Entradas e saídas
“Não joga fora não, um
dia posso precisar para alguma coisa”. Existem pessoas que juntam tudo o que
podem e guardam com a justificativa de que um dia podem precisar. Elas guardam
desde pequenos objetos, que realmente podem ter uso até objetos que não terão
serventia alguma. Existem casos extremos em que chegam a guardar alimentos,
sementes, pedaços de madeira, tecidos, ou qualquer outro objeto. Os objetos que
elas juntam ocupam espaços, precisam de um lugar para serem alocados na casa e
pela falta de arrumação acabam por servir de esconderijo para insetos, ratos e
outras coisas. Por serem objetos velhos, muitos deles sujos, logo começam a
criar mofo e espalhar doenças. Quem convive com pessoas assim logo nota que sua
“mania” não é saudável e tentam intervir para mostrar os males que podem
decorrer disso. Esse procedimento de juntar recebe o nome de adição em
Filosofia Clínica, a pessoa soma uma coisa a outras que já existiam naquele
local.
Assim como algumas
pessoas trazem coisas para casa justificando sua utilidade futura, também
existem aqueles que levam coisas pela vida que não precisariam levar. Na casa
existe uma quantidade possível de se guardar, tendo em vista o tamanho do
local, assim também é com as pessoas. Cada um tem um espaço interno para
guardar o que soma pela vida até que tenha de colocar para fora para que outras
coisas possam ocupar o lugar. Em alguns o espaço de adição é muito grande, elas
levam muito tempo neste processo até que precisem descarregar. Do outro lado
existem as pessoas com um espaço para adição muito pequeno e pouco depois de
começarem as adições precisam colocar para fora. Tanto os que adicionam pouco
quanto os que adicionam muito, cedo ou tarde precisarão arrumar um destino para
este conteúdo. Em algumas pessoas o lugar onde o conteúdo será descarregado é o
corpo, ele será o receptáculo para o que foi guardado durante um tempo. Outras
pessoas descarregam tudo nas suas abstrações e tendem a caminhar em direção às
ideias complexas, em outras palavras, desconectar-se do mundo.
A adição é como uma
conta matemática qualquer e qualquer conteúdo pode ser somado. Como o ser
humano é muito rico em vivências, ele tanto pode somar jóias, dinheiro, como
mágoas, ressentimentos, raiva. Algumas pessoas passam pela vida como lixeiras
existenciais, vivem com um propósito, coletar e catalogar o que há de ruim em
seu caminho. Estas pessoas, de um dia que viveram, guardam o sol que não saiu,
a roupa que não secou, a casa que ficou suja, o negócio que não deu certo, a
ofensa de um amigo. Vivem como lixeiros existenciais, guardam tudo aquilo que
deveria ser jogado fora. Aos poucos adoecem existencialmente, o que não é de
estranhar pois guardam rancor, mágoa, ódio, tristeza. Poderiam amanhecer e ver
o nascer do sol, sentir o amor da esposa, ver a bondade de um amigo, viver a fé
em deus, acumular coisas boas.
Depois de um tempo
somando é hora de colocar para fora este conteúdo. Se passou a vida juntando
sofrimentos, dores, agonias, maus pensamentos é provável que quando for colocar
para fora é isso que saia. Se isto for sair em direção ao corpo pode aparecer
como uma úlcera estomacal, afta, dores de cabeça, alergias, e tantas outras
coisas ruins. Mas, se passou o tempo juntando coisas boas, amor, alegria,
amizade, bons filmes, músicas, quando este conteúdo for em direção ao corpo
será uma pele lisa, vitalidade, disposição. Em algumas pessoas o conteúdo é
despejado no corpo, em outras pode ser as ideias, o mundo, no que acha de si
mesma, etc.
É importante lembrar
que algumas pessoas não fazem adição, fazem outros processos para gerenciar
seus conteúdos. Aos que fazem a adição, não há nada de errado, mas é preciso
prestar um pouco de atenção ao que tem somado nos últimos tempos. Não é de
espantar que pessoas que somem coisas ruins e suas vidas não pareçam boas.
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