Ser - Humano
Há em filosofia alguns
termos ou formas de se abordar as relações. Tais termos foram trabalhados nos
últimos artigos. O tema das relações está presente em nosso cotidiano,
reforçado por determinadas notícias que se espalham pela televisão, internet e
outros veículos de comunicação. Sendo assim, acredito ser pertinente, por
exemplo, a notícia que apareceu numa terça-feira, dia 07 de fevereiro de 2012,
referente à troca de casais que está ocorrendo num programa de televisão.
Parece que aos poucos a relação entre uma pessoa e outra pessoa está se
tornando uma relação entre uma pessoa e um objeto. É interessante observar que este
comportamento não se vê só lá na televisão, também se vê no dia-a-dia, em casa,
na escola, no trabalho, etc.
Nos artigos anteriores,
talvez a linguagem usada, por se tratar de filosofia, tenha ficado um tanto
inacessível. No presente artigo, usarei argumentações muito simples. Em
Filosofia Clínica, há um termo chamado Interseção de Estruturas de Pensamento,
ou seja, a relação que se dá entre dois seres vivos, a relação que se dá como
troca. A Interseção de Estruturas de Pensamento supõe que eu entre em contato
com o outro na medida em que ele entra em contato comigo, o outro pode ser uma
pessoa ou mesmo meu animal de estimação. O outro na interseção é alguém que,
como eu, contribui na relação e não é objeto dela. Uma interseção de EP, como é
mais comumente conhecida, pode ser positiva, negativa, variável ou indefinida.
Desenvolver uma
interseção, ou seja, amarrar laços com outra pessoa é se colocar e receber o
outro num espaço de construção coletiva. Esse espaço normalmente não depende
somente de uma das partes, mas das duas partes. Se, pela manhã você vai até a
padaria comprar pães e é gentil com o vizinho que mora duas casas além da sua
na direção da padaria, será que lhe será grosseiro? Ainda que ele o seja, a
parte para a construção de uma interseção positiva partiu de você. Uma relação
agradável na qual tanto eu quanto o outro estejam bem é uma interseção
positiva.
Quanto você sai nervoso
pela manhã, entra em seu carro e se transforma, fica grosseiro, mal educado,
será recebido com gentileza? Neste exemplo, caso a interseção ocorra de maneira
negativa, partiu de você. Este tipo de interseção se dá quando uma ou as duas
partes não se sentem bem na relação.
Uma relação na qual você
está com a pessoa e hora está bem, hora está mal, tanto para você quanto para
ela, é uma interseção variável. E há ainda interseções que acontecem e que não se
pode dizer se são positivas ou negativas, sendo caracterizadas provavelmente por
indefinidas.
Mas veja, em todo o
caso, as interseções se dão entre seres com vontade própria, com arbítrio sobre
suas ações, pelo menos até certo ponto. Em se tratando de pessoas, não é você e
nem ele o culpado, mas vocês. Mas, e numa relação com objetos inanimados, quem
é o culpado quando o objeto estraga? Quem é o culpado pelo mal uso de um
objeto? Diferente de uma interseção, onde você e o outro têm vida, numa relação
em que você coloca o outro como algo separado, este outro se tornou objeto.
Você, por si mesmo, pode se fazer objeto quando não entrar em interseção
consigo mesmo como pessoa.
Ser: uma palavra que
define movimento, indica o que cada um é agora, mas isto a partir de si mesmo e
do outro. Uma interseção, ou seja, uma relação entre dois seres deve ser
construída num espaço comum aos dois seres. Relacionar-se com coisas é se
colocar acima delas, ter o poder de fazer nascer e morrer, talvez. O
entendimento de que você não é objeto e o outro não é objeto deveria fazê-lo compreender
que a sua vida está diretamente ligada a do outro, seja ele quem for.
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