Corpo ou objeto?
Há no Brasil um
fenômeno que começou por Santa Catarina, o leilão da virgindade. Começou porque
já há uma segunda candidata ao mesmo ato, uma paulistana que afirma fazer esse
sacrifício para ajudar sua mãe. Não há o interesse em lidar com abertura de
precedentes, com questões éticas, mas de se ver com outros olhos a abertura de
concorrência pública para retirada da virgindade. O interesse em especial na
concorrência está na forma como o acontecimento é tratado, pela forma como os
próprios veículos de comunicação que abominam, ao mesmo tempo divulgam. O fato
é, uma moça, no uso de sua liberdade individual decidiu abrir concorrência
pública, ou seja, estimulou a livre concorrência para a venda de seu produto.
Pode ser novidade para
muitos o que estão vendo pela televisão, mas não faz muito, uma novela de
horário nobre passava uma mãe tratando a virgindade da filha como um produto.
Naquela novela a mãe tratava a virgindade da filha como um produto de barganha
que deveria ser utilizado para tentar obter um futuro financeiramente
garantido. A diferença é que ali estava na novela, inserido num contexto onde a
“novela imita a vida”, segundo os próprios autores. A realidade é assim também,
realidade em que muitas meninas fazem de si mesmas produtos que são colocados
na vitrine esperando um bom comprador. Algumas, que se mantém dentro dos
padrões da moda conseguem bons compradores, outras não tem a mesma
“felicidade”. Lembrando que a compra dá o entendimento de propriedade, ou seja,
aquele que paga pode fazer uso da maneira que lhe aprouver e quando não quiser
mais, joga fora.
Para os mais velhos que
se espantam com a indecência dessas moças que leiloam a virgindade, pensem num
homem antigo que casava. Ela, muitas vezes se mantinha intocada para um grande
casamento, na verdade era um péssimo marido. O negócio dela de se manter virgem
era para arrumar um bom marido, um homem decente, muitas conseguiam péssimos
maridos, ou seja, se manter virgem foi um péssimo negócio. A relação que se
está estabelecendo é de negócio, de uma pessoa que tem um produto que muitos
querem, simples assim.
O que assusta muitas
pessoas é o fato de uma moça ter vindo a público e leiloado sua virgindade, o
problema para elas é o público. Segundo muitos isso é uma questão pessoal, mas
estes mesmos que apregoam uma moral de certo e errado, de público e privado,
assistem o Big Brother e torcem por cenas de sexo ao vivo. Qual seria a
diferença entre essa menina que ganhará muito bem pela sua virgindade e aqueles
que também ganharam muito bem por transarem ao vivo? Demonizar ou justificar o
que está acontecendo seria um tanto arriscado, mas que tal tentar entender?
A relação que cada um
estabelece com o que chamamos de corpo é diferente. Para muitos e muitas o
corpo não passa de um produto, que pode e deve ser modificado para atender às
necessidades e expectativas do mercado. O corpo esse de carne e osso pode ser a
menor parte da pessoa e justamente por isso ela não se importa, pode
simplesmente vender, leiloar, trocar por uma voltinha de carro, bebidas caras,
camarotes e tantas outras coisas. O problema é que algumas pessoas não entendem
que produto só tem valor enquanto estiver do agrado do cliente.
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