Retórica e “Fazetórica”
A palavra retórica pode
ser encontrada em latim como rhetorica, mas sua origem é grega sendo originária
do grego ῥητορικὴ τέχνη. Seu significado
pode ser traduzido como a arte ou técnica de bem falar. De maneira mais
completa, pode-se dizer que a retórica é a arte de usar as palavras para dizer
o que se quer de forma eficaz e persuasiva. Esta arte era bem conhecida dos
filósofos que discutiam desde o período grego com Sócrates sobre a falsidade do
conhecimento ensinado pelos sofistas no uso da retórica. A estes profissionais
não interessava a verdade ou falsidade nos seus ensinamentos desde que
conseguissem com as palavras derrubar seu oponente.
Nas
organizações, na política, nas igrejas não é muito diferente: existem muitas
pessoas que fazem uso da arte de bem falar para convencer. Não há para algumas
destas pessoas o compromisso com o que dizem, desde que convençam os ouvintes
de que suas palavras são verdadeiras. Numa organização, existem muitos que têm
teorias e receitas para tudo, que na hora de se posicionar são firmes, convencendo
até aos mais experientes, mas é só. Muitas destas pessoas conseguem fazer tudo o
que dizem somente nos seus pensamentos, na prática nada disso se concretizará.
Não há nada de mais nisso, dependendo do local onde estiverem na empresa, ou
seja, se estiverem em setores que precisam de teoria, ideias, divagações,
perfeito, o problema é quando são alocadas em setores que precisam da
“fazetórica”.
Diferentes
daqueles que usam a retórica existem outros que são os ditos da “fazetórica”.
Trago este termo de um ditado de um amigo que diz: “É muita retórica e pouca
fazetórica”. Neste ditado ele expressa a opinião que não adianta teoria sem
prática, como diz na Bíblia, a fé sem obras é morta. Por mais que algumas empresas
já tenham adotado sistemas de participação nas melhorias, por mais que
aproveitem as ideias de seus colaboradores, o que se precisa deles é a “fazetórica”.
Tanto é que cada vez mais se encontram pessoas que trabalhavam na área
produtiva da empresa e que, quando promovidas, desenvolvem ansiedade,
depressão, síndrome do pânico. São pessoas que têm a prática mas não conseguem
transformar a prática física em prática do pensamento.
Num
artigo anterior falei sobre decidir, neste artigo apontei que existe uma
diferença entre decidir e fazer. Em Filosofia Clínica atendemos muitas pessoas
decididas, com uma retórica perfeita, mas com uma “fazetórica” muito pobre. Em
outras palavras, elas vivem nas ideias e não nas sensações. Para pessoas assim,
decidir nada tem a ver com colocar em prática. Existem pessoas que padecem
muito disso, decidiram e se convenceram via retórica que é hora de começar um
regime, mas não conseguem ir às vias de fato. O que elas têm enquanto ideia não
se torna prática. Numa organização há lugar para todos, tanto os que são
especialistas em retórica quando os que são especialistas em “fazetórica”.
O
ideal, digo ideal porque geralmente não é o que acontece, é que se conheça cada
pessoa para saber se ela é das ideias ou das práticas. Combinar as qualidades
teóricas e práticas pode ser interessante, mas há muitas atividades que só os
teóricos poderão acessar, assim como existem atividades que só os práticos
terão acesso. Voltando à Bíblia, pode-se citar a passagem de Marta e Maria onde
Jesus mesmo aponta para uns a retórica e a outros a “fazetórica”.
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