Re-unir os cacos!
Em Filosofia Clinica existe um
procedimento clinico, ou seja, uma ferramenta que o filósofo usa no seu
trabalho que se chama reconstrução. A própria palavra já diz praticamente tudo,
é uma ferramenta que possibilita ao terapeuta remontar à pessoa situações que
viveu e que se perderam. No dia-a-dia muitas pessoas já usam a reconstrução,
fazem o processo de recuperar antigas vivências, mas nem sempre de maneira
produtiva. O terapeuta, quando precisa usar esta ferramenta, ele sabe o que vai
reconstruir junto com a pessoa. O relato Werther no livro Os sofrimentos do
jovem Werther mostra um pouco de como funciona essa técnica.
“Foi um magnífico nascer do sol:
a floresta úmida e a planície cochilavam. Ela perguntou-me se eu não queria
fazer o mesmo acrescentando que eu não me acanhasse por causa dela.
_ Enquanto eu puder ver esses
olhos abertos – respondi, olhando-a intensamente -, não corro o risco de
adormecer ”. (Página 37)
No relato acima a pessoa reconstruiu
boas memórias, um momento em que provavelmente viveu algo muito bom. Mas nem
sempre é assim, existem muitas pessoas que passam os dias retomando memórias,
emoções, sensações, muito ruins. Estas pessoas habilidosamente pegam um evento
em sua vida que lhes causa grande sofrimento e retomam desde o início até o
fim. Em cada pedaço de sofrimento, até que este sofrimento esteja presente
agora, assim como foi no passado. O
problema é que estas pessoas fazem reconstruções de coisas que lhes fazem mal,
usam uma ferramenta poderosa para machucar a si própria e os que a rodeiam.
Outras pessoas ao longo da vida
quebram, uma empresa, um casamento, um namoro, uma amizade. Os motivos pelos
quais elas quebram não vem ao caso, mas interessa saber que muitas delas querem
reconstruir o que quebrou. Algumas destas pessoas reconstroem tudo com tanta
perfeição que até mesmo os defeitos que haviam na empresa, relação. Esse tipo
de reconstrução levará a pessoa a reviver tudo novamente, ou seja,
provavelmente irá quebrar outra vez.
Há quem diz que se reconstruir um
casamento faz com que ele não seja mais o mesmo, verdade. Em muitos casos ele
fica muito melhor, algumas pessoas, diferente daquelas do parágrafo anterior,
quando reconstroem, elas aprendem com os erros de sua última construção.
Pessoas assim costumam caminhar para frente, aprendendo com as vezes que
quebraram.
No entanto, muitas pessoas não
usam este procedimento, muitas pessoas quebram e deixam os pedaços pelo
caminho. Para estas o passado é diferente do presente, que vai ser diferente do
futuro e não há motivos para ficar reconstruindo se podemos fazer coisas novas.
Para quem vive com pessoas que não fazem reconstrução uma dica, quando estas
pessoas quebrarem algo, provavelmente não tem volta. E elas pode quebrar um
casamento, uma amizade, um grande amor, mas mesmo querendo, não vão voltar.
Para estas pessoas a vida só caminha para frente, não há como reunir as peças.
Reconstruir é juntar os cacos,
reorganizar as partes em torno daquilo que antes já foi um todo. Usar este
procedimento pode ser de grande valia se estivermos reconstruindo boas
memórias, sentimentos, ideias, sensações. Da mesma maneira a reconstrução pode
ser um Calvário aos que retomam suas piores dores, seus piores pesadelos.
Rosemiro A. Sefstrom
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