem exatamente o quê. Há casos ainda em que a pessoa vive uma terrível depressão e usa como pano de fundo os filhos na faculdade, o marido em um bom emprego. O fundo não combina com o tema principal, a composição pode gerar ansiedade, confusão. Lembrando que o tema é aquilo com o que você entra em contato, o fundo são as condições em que isso acontece.
Planejar com antecedência é selecionar o que vai entrar e o que vai ficar de fora da minha fotografia. Eu posso incluir na minha fotografia os buracos da Avenida Centenário lá na Próspera, assim como posso incluir os pergolados da Praça Nereu Ramos. O que é tema e fundo, eu posso definir, não preciso ser refém dos elementos, posso compor com eles. Já enquadrar bem, isso seria colocar o tema central na posição que ele merece, no terço que lhe cabe no cenário planejado. A composição narrativa do seu dia para a sua esposa mostra com quais elementos está compondo a sua vida.

Rosemiro A. Sefstrom

quarta-feira, 26 de março de 2014

Eu Real

Durante uma conversa com um líder de uma organização, entramos no assunto sobre as representações, sendo que o líder em questão entendeu que cada pessoa é vista de maneira diferente pelas outras que estão ao seu redor. O estalo veio no momento em que ele se deu conta de que inclusive ele mesmo tem uma visão parcial de si. Esta conclusão o levou fazer uma pergunta realmente filosófica: “Se cada um tem uma representação sobre mim, inclusive eu mesmo, onde está o Eu Real?” Por alguns instantes fiquei observando o nascimento de uma pergunta filosófica de fato, depois fiz a mesma pergunta a mim mesmo. Para levar o leitor a fazer esta pergunta a você mesmo vamos construir a argumentação tal como o líder estabeleceu.
O ponto de origem da conversa foi a proposta de se melhorar como pessoa e como liderança, para tanto lhe foi proposto que observasse as referências externas como modo de se avaliar internamente. Em outras palavras, seria necessário escutar as queixas do pai no seu comportamento enquanto filho, também da sua mãe sobre o seu comportamento enquanto filho. De modo diferente deveria observar o que seu diretor fala sobre o seu papel de gerente, o que seu colaborador fala sobre seu papel como líder. Assim, a partir destas várias referências, observar o que precisa melhorar em cada um dos papeis. Ao que perguntou: “Mas como saber quem está falando algo que realmente precisa ser melhorado?”
A primeira dica sobre este aspecto é sempre ter mais de uma referência, observar várias pessoas e compor com elas a informação. Pode acontecer que ainda assim as informações não sejam fidedignas, não existe mágica. Uma segunda maneira de saber para qual informação dar crédito é ter pessoas específicas que lhe conhecem de longa data, estas pessoas podem ter maior clareza. Assim como a quantidade, a qualidade das pessoas também está suscetível ao erro. Com base nestas opções o líder ainda comentou que pode acontecer que a pessoa tenha clareza sobre si mesmo em cada um dos contextos e saiba o que precisa melhorar. Ainda assim podem haver erros, pois a representação que a pessoa tem de si mesmo pode estar incorreta. E agora? Então como ver o Eu Real?
Se você  fosse falar quem você é, esse seria o seu eu real. No entanto esse mesmo eu não existe para os seus pais, para a sua esposa, para seus amigos, para seus sócios ou colaboradores. A realidade depende de cada um com quem convivemos, é o exemplo da pessoa com quem você trabalha oito horas por dia e que lhe “conhece” melhor que sua esposa. O que acontece é que ela tem muito mais tempo de convívio o que lhe permite ter mais informações para elaborar uma ideia a seu respeito. Não necessariamente esta ideia é verdadeira, mas é a conclusão a que ela chegou a respeito de quem você é. Mas então, voltando ao início, como saber o que melhorar se cada um tem uma ideia diferente a respeito de você?
As diferentes representações não mudam o fato de que existe uma realidade consensual na qual você está inserido. Um filho em uma família, um homem em uma cultura, um líder em uma organização, cada um destes papeis exercidos está inserido em um contexto. A partir do contexto em que está inserido vem a realidade consensual que serve de base para avaliar o que precisa melhorar. Enquanto líder, participando da realidade consensual de uma organização posso saber como me aprimorar. Como homem numa cultura ocidental também tenho os parâmetros de como posso melhorar. Os parâmetros consensuais unidos aos subjetivos são guias que podem mostrar como o Eu Real pode ser aperfeiçoado.

Rosemiro A. Sefstrom

terça-feira, 25 de março de 2014

Critério

Há pouco tempo iniciei um projeto que leva o trabalho de Filosofia Clínica do consultório para a empresa, ou seja, o trabalho terapêutico que tem por objetivo resolver questões existenciais neste caso é voltado como ferramenta para a dissolução de questões organizacionais. Um dos vários propósitos de se inserir a Filosofia Clínica nas organizações é levar para a administração o entendimento de que cada ser humano é único, além de se fazer entender que os recursos humanos precisam ser entendidos como mais precioso que qualquer outro recurso econômico. Explico: numa empresa, a matéria prima recebida é analisada e usada de acordo com suas propriedades e o mesmo deveria ser feito com o ser humano, ou seja, respeitar sua singularidade.
Em determinado atendimento realizado numa organização, o problema apontado por um funcionário em cargo de gerência foi o seguinte: o gerente relatou que estava com peso por ter demitido um de seus funcionários e que cada vez que precisava demitir, isso lhe causava grande sofrimento. Em posse de sua historicidade (aos filósofos clínicos lembro que é: Historicidade, Exames das Categorias, EP, Submodos Informais, etc.) iniciei um trabalho de divisão. Divisão é um procedimento clínico por meio do qual o filósofo leva o partilhante a separar seus conteúdos de acordo com alguns critérios. Perguntei ao referido gerente se havia algo em específico que lhe causava este sofrimento. O partilhante respondeu que o que lhe causava sofrimento era saber a situação difícil que vivia o funcionário que havia demitido, mas que ao mesmo tempo sabia que precisava demiti-lo visto que o funcionário não dava resultado mesmo após várias chances.
Percebe-se que o partilhante apresenta um choque na Estrutura de Pensamento entre as Emoções e a Razão, choque que lhe causa sofrimento no desempenho de sua função. Para sanar este choque, com o conhecimento prévio do funcionamento do partilhante por meio da historicidade, foi encaminhado um processo de divisão. Esse processo começou com base em pequenas questões sobre o processo de seleção dos candidatos à vaga e como eles eram contratados. Ao longo desse processo, o partilhante percebeu que eram critérios racionais que mostravam se o candidato à vaga seria contratado e o mesmo era feito para a demissão de um funcionário. Ele percebeu que assim como a admissão, a demissão também é feita com base em critérios e não em gostos, que a demissão não é feita por ele, mas pelos critérios que inviabilizam a permanência do membro na equipe.
Outra situação foi a de uma coordenadora que recebeu a sugestão de demitir um funcionário de sua equipe por não estar cumprindo as metas. A mesma observou os critérios utilizados para avaliar e percebeu que deveria flexibilizá-los com a pessoa em questão. A coordenadora reconheceu que o tempo de aprendizado de cada um dos membros da equipe é diferente e resolveu esperar. Ao fazer isso, ela tornou os critérios singulares, ou seja, os critérios se aplicam a cada um de acordo com o seu jeito, sua singularidade. Os critérios são linhas que definem dentro e fora, certo ou errado, mas que podem ser utilizados de maneira singular.
Tanto no primeiro quanto no segundo caso há uma divisão, sendo que, não são as pessoas que demitem as pessoas, mas os critérios que dizem quem está dentro ou fora. A proposta da Filosofia Clínica é apresentar critérios que se flexibilizem, critérios que avaliem cada um como ser único. Sabe-se que são as pessoas que fazem os critérios e elas mesmas os aplicam, mas a falta deles pode encaminhar uma instituição à falência, processos judiciais, desagregação, conflitos, etc.

Rosemiro A. Sefstrom

segunda-feira, 24 de março de 2014

Demagogia

A palavra demagogia está presente em meus pensamentos faz um tempo, e com cada vez maior freqüência e força é possível identificar o uso do recurso que ela significa. Segundo o dicionário, Demagogia pode ser considerada “a arte de conduzir o povo”, também se diz que é uma arte de propor algo que não se consegue alcançar na prática. Mas o que realmente chama a atenção é que a Demagogia é a arte de conduzir ou propor algo que tem por objetivo alcançar benefício próprio. Considerando esta definição, pode-se dizer que demagogia é fazer uso de ferramentas que dominem pessoas para atingir objetivos que favoreçam a si mesmo. É o caso dos discursos politicamente corretos dentro de organizações que falam de uma vida eco sustentável, onde os eco representam milhares de dólares que se ganha por não precisar mais comprar copos descartáveis.
Quando esta palavra surgiu, na Grécia Antiga, significava os “defensores da democracia”, que eram os demagogos. Ao longo do tempo, por causa do uso que foi feito da ferramenta de condução do povo, demagogia é tomada hoje em sentido pejorativo. Na prática a demagogia pode ser vista quando alguém se coloca diante dos outros como alguém pobre, necessitado, tendo em vista receber favores. O mesmo pode acontecer de alguém que enaltece a si próprio com o intuito de obter vantagens. Isso lembra muitos relacionamentos, onde um dos dois se coloca numa posição tal que visa obter vantagens sobre o outro. Um dos casos mais comuns são de pessoas que percebem que quando estão doentes têm atenção. Ao perceberem que o carinho virá se estiverem doentes, ao menos parecerem doentes, pronto a cada tanto estão doentes, padecem de algum mal.
Esse comportamento com um objetivo ou vários objetivos é conhecido em Filosofia Clínica por Comportamento & Função. O comportamento pode ser simples, a pessoa diz para a mãe que sua cabeça dói para que esta fique por perto. O comportamento também pode ser composto, como falar menos, ficar quieto num canto, começar a tossir, até que peça pela atenção e obtenha os cuidados da mãe. O demagogo se coloca numa posição tal de forma que seus comportamentos tenham como função o domínio das pessoas ao seu redor. Aqui o comportamento tanto pode ser simples como composto, sendo que a função é simples: dominar.
Esse domínio nem sempre é assim tão evidente, algumas vezes, para quem olha de fora uma situação o dominador pode parecer o dominado. É o caso daquele homem forte, rude, que está ao lado de uma mulher pequena, franzina, que é um anjo, no entanto, essa anjinha, com sua candura domina e faz com que o homem forte e rude sirva a seus propósitos. O seu jeito de ser cumpre uma série de comportamentos que levam o marido a servi-la. A falta de conhecimento de quem vê de fora e até mesmo do marido faz dele refém (função) dos comportamentos da esposa.
Nos dias atuais estão acontecendo uma série de manifestações Brasil afora, movimentos estimulados sabe-se por quem e com qual objetivo. Centenas de pessoas são convidadas via redes sociais para reunirem-se e lutar por objetivos que em muitos casos pouco conhecem. A falta de consciência política, econômica, social, faz com que uma grande massa se torne a prova de que o discurso demagógico de domínio funciona. Demagogia neste caso é o Comportamento & Função na prática social, mas a questão fundamental que fica é: “que função cumpre esse comportamento de revolta?”

Rosemiro A. Sefstrom

quinta-feira, 20 de março de 2014

Corpo ou objeto?

Há no Brasil um fenômeno que começou por Santa Catarina, o leilão da virgindade. Começou porque já há uma segunda candidata ao mesmo ato, uma paulistana que afirma fazer esse sacrifício para ajudar sua mãe. Não há o interesse em lidar com abertura de precedentes, com questões éticas, mas de se ver com outros olhos a abertura de concorrência pública para retirada da virgindade. O interesse em especial na concorrência está na forma como o acontecimento é tratado, pela forma como os próprios veículos de comunicação que abominam, ao mesmo tempo divulgam. O fato é, uma moça, no uso de sua liberdade individual decidiu abrir concorrência pública, ou seja, estimulou a livre concorrência para a venda de seu produto.
Pode ser novidade para muitos o que estão vendo pela televisão, mas não faz muito, uma novela de horário nobre passava uma mãe tratando a virgindade da filha como um produto. Naquela novela a mãe tratava a virgindade da filha como um produto de barganha que deveria ser utilizado para tentar obter um futuro financeiramente garantido. A diferença é que ali estava na novela, inserido num contexto onde a “novela imita a vida”, segundo os próprios autores. A realidade é assim também, realidade em que muitas meninas fazem de si mesmas produtos que são colocados na vitrine esperando um bom comprador. Algumas, que se mantém dentro dos padrões da moda conseguem bons compradores, outras não tem a mesma “felicidade”. Lembrando que a compra dá o entendimento de propriedade, ou seja, aquele que paga pode fazer uso da maneira que lhe aprouver e quando não quiser mais, joga fora.
Para os mais velhos que se espantam com a indecência dessas moças que leiloam a virgindade, pensem num homem antigo que casava. Ela, muitas vezes se mantinha intocada para um grande casamento, na verdade era um péssimo marido. O negócio dela de se manter virgem era para arrumar um bom marido, um homem decente, muitas conseguiam péssimos maridos, ou seja, se manter virgem foi um péssimo negócio. A relação que se está estabelecendo é de negócio, de uma pessoa que tem um produto que muitos querem, simples assim.
O que assusta muitas pessoas é o fato de uma moça ter vindo a público e leiloado sua virgindade, o problema para elas é o público. Segundo muitos isso é uma questão pessoal, mas estes mesmos que apregoam uma moral de certo e errado, de público e privado, assistem o Big Brother e torcem por cenas de sexo ao vivo. Qual seria a diferença entre essa menina que ganhará muito bem pela sua virgindade e aqueles que também ganharam muito bem por transarem ao vivo? Demonizar ou justificar o que está acontecendo seria um tanto arriscado, mas que tal tentar entender?
A relação que cada um estabelece com o que chamamos de corpo é diferente. Para muitos e muitas o corpo não passa de um produto, que pode e deve ser modificado para atender às necessidades e expectativas do mercado. O corpo esse de carne e osso pode ser a menor parte da pessoa e justamente por isso ela não se importa, pode simplesmente vender, leiloar, trocar por uma voltinha de carro, bebidas caras, camarotes e tantas outras coisas. O problema é que algumas pessoas não entendem que produto só tem valor enquanto estiver do agrado do cliente.

Rosemiro A. Sefstrom

quarta-feira, 19 de março de 2014

Recompensa

Ser líder em uma organização não é algo necessariamente fácil, muitas vezes são indispensáveis tomar certas atitudes que não agradam ao líder, mas são imprescindíveis ao bom funcionamento da organização. Em tempos de revolução industrial ser líder era basicamente fazer cumprir, mandar, obrigar e descartar os que não serviam. Já no século XX começa o movimento em que as lideranças passam a ser objetos de estudo, tendo obras de autores como Peter Drucker que conceituam uma liderança eficaz. No entanto, estas lideranças ainda eram observadas do ponto de vista da tarefa a ser desenvolvida. Já no final da década de noventa, início dos anos dois mil, uma nova corrente aponta o líder como alguém que congrega pessoas para conquistar objetivos. Esta pequena retrospectiva mostra que os tempos mudaram, as pessoas mudaram e as lideranças precisaram mudar para continuar atingindo seus objetivos dentro da organização.
No Brasil atualmente há uma dificuldade na retenção de mão de obra, as pessoas entram numa organização e logo estão de saída. Entre os vários motivos um deles chama a atenção: a dificuldade na ascensão dentro da estrutura organizacional, ou seja, a demora em ser promovido. Em tempos onde tudo precisa ser muito rápido, mostrar que mudar de posição dentro da empresa é lento pode realmente ser problemático. É justamente neste ponto que o líder pode entrar e exercer um papel fundamental na retenção das pessoas na organização, assim como encaminhar de volta ao mercado de trabalho os que não têm a ver com a empresa. O papel do líder agora, muito mais do que no passado, é formar as próximas gerações de líderes, mostrar o caminho que deve ser trilhado para chegar onde ele está e, principalmente, mostrando como é bom estar onde ele está.
Vamos fazer um raciocínio simples, imagine que eu sou um líder, mostro que o caminho até a liderança é difícil, um “vale de lágrimas”. Ainda mais, demonstro que ser um líder é resolver todos os problemas da empresa sem jamais ouvir um obrigado ou ser recompensado. Se um líder expressa isto com relação ao seu cargo ou à sua organização fica realmente bastante difícil captar ou reter talentos. Uma liderança é uma via de expressividade da organização com seus colaboradores, sendo que, quanto mais alto o posto ocupado por uma liderança, maior a responsabilidade com o que expressa para seus liderados. Muitos querem ser os proprietários da empresa porque entendem que a recompensa dos sacrifícios de ser donos são recompensadores mesmo que em muitas oportunidades o proprietário expresse que estar no seu lugar não é fácil, que teve muitas dificuldades até chegar onde está mas ainda assim vale a pena.
Desta forma, utilizar a expressividade enquanto líder como forma de mostrar que o caminho até chegar a um cargo de liderança não é fácil, mas que é recompensador, será também uma forma de reter os talentos. Existem muitas organizações nas quais colaboradores trabalham por muito tempo somente porque sabem que existe a possibilidade de assumir um cargo de liderança. Mas não porque querem ser líderes naquela empresa, mas porque as recompensas naquela organização estão além de qualquer dificuldade que exista pelo caminho. Expressividade não é somente falar, dizer, escrever, expressividade é algo que vem de dentro, algo que está em mim e vai em direção ao outro enquanto comunicação sincera.
Então, uma das formas de se captar ou reter futuros líderes é mostrar que o caminho até chegar pode ser um pouco difícil, exigente, mas que as recompensas serão muito maiores. Mostrar que minha empresa é um local onde eu quero estar, gosto de estar, que eu recomendo, esta é a postura de um líder que expressa ao seu colaborador como é bom estar na posição onde ele está. Dificilmente alguém irá querer algo que não gosta, usualmente se quer algo que se entende como bom.

Rosemiro A. Sefstrom

terça-feira, 18 de março de 2014

Quem é o autor da minha história?

Há um pensador francês chamado Michel Foucault que escreveu a obra “O que é um autor?” em 1969. Nesta obra sua principal preocupação é definir o que seria um autor em suas mais diversas formas. Essa bela obra nos remete à Filosofia Clinica e o uso da história de vida como base para o trabalho terapêutico. Quando uma pessoa nos procura, para caminhar junto com ela como terapeutas precisamos que ela nos conte sua história. Ao contar sua história ela faz referência ao caminho que percorreu, às decisões que tomou, às pessoas com as quais se relacionou, enfim, o enredo da própria vida.
Quando lemos um livro, vemos um filme ou assistimos a uma peça de teatro, há uma pessoa que está por trás daquela história: o autor. O autor é tido em grande parte segundo o próprio Foucault como sendo um gênio, uma pessoa acima da média, alguém do qual emana o jeito certo. É assim para aquela dona de casa que compra na banca o seu livro de auto-ajuda e lê com toda atenção cada palavra que a ensina  como ser feliz. Algum tempo depois, vivendo os mesmos problemas comenta com uma amiga: “O autor é ótimo, só pode que eu estou fazendo alguma coisa errada”.  Esse autor, pessoa desconhecida por ela tem o poder, dado por ela mesma, de significar sua vida e dizer o que ela tem de fazer para ser feliz.
Esta mesma dona de casa esquece que ela mesma já é autora, que já rabiscou algumas páginas. Ela, de certa forma humilde, já escreveu a própria história, decidindo logo cedo por onde sua vida iria caminhar. Quando se casou, resolveu ajudar o marido a escrever a história dele, apontando os melhores caminhos e as melhores maneiras de se trilhar esse caminho. Anos mais tarde veio o filho, que hoje é médico. Antes mesmo de ele nascer ela já tinha escrito a história do filho. Essa dona de casa se tornou a autora da história de vida da família. Se a história é boa ou má, certa ou errada, isso é outra questão.
Ser autor é entender que assim como eu, que algumas vezes escrevo a minha própria história, há também outros autores. Algumas vezes esses autores escrevem suas histórias, outras vezes eles escrevem a minha. Se lhes perguntassem: “Quem escreveu sua história?” provavelmente a resposta seria: “Eu”. Só que se fossemos a fundo na história de vida dessas pessoas veríamos que ao afirmar a autoria de sua própria história deveriam ser condenadas por plágio, como alguém que se apropriou de um texto que não é seu. Pense naquele menino que nasceu em uma tradicional família de militares, logo que chega à idade ele vai empolgado para a escola militar e dali em diante faz a sua vida como militar. Torna-se um bom homem, bom pai, bom marido e ótimo filho. Esta história é bonita, mas e os pais que são péssimos autores? Aqueles que escrevem péssimas histórias para os filhos? Também existem.
Há também pessoas que estão tão acostumadas com outros escrevendo sua história que se tornaram ótimas atrizes, ou seja, são pessoas que atuam na própria história. Não há nada de errado com isso. Se a história que foi escrita é muito melhor do que a pessoa mesma escreveria, por que não? Imagine que seu filho é um péssimo escritor, cada vez que ele tenta sozinho escrever sua história acaba por se dar mal. Pode ser que um pai, uma mãe, uma namorada possam ser os autores que faltavam para uma boa história.
Por fim gostaria de perguntar: “Quem é o autor da sua vida? Ele é um bom autor?” Cuide-se, se a sua história é um drama e você tem a ver com comédia, pode ser que você não seja o autor de sua história.

Rosemiro A. Sefstrom

segunda-feira, 17 de março de 2014

Re-unir os cacos!

Em Filosofia Clinica existe um procedimento clinico, ou seja, uma ferramenta que o filósofo usa no seu trabalho que se chama reconstrução. A própria palavra já diz praticamente tudo, é uma ferramenta que possibilita ao terapeuta remontar à pessoa situações que viveu e que se perderam. No dia-a-dia muitas pessoas já usam a reconstrução, fazem o processo de recuperar antigas vivências, mas nem sempre de maneira produtiva. O terapeuta, quando precisa usar esta ferramenta, ele sabe o que vai reconstruir junto com a pessoa. O relato Werther no livro Os sofrimentos do jovem Werther mostra um pouco de como funciona essa técnica.
“Foi um magnífico nascer do sol: a floresta úmida e a planície cochilavam. Ela perguntou-me se eu não queria fazer o mesmo acrescentando que eu não me acanhasse por causa dela.
_ Enquanto eu puder ver esses olhos abertos – respondi, olhando-a intensamente -, não corro o risco de adormecer ”. (Página 37)
No relato acima a pessoa reconstruiu boas memórias, um momento em que provavelmente viveu algo muito bom. Mas nem sempre é assim, existem muitas pessoas que passam os dias retomando memórias, emoções, sensações, muito ruins. Estas pessoas habilidosamente pegam um evento em sua vida que lhes causa grande sofrimento e retomam desde o início até o fim. Em cada pedaço de sofrimento, até que este sofrimento esteja presente agora, assim como foi no passado.  O problema é que estas pessoas fazem reconstruções de coisas que lhes fazem mal, usam uma ferramenta poderosa para machucar a si própria e os que a rodeiam.
Outras pessoas ao longo da vida quebram, uma empresa, um casamento, um namoro, uma amizade. Os motivos pelos quais elas quebram não vem ao caso, mas interessa saber que muitas delas querem reconstruir o que quebrou. Algumas destas pessoas reconstroem tudo com tanta perfeição que até mesmo os defeitos que haviam na empresa, relação. Esse tipo de reconstrução levará a pessoa a reviver tudo novamente, ou seja, provavelmente irá quebrar outra vez.
Há quem diz que se reconstruir um casamento faz com que ele não seja mais o mesmo, verdade. Em muitos casos ele fica muito melhor, algumas pessoas, diferente daquelas do parágrafo anterior, quando reconstroem, elas aprendem com os erros de sua última construção. Pessoas assim costumam caminhar para frente, aprendendo com as vezes que quebraram.
No entanto, muitas pessoas não usam este procedimento, muitas pessoas quebram e deixam os pedaços pelo caminho. Para estas o passado é diferente do presente, que vai ser diferente do futuro e não há motivos para ficar reconstruindo se podemos fazer coisas novas. Para quem vive com pessoas que não fazem reconstrução uma dica, quando estas pessoas quebrarem algo, provavelmente não tem volta. E elas pode quebrar um casamento, uma amizade, um grande amor, mas mesmo querendo, não vão voltar. Para estas pessoas a vida só caminha para frente, não há como reunir as peças.
Reconstruir é juntar os cacos, reorganizar as partes em torno daquilo que antes já foi um todo. Usar este procedimento pode ser de grande valia se estivermos reconstruindo boas memórias, sentimentos, ideias, sensações. Da mesma maneira a reconstrução pode ser um Calvário aos que retomam suas piores dores, seus piores pesadelos.

Rosemiro A. Sefstrom

sexta-feira, 14 de março de 2014

Retórica e “Fazetórica”

A palavra retórica pode ser encontrada em latim como rhetorica, mas sua origem é grega sendo originária do grego ητορικ τέχνη. Seu significado pode ser traduzido como a arte ou técnica de bem falar. De maneira mais completa, pode-se dizer que a retórica é a arte de usar as palavras para dizer o que se quer de forma eficaz e persuasiva. Esta arte era bem conhecida dos filósofos que discutiam desde o período grego com Sócrates sobre a falsidade do conhecimento ensinado pelos sofistas no uso da retórica. A estes profissionais não interessava a verdade ou falsidade nos seus ensinamentos desde que conseguissem com as palavras derrubar seu oponente.
Nas organizações, na política, nas igrejas não é muito diferente: existem muitas pessoas que fazem uso da arte de bem falar para convencer. Não há para algumas destas pessoas o compromisso com o que dizem, desde que convençam os ouvintes de que suas palavras são verdadeiras. Numa organização, existem muitos que têm teorias e receitas para tudo, que na hora de se posicionar são firmes, convencendo até aos mais experientes, mas é só. Muitas destas pessoas conseguem fazer tudo o que dizem somente nos seus pensamentos, na prática nada disso se concretizará. Não há nada de mais nisso, dependendo do local onde estiverem na empresa, ou seja, se estiverem em setores que precisam de teoria, ideias, divagações, perfeito, o problema é quando são alocadas em setores que precisam da “fazetórica”.
Diferentes daqueles que usam a retórica existem outros que são os ditos da “fazetórica”. Trago este termo de um ditado de um amigo que diz: “É muita retórica e pouca fazetórica”. Neste ditado ele expressa a opinião que não adianta teoria sem prática, como diz na Bíblia, a fé sem obras é morta. Por mais que algumas empresas já tenham adotado sistemas de participação nas melhorias, por mais que aproveitem as ideias de seus colaboradores, o que se precisa deles é a “fazetórica”. Tanto é que cada vez mais se encontram pessoas que trabalhavam na área produtiva da empresa e que, quando promovidas, desenvolvem ansiedade, depressão, síndrome do pânico. São pessoas que têm a prática mas não conseguem transformar a prática física em prática do pensamento. 
Num artigo anterior falei sobre decidir, neste artigo apontei que existe uma diferença entre decidir e fazer. Em Filosofia Clínica atendemos muitas pessoas decididas, com uma retórica perfeita, mas com uma “fazetórica” muito pobre. Em outras palavras, elas vivem nas ideias e não nas sensações. Para pessoas assim, decidir nada tem a ver com colocar em prática. Existem pessoas que padecem muito disso, decidiram e se convenceram via retórica que é hora de começar um regime, mas não conseguem ir às vias de fato. O que elas têm enquanto ideia não se torna prática. Numa organização há lugar para todos, tanto os que são especialistas em retórica quando os que são especialistas em “fazetórica”.
O ideal, digo ideal porque geralmente não é o que acontece, é que se conheça cada pessoa para saber se ela é das ideias ou das práticas. Combinar as qualidades teóricas e práticas pode ser interessante, mas há muitas atividades que só os teóricos poderão acessar, assim como existem atividades que só os práticos terão acesso. Voltando à Bíblia, pode-se citar a passagem de Marta e Maria onde Jesus mesmo aponta para uns a retórica e a outros a “fazetórica”.

Rosemiro A. Sefstrom

quinta-feira, 13 de março de 2014

Imediatismo

O imediatismo hoje é, na maior parte dos casos, tido como um problema que envolve grande parte das pessoas. Imediatismo, de acordo com o dicionário, é um sistema que funciona sem mediação, sem um termo de passagem. Isso indica que aqueles que desejam resposta imediata querem sair de onde estão e chegar ao objetivo sem percorrer o caminho, sem mediação. A mediação é o caminho que se deve percorrer para sair de onde está e chegar ao objetivo final. Esse caminho prevê tempo, e, quanto maior o objetivo, provavelmente maior será o tempo para alcançá-lo. No entanto, na sociedade atual, é desejado que o caminho seja cada vez mais curto, para praticamente tudo, inclusive para as terapias.
Pesquisas e mais pesquisas se colocam diante do desafio de produzir resultados cada vez maiores em menos tempo. A questão do imediatismo é típica de sociedades que têm como tônica o aumento da velocidade, onde o tempo parece cada vez menor para uma possibilidade cada vez maior de uso do mesmo. Se entendêssemos que a rapidez das motos, carros, aviões, trens, é apenas um dos sintomas de uma sociedade que está vivendo em alta velocidade, ficaria fácil perceber o imediatismo como sintoma.
É isso que acontece com um pai que procura uma escola de inglês com um método super revolucionário que ensina o conteúdo em três meses. O mesmo acontece com a mãe que procura uma clínica que faça com que ela fique com o visual de menina de academia em dois meses. O pai também entra na roda quando compra o carro que permite a ele fazer trechos cada vez maiores em menos tempo. A criança entra na velocidade dos pais ao pedir o vídeo game último lançamento, mas que em seis meses já está ultrapassado pois o console novo é dez vezes mais rápido.
Mas como perceber se eu estou vivendo rápido demais? Alguns, muito provavelmente nem leem artigos tão longos, dizem que se pode dizer mais em menos linhas, é provável, pois estes mesmos querem viver mais em menos dias. São pessoas de vida resumida, sexo resumido, alimentação resumida, carinho resumido, onde o todo é muito longo e enfadonho. Para saber se estão indo rápido demais olhem para a velocidade do passo na rua: caminham rápido? É muito provável que estejam muito mais rápidos no pensamento, e o corpo tenta em vão acompanhar o pensamento. Você percebe o caminho entre sua casa e o trabalho? A estrada, os carros, as pessoas, a belíssima serra que é parte marcante de nossa paisagem? Posso ainda perguntar se tem feito caminhadas, é provável que diga que sim, mas falo de caminhadas a passos lentos, sentindo o friozinho do inverno, ouvindo o cantar dos pássaros. Este tipo, provavelmente não.
Desacelerar, acalmar as ideias, para muitas pessoas é a cura para problemas como ansiedade, depressão, pânico. Desacelerar pode trazer a pessoa de volta ao corpo, ao espaço onde provavelmente a maior parte dos problemas desaparece. Pergunte-se a você mesmo: onde estão seus maiores problemas? No corpo? É provável que não. O pensamento, pelas possibilidades que apresenta, pode tanto criar grandes maravilhas como causar grandes estragos. O aumento de velocidade, assim como num carro, pode causar grandes problemas.
Para que isso não lhe aconteça preste atenção ao seu limite de velocidade: se estiver sendo imediatista, pode ser que seu limite tenha chegado. Ao observar o mundo se vai perceber que entre um bom inverno e o verão há a bela primavera. Se pulássemos direto do inverno para o verão perderíamos toda a beleza das flores.

Rosemiro A. Sefstrom

quarta-feira, 12 de março de 2014

Aceita um conselho?

Vamos ajudar esta pessoa! Leia atentamente a situação e depois pense em que conselho você daria a esta pessoa. “Sou casada há vinte e dois anos, tenho dois filhos, um com dezesseis e outro com dezenove anos. Meu casamento não vai bem há pelo menos cinco anos, mas piorou muito nos últimos anos. No começo era só um mal estar, uma vontade de não ficar perto dele, meu marido. Com o tempo de vontade passou a ser necessidade,não conseguia mais ficar nem perto dele, sentia repulsa de saber que aquele homem estava deitado na mesma cama que eu. Hoje dormimos em quartos separados, eu já teria me separado, mas ele insiste que temos que manter a família por causa dos meninos. Acho que já estão bem crescidos para entender que já não dá mais certo entre o pai e a mãe. O que você acha? Devo me separar?” O que você diria a esta pessoa? Pelos argumentos que ela descreveu, será que é mesmo a hora de separar?
Em Filosofia Clínica um dos procedimentos adotados chama-se Intencionalidade Dirigida. Este procedimento é utilizado com pessoas que precisam e aceitam conselhos, no sentido de alguém que lhes dê sugestão de quais atitudes deve tomar. Este procedimento é simples e com um pouco de cuidado é muito eficaz. Mas como saber se alguém aceita receber conselhos? Será que pessoas que pedem conselhos aceitam? Algumas pessoas quando pedem conselhos só escutarão o que você diz se as suas verdades estiverem de acordo com o que ela quer ou está pensando. Nestes casos o aconselhamento é simplesmente inútil porque a pessoa está em busca de alguém que possa validar as conclusões a que ela já chegou.
Para saber se uma pessoa realmente aceita conselhos observe expressões como: “Meu pai era o meu grande conselheiro; eu gosto de escutar as pessoas para aprender algo novo; minha mãe é quem me orienta”. Estas e muitas outras expressões mostram que a pessoa aceita ser aconselhada. O interessante é perceber que algumas destas pessoas só ouvirão conselhos de determinadas pessoas e não de qualquer um. Um exemplo legal são aquelas pessoas que se acostumaram a se aconselhar com o pai, por mais que outras pessoas tenham direcionamentos melhores ela somente ouvirá o pai. Em algumas culturas o conselho é dádiva de alguns poucos, somente aqueles homens tem as condições e podem ser consultados. Entre os índios, por exemplo, o pajé é a pessoa mais experiente, com conhecimentos avançados sobre a medicina natural e sobre estes assuntos será ele o conselheiro.
Mas como dar um conselho? Uma das formas mais fáceis é pegar a situação e devolver para a pessoa assim: “Pelo que você está me dizendo acho que você deveria fazer tal coisa”. Outra maneira fácil de dar conselhos é lembrar das vezes na vida em que você passou por situações parecidas. A partir dessa lembrança você orienta a pessoa de como ela deve agir para resolver sua situação e atingir um bem estar subjetivo. Só que ao dizer como eu fiz, trago todas as circunstâncias envolvidas na minha situação e esqueço que a situação da pessoa pode ser totalmente diferente. Algumas vezes o problema da pessoa só tem o mesmo nome que meu, mas é totalmente diferente.
Voltando à questão da mulher ilustrada lá no primeiro parágrafo, para aconselhá-la da maneira correta e depois de saber se ela aceita conselho seria indo à história de vida dela. Imagine que ela passou superficialmente pelo problema e deixou de dar muitas informações, como posso dizer o que fazer sem saber exatamente o que está se passando. Ao contar sua história saberei exatamente de que natureza é seu problema e quais seriam os possíveis caminhos que ela pode tomar sem que isso venha a causar males. No caso da mulher acima o conselho foi bem simples, depois de conhecer a história dela e conhecer bem o problema, bastou pedir que não morasse mais com sua sogra.


Rosemiro A. Sefstrom 

terça-feira, 11 de março de 2014

O prisioneiro

Há em Filosofia Clinica um tópico que se chama padrão e armadilha conceitual. Este tópico bipartido versa sobre os dois lados de uma mesma moeda. Algumas pessoas seguem seus dias desenvolvendo uma rotina. A isso chamamos de padrão. Do outro lado há pessoas que estão presas a certos comportamentos, como um trem preso a um trilho, do qual, por mais que queira não pode sair. A isso chamamos armadilha conceitual. Quem define o que é padrão ou o que é armadilha conceitual é sempre a pessoa.
Para entender melhor coloquemos uma situação dos dias de hoje, um “casamento de aparência”. Este é o caso em que um homem ou mulher permanece num relacionamento por uma necessidade outra que não a interseção entre os dois Essa necessidade pode ser posição social, ou seja, tanto o homem quanto a mulher permanece ao lado do outro para participar de certos círculos sociais. Pode também ser por causa dos filhos: o homem não se separa de sua mulher para continuar participando da vida dos filhos. Pode ser também por causa de dinheiro, ele ou ela podem continuar com o outro para permanecer desfrutando dos benefícios que o dinheiro pode comprar. Agora vem a pergunta: O casamento de aparência é um padrão ou armadilha conceitual?
A reposta é simples, não se sabe, vai depender da maneira como a pessoa significa sua circunstância. Caso o homem ou a mulher esteja vivendo esse casamento apenas de aparência por vontade, ou seja, vive desta maneira, mas se quiser sai a qualquer momento, provavelmente é um padrão. No entanto, se a pessoa vive certa situação da qual não consegue sair, sente-se preso, ai sim estamos falando de armadilha conceitual. Este tipo de amarra é chamada de armadilha conceitual porque a prisão só existe para a pessoa que vive, para uma pessoa que vê a situação de fora tudo seria facilmente resolvido.
Uma armadilha conceitual é, então, qualquer conceito ao qual uma pessoa sinta-se presa. Como nos casos anteriores, pode ser posição social, podem ser os filhos, pode ser o dinheiro, qualquer que seja o conceito que prende a pessoa, ai está a armadilha conceitual. Quando se diz que é a pessoa quem determina essa amarração é justamente porque só quem está realmente presa é ela. Se ela vive um casamento de aparência e não consegue sair, seja qual for o motivo, eis uma armadilha conceitual.
Assim como um padrão, a armadilha conceitual não é boa nem má, só podem ser consideradas a partir de um juízo de valor de acordo com a vida de cada um. Para você, fazer as coisas sempre iguais ou ter uma rotina faz bem? Ou o contrário, para você estar amarrado a certas coisas faz bem? Atendo muitas pessoas que chegam ao consultório desesperadas porque não sabem como viver com dívidas. Para estas pessoas uma dívida é uma prisão, elas sentem-se sufocadas por contas e precisam pagar para sair desta prisão. Enquanto conheço outras que dizem o contrário, dever é uma forma de estimular o trabalho, para estas a dívida é o que estimula. Dever para estas pessoas é o padrão e não tem nada de errado.
O padrão é uma linha condutora e a armadilha é o fim dessa mesma linha. Quando se chegar ao fim da linha e não souber como continuar se pode pedir ajuda. No entanto, cada um, a sua maneira, tem muitas ferramentas para criar os caminhos para além do fim da linha. Não há nada mais vasto que a alma humana, entre tudo o que se conhece e que está ainda por conhecer o ser humano é “in-conhecível”.

Rosemiro A. Sefstrom

segunda-feira, 10 de março de 2014

Os três poderes

Em Filosofia Clínica, o trabalho consiste em conhecer a história de vida da pessoa e, através dessa história, encontrar o seu modo de ser no mundo. Quando um filósofo clínico compreende o modo de ser no mundo de cada pessoa ele acaba por descobrir que ela tem conteúdos que lhe são determinantes. Os conteúdos determinantes podem ser emoções, lembranças, questões lógicas, questões de fé, assim será para cada um conforme sua história de vida. Conforme cada pessoa e cada situação, seus conteúdos determinantes norteiam a direção existencial da pessoa, orientando o filósofo clínico para o que precisa fazer.
Antes de aprofundar as questões referentes ao tópico determinante, vale lembrar um filósofo francês chamado Charles de Montesquieu. Esse filósofo viveu entre os anos de 1689 e 1755, bem nascido, com a morte de seu tio, herdou imensa fortuna e o título de Barão. Montesquieu se tornou ao longo da vida um crítico determinado e bem fundamentado contra do absolutismo. O absolutismo monárquico é uma forma de governo na qual o monarca (rei) concentra todos os poderes, tudo é decidido por ele. Um famoso rei que ficou quase que como símbolo do absolutismo foi Luiz XIV, que ao ser perguntado sobre quem seria seu primeiro ministro disse: “O Estado sou eu”.
Durante o período das monarquias absolutistas o povo pagava a conta dos luxos vividos pela corte, tanto na França quando na Inglaterra. Como o rei tinha poderes absolutos, durante um longo período a população não participou das decisões políticas que se davam no parlamento. Este também era fechado pelos reis para garantir que ninguém lhes poderia tolher a liberdade de decidir sobre o povo. Esse poder absoluto que os reis tinham e os gastos cada vez maiores levaram a França à falência. Pelas mãos de um único homem, por suas vontades e caprichos, se governava um país e, justamente por isso, este país quebrou.
Pelo pensamento de Montesquieu surge a ideia de dividir o poder dos reis em três, segundo ele, somente assim não haveria como se tomar decisões que só beneficiariam um lado. Ele propôs a forma de governo que tem o legislativo, executivo e o judiciário; essa forma de governo divide o poder e evita desmandos.
Algumas pessoas, quando o filósofo examina suas histórias de vida, percebe que possui tópicos determinantes que são como reis absolutistas. Tópicos que simplesmente comandam a vida da pessoa sem que ela se dê conta e mesmo quando percebe, algumas vezes nada consegue fazer. Segundo estas pessoas a “vontade” ou o “impulso” é mais forte, não se pode resistir aos mandos e desmandos desse tópico. O pior de tudo é que, às vezes, para determinada situação nem é o melhor tópico para aquele momento, aquela situação.
Uma situação corriqueira que pode mostrar muito do que está acima é a época das compras de Natal. Algumas pessoas saem de casa racionalmente cientes de que não podem gastar mais do que certo valor, mas quem manda em suas vidas é a emoção e esta, por sua vez, é bastante traiçoeira. A pessoa chega na loja, vê e gosta do produto, sabe que não pode comprar, mas mesmo assim compra. Depois passa dias sem dormir porque não sabe o que vai fazer para pagar, a emoção para ela foi absoluta, não deveria ou poderia, mas foi.

Rosemiro A. Sefstrom

quinta-feira, 6 de março de 2014

Vida Virtual

Segundo algumas pessoas, o computador é o grande responsável pelo novo estilo de vida: a vida virtual. No entanto, muito antes disso, a vida virtual já era vivida desde os tempos mais antigos através dos livros. Tempos depois se possibilitou a vida virtual pelo cinema, invento que revolucionou o entretenimento na França e se espalhou pelo mundo. Nos últimos tempos, o telefone logo se tornou uma forma de se viver virtualmente. Em nossos dias as ferramentas para uma vida virtual se tornaram muito próximas às pessoas. Diferente do livro, cinema, telefone, o ambiente virtual atual é aberto, envolvendo redes sociais, ou seja, o espaço é compartilhado por pessoas de diversos lugares.
O intuito aqui não é definir ou explanar sobre a vida virtual, mas fazer entender que tanto o virtual quanto o real é vida. Um filósofo, René Descartes, em seu trabalho filosófico coloca que nosso corpo é nada mais que um ponto de referência para nossa vida intelectual. Para ele a existência do mundo e das coisas que sentimos se dá pelo fato que Deus é perfeito e não nos enganaria. Para Descartes, assim como para Platão, há uma diferença entre a vida que se tem no intelecto, ou seja, no pensamento e a vida que levamos nas sensações, o corpo. Tanto um quanto o outro filósofo concordam que as sensações estão separadas dos pensamentos.
Em Filosofia Clínica se concorda que as senações e os pensamento estão separados, mas em cada pessoa se unem em diferentes intensidades. Assim, algumas pessoas têm uma vida mais focada nas ideias do que nas sensações. Outras pessoas têm uma vida mais sensorial do que no pensamento. Há ainda a ligação entre as sensações e o pensamento, sendo que a medida que os pensamento se ligam às sensações será o tanto em que um poderá interferir no outro.
E a vida virtual? O que tem a ver? A vida virtual é uma que se processa praticamente no pensamento, desprezando o corpo. É um tipo de vida que é tida como irreal por não envolver corpo e mente, mas somente o corpo. No entanto uma vida virtual para muitas pessoas é muito melhor e mais real do que aquela que elas levam no dia-a-dia. Não é difícil de perceber que o menino, a menina, sente que sua vida no Orkut, Facebook, twiter, etc, é tão real quanto a que ele está vivendo.
Levando esse sentido ainda mais longe, considere quantas pessoas vivem radicalmente o que acontece nas novelas que assistem. Pode-se dizer que só assistem, mas se pergunte quanto tempo será que a pessoa que assiste a estas novelas se dedica a pensar nelas? Quanto tempo será que se dedicam a pensar e comentar o Big Brother? Viver, assim como qualquer outra palavra só terá significado segundo cada pessoa. Não interessa se é virtual, real, esquizofrênica, esta vida será tão vida quanto qualquer outra, na medida que assim o seja para a pessoa.

Rosemiro A. Sefstrom

quarta-feira, 5 de março de 2014

Liderança

Em meu trabalho como Filósofo encontro, por vezes, uma questão interessante. Algumas pessoas que me procuram têm como demanda ou assunto último, como chamamos em Filosofia Clinica, a busca pela liderança, seja por sua situação na empresa, por uma exigência do cargo ou apenas por vontade de desenvolver essa característica. Mas, será que todos podemos ser líderes? Será que isso não é inato, em outras palavras, vem com a pessoa desde o seu nascimento? De fato, ainda não se sabe de onde vem, mas se tem bastante certeza que algumas características fazem a diferença entre um líder e um chefe.
As diferenças que apresento a seguir não foram criadas por mim, mas por Bernard Bass. Segundo ele “a condução de um grupo de pessoas, transformando-o em uma equipe que gera resultados é chamado de liderança”.  Em oposição à liderança existe o chefe ou a atitude de chefia, que seria aquela pessoa que no exercício de um cargo, por força de sua posição hierárquica, manda, exige. As diferenças entre um e outro são muitas, mas entre estas o destaque está em que a liderança independe de hierarquia. O líder é aquele que tem a capacidade de arregimentar as pessoas no seu entorno e conduzi-las numa determinada direção. O chefe tem o dever de fazer chegar em algum lugar e pela obediência dos subordinados cobra os resultados esperados.
Segundo Chiavenatto e Lacombe, existem diversos tipos e formas de liderança, de todas estas me apegarei a uma classificação. Segundo Lacombe a liderança pode ser exercida pelo poder legítimo ( pode ser um rei, o presidente de uma empresa, o poder de referência, um líder religioso, uma pessoa mais preparada) e o poder do saber, uma pessoa que sabe o que os outros não sabem.  Concordando e discordando dos autores anteriores podemos dizer que se quisermos classificar os tipos de liderança termos que criar inúmeros grupos e todos os que criarmos ainda não serão o suficiente. Entendo a classificação apenas como uma maneira de tentar abarcar o assunto com definições e termos que mostrem uma forma de se criar uma liderança.
É preciso entender que liderança, assim como tantas outras coisas, é uma habilidade que está totalmente enraizada dentro de questões como o tempo, lugar, circunstância e relação. Hoje, Inri Cristo é ridicularizado por se dizer filho de Deus, por se colocar ao nível de um filho de Deus vivo. No entanto, se voltarmos cinco mil anos no tempo veremos uma sociedade que tinha em seus líderes a presença de Deus na Terra: os Faraós. Isso que só consideramos neste exemplo apenas como fator o tempo. Podemos fazer isso só mudando de lugar, saímos do Brasil e vamos para o Irã. Lá, os líderes religiosos, hoje o aiatolá Ali Komenei, é o Guia Supremo, ou seja, um chefe religioso que comanda seu pais a partir da palavra de Deus. 
A condição de liderança deve ser construída levando em conta fatores externos, como os do parágrafo anterior, e internos. Algumas pessoas têm muita vontade de se tornarem líderes, mas têm pouca ou nenhuma capacidade de decidir ou de fazer decidir. Estou colocando apenas uma questão. Mas é possível sim ensinar uma pessoa a ser líder, porém, nem sempre ela está ou estará preparada para as conseqüências de ser um líder. Assim como os grandes, também os pequenos lideres têm oposição, desde um país até em uma sala de aula, ás vezes, até dentro de casa.
O exercício da liderança não tem conceito fixo em Filosofia Clinica, será um conceito a ser construído com a pessoa e de acordo com ela. Muitos serão ótimos lideres, alguns tantos descobrirão que liderar é coisa que serve para os outros, elas preferem obedecer, seguir.

Rosemiro A. Sefstrom