Propagação do EU
Prazer, meu nome é
Rosemiro A. Sefstrom. Para você que acompanha semanalmente o que escrevo, quem
sou? A descrição que fizer de mim é aquilo que de mim, chega antes mesmo que
tenhamos qualquer contato. Pode ser que um dia nos encontremos pela rua, você
converse comigo e diga: “Mas este não é o Rosemiro que escreve no jornal, é
diferente”. De acordo com Heidegger o que se propaga de mim chega antes de mim
pelo que vivi até o momento, em outras palavras, sou o reflexo do meu passado. Agora,
este reflexo existe na medida em que está sendo construído. Caso eu pare,
comece ser diferente, provavelmente o meu futuro EU também já não será o mesmo.
Para o filósofo Heidegger, o Ser está atrelado ao Tempo, daí o nome de sua obra
prima Ser e Tempo.
Dando continuidade aos
trabalhos de Heidegger vem o filósofo Francês Jean Paul Sartre, conhecido por
ser o fundador do existencialismo. Este filósofo se apropria do conhecimento da
obra de Heidegger e escreve “o Ser e o Nada”. Nesta obra o filósofo trabalha o
conceito de liberdade em seu extremo, dizendo que o homem está condenado a ser
livre, em todo momento é ele quem escolhe. Em Sartre o homem é sempre
responsável por aquilo que escolhe, não pode de maneira alguma outorgar sua
liberdade de escolha ao outro, pois, segundo ele, até mesmo quando outorga sua
liberdade de escolha foi por opção que o fez. Completando Heidegger pode-se
dizer que Sartre leva o Ser, a existência na direção da responsabilidade do que
propaga de si.
Sendo até certo ponto
simplista ao falar de modo vulgar sobre as obras de Heidegger e Sartre quero
acrescentar que a cada momento sou responsável pelo que se propaga de mim na
direção futura e na direção do outro. Então, você, quando chega a algum lugar e
a opinião que se tem de você não é das melhores é provável que seja isso que se
propagou de você pela sua maneira de ser. Na prática, se seu nome é anunciado
por alguém antes mesmo de você chegar e a opinião a seu respeito é ruim, foi
isto que se propagou de você. Não há como responsabilizar o seu passado pelas
suas escolhas, porque a cada momento há uma nova escolha. É responsabilidade
minha, sua, nossa, construir o nosso ser, da maneira que melhor nos aprouver ou
da maneira que soubermos fazer.
Tanto Heidegger quanto
Sartre foram vítimas de suas próprias filosofias, pois Heidegger passou a ser
conhecido como o filósofo do nazismo, assim como Sartre ficou conhecido como o
filósofo comunista. Tanto um quanto outro são provas de que o que viveram se
propagou para depois deles e sua vida continua mesmo depois de sua morte. De
certa maneira ainda são Ser, ou seja, ainda existem entre nós, participam
ativamente de nossas vidas e em muitos casos governam nossos destinos. Ser é um
exercício constante, no qual somente EU me atualizo a cada instante, sou EU em
construção.
Você, enquanto lê pode
olhar para a própria vida, para as próprias escolhas e dizer: “Mas o que se
propaga de mim não sou eu mesmo”. Pode não ser o que você deseja ser, mas é o
que “está sendo”, ou, como pode ser lido em Heidegger, é o que está posto. EU
posso ser quem eu quiser, tenho liberdade para escolher, não posso colocar
culpa no passado, nem nas amarras que tenho, sou sempre eu mesmo obrigado a ser
livre, condenado a escolher. Humano, ser que se propaga para além de si mesmo e
pode construir-se a cada momento de sua existência: assim somos Nós.
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