Eu Real
Durante uma conversa
com um líder de uma organização, entramos no assunto sobre as representações, sendo
que o líder em questão entendeu que cada pessoa é vista de maneira diferente
pelas outras que estão ao seu redor. O estalo veio no momento em que ele se deu
conta de que inclusive ele mesmo tem uma visão parcial de si. Esta conclusão o
levou fazer uma pergunta realmente filosófica: “Se cada um tem uma
representação sobre mim, inclusive eu mesmo, onde está o Eu Real?” Por alguns
instantes fiquei observando o nascimento de uma pergunta filosófica de fato,
depois fiz a mesma pergunta a mim mesmo. Para levar o leitor a fazer esta
pergunta a você mesmo vamos construir a argumentação tal como o líder
estabeleceu.
O ponto de origem da
conversa foi a proposta de se melhorar como pessoa e como liderança, para tanto
lhe foi proposto que observasse as referências externas como modo de se avaliar
internamente. Em outras palavras, seria necessário escutar as queixas do pai no
seu comportamento enquanto filho, também da sua mãe sobre o seu comportamento
enquanto filho. De modo diferente deveria observar o que seu diretor fala sobre
o seu papel de gerente, o que seu colaborador fala sobre seu papel como líder.
Assim, a partir destas várias referências, observar o que precisa melhorar em
cada um dos papeis. Ao que perguntou: “Mas como saber quem está falando algo
que realmente precisa ser melhorado?”
A primeira dica sobre
este aspecto é sempre ter mais de uma referência, observar várias pessoas e
compor com elas a informação. Pode acontecer que ainda assim as informações não
sejam fidedignas, não existe mágica. Uma segunda maneira de saber para qual
informação dar crédito é ter pessoas específicas que lhe conhecem de longa
data, estas pessoas podem ter maior clareza. Assim como a quantidade, a
qualidade das pessoas também está suscetível ao erro. Com base nestas opções o
líder ainda comentou que pode acontecer que a pessoa tenha clareza sobre si
mesmo em cada um dos contextos e saiba o que precisa melhorar. Ainda assim
podem haver erros, pois a representação que a pessoa tem de si mesmo pode estar
incorreta. E agora? Então como ver o Eu Real?
Se você fosse falar quem você é, esse seria o seu eu
real. No entanto esse mesmo eu não existe para os seus pais, para a sua esposa,
para seus amigos, para seus sócios ou colaboradores. A realidade depende de
cada um com quem convivemos, é o exemplo da pessoa com quem você trabalha oito
horas por dia e que lhe “conhece” melhor que sua esposa. O que acontece é que
ela tem muito mais tempo de convívio o que lhe permite ter mais informações
para elaborar uma ideia a seu respeito. Não necessariamente esta ideia é
verdadeira, mas é a conclusão a que ela chegou a respeito de quem você é. Mas
então, voltando ao início, como saber o que melhorar se cada um tem uma ideia
diferente a respeito de você?
As diferentes
representações não mudam o fato de que existe uma realidade consensual na qual
você está inserido. Um filho em uma família, um homem em uma cultura, um líder
em uma organização, cada um destes papeis exercidos está inserido em um
contexto. A partir do contexto em que está inserido vem a realidade consensual
que serve de base para avaliar o que precisa melhorar. Enquanto líder,
participando da realidade consensual de uma organização posso saber como me
aprimorar. Como homem numa cultura ocidental também tenho os parâmetros de como
posso melhorar. Os parâmetros consensuais unidos aos subjetivos são guias que
podem mostrar como o Eu Real pode ser aperfeiçoado.
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