Encontro Nacional

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terça-feira, 26 de agosto de 2014

Rótulo!
                                                
Acordei pela manhã, olhei para o lado, uma linda mulher diz: “Amor!” Meu coração derrete, sou um romântico apaixonado, cheio de amor para compartilhar com ela. Levanto, me preparo e vou para a cozinha, lá um menino de uns 16 anos diz: “Pai!”. Fico sisudo, com cara de quem está organizando um time de futebol, converso em tom sério, poucas palavras, mas todas com medidas exatas. Trato com carinho, mas com cuidado para não deixar de entender que pai é aquele que comanda a família. Logo depois, um pouco atrasada chega à mesa do café uma pequena de 04 anos e diz: “Paizinho!” Mesmo sério, o coração derrete, pego a pequena no colo, faço brincadeiras com ela e encaminho seu café.
Ao sair de casa encontro pela estrada pessoas que me chamam de vizinho, ou seja, alguém que está próximo a eles. Nesse papel, sou uma pessoa admirada, correta, que tem boas relações com as pessoas próximas ao local onde moro. Ainda pela estrada em direção ao meu trabalho, sou parado pela polícia que faz uma blitz. Para estes, sou motorista, não interessa a eles se sou marido, pai, paizinho ou vizinho. A eles cabe avaliar-me como condutor, pedem meus documentos e os do veículo e analisam para saber se sou bom motorista.
Alguns minutos depois, estou na empresa onde trabalho. Logo na entrada, uma moça ao telefone me chama de senhor. No caso dela, senhor porque sou encarregado daquele setor. Como senhor, chefe ou encarregado, um dos muitos nomes que dão para os gerentes administrativos sou um homem duro, com poucas palavras e muita ação. Comando meus colaboradores com tranquilidade, pois sou respeitado pela minha trajetória na empresa. Quando chego ao meu setor de trabalho, minha mesa para ser mais exato, encontro meus colegas de trabalho, pessoas que compartilham o cargo de gerência em outros setores. Com estes minha relação é de iguais, tanto para mim quanto para eles procuro agir de maneira a privilegiar a empresa e não o gerente X ou Y. E assim passo o meu dia.
Na volta para casa encontro minha mãe, para quem sou o filho, neste caso nada interessante. Para minha mãe sempre fui o filho problemático, aquele que mais deu trabalho, que tinha tudo para ser o dono da empresa, mas sou gerente. Sou também aquele que casou com a mulher errada e assim por diante, mas, segundo ela, ela me ama mesmo assim. Chegando em casa encontro minha esposa e retomo minha rotina de marido, pai e paizinho.
Aqui misturei dois ingredientes muito interessantes. O primeiro deles é o Papel Existencial que tenho em cada um dos lugares em que passo. Esse papel existencial é como um rótulo que uso e com ele todas as atribuições referentes a este rótulo. Mas adicionei também o que penso de mim mesmo em cada um destes rótulos ou Papéis Existenciais. Porque algumas vezes sou o meu papel existencial, ou seja, algumas vezes sou pai mesmo, marido, e tenho as características que o rótulo exige. Em outros casos, são outras pessoas que vêem e identificam singularidades que me fazem ser isto ou aquilo, não sou eu que digo de mim, mas outras pessoas.
Algumas vezes o que penso de mim mesmo e/ou os meus papeis existenciais combinam. São aqueles casos em que a pessoa tem clareza do papel que exerce em cada momento de sua vida. Existem os casos contrários, em que a pessoa não tem a menor ideia a respeito de si própria e assume o que é dito pelos outros, vivendo a mercê do que os outros lhe impuserem como rótulo. Há muitas possibilidades, mas podemos pensar em duas: na primeira eu me torno refém da ideia que tenho a respeito de mim mesmo, e na segunda torno-me refém de pessoas que algumas vezes nem conheço.


Rosemiro A. Sefstrom

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