Encontro Nacional

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sexta-feira, 11 de abril de 2014

Arapuca

Numa conversa com um amigo fiquei sabendo de um artigo escrito por Eliane Brum que tem por título “Meu filho... você não merece nada!!!” É um texto interessante e realmente recomendo a leitura. No texto a autora começa por mostrar como os pais criaram armadilhas nas quais eles mesmos estão ficando presos. São uma geração de pais ( nem todos) que criam os filhos com tudo o que eles não tiveram, inclusive a falta de educação, juízo de valor, senso de coletividade, vontade de vencer. Enfim, como diz a Elaine Brum, “nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito”. Essa ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito faz com que, cada vez mais, os pais se tornem refém da felicidade dos filhos.
É provável que você já tenha ouvido a expressão: “Vou dar ao meu filho o que o meu pai não pode me dar”. Essa expressão não é de todo ruim, em muitos casos o pai não dava carinho, atenção, amor, educação, orientação, mas em geral essa afirmação está relacionada apenas com bens materiais. São pais que atingiram uma posição social cômoda e que têm para dar aos filhos “o que os pais não tinham para dar” desconsiderando que muitos filhos, que eles mesmos criam, são como poços sem fundo: quanto mais os pais derem, mais terão que dar. No dia em que o pai não tem mais como oferecer aquele manancial de coisas à criança, jovem e muitos adultos, os filhos voltam-se contra os pais porque eles têm o direito de ter o que querem. O pai e a mãe podem estranhar, mas foi exatamente o que eles ensinaram aos filhos a vida toda: que eles iriam ter tudo. A armadilha que muitos pais estão se metendo é fruto de uma visão míope, onde ter conforto pode significar viver melhor.
Muitos destes pais, no entanto, esqueceram até rápido demais que quando pequenos a falta do que comer lhes fez buscar. Muitos não lembram que a ausência dos bens não significou a ausência do pai, da orientação, da educação. Muitos pais de hoje em dia fazem o contrário: dão uma imensidão de coisas os filhos e se eximem de serem pais. O que espanta em muitos casos é a falta de uma visão sobre si mesmos como pais, de modo que se veem nas escolas mãe que dizem: “já não dou mais conta do meu filho”. Aí ficam os professores reféns de pais que não dão limites aos filhos, mas dão tênis caro, roupa cara, passeios caros.
Estes pais se tornam reféns do assalto dos filhos dentro do supermercado, onde gritam, esperneiam até que ganham o que querem. Tornam-se reféns da educação que deram aos filhos, pois não conseguem perceber que a arapuca na qual estão presos foi construída com muito zelo por eles mesmos. Em Filosofia Clínica essa prisão, amarra, chama-se Armadilha Conceitual, ou seja, um conceito que prende alguém. A Armadilha Conceitual do qual muitos pais se tornaram reféns foi o conceito de filho, crianças que perderam noções básicas ou tem visões distorcidas a respeito de si próprios e do mundo onde vivem.
Estar preso ao filho que criou pode ser falta de conhecimento, vontade, sabedoria, ajuda, enfim, pode ser muitas cosias. Mas, continuar prisioneiro de alguém que no futuro vai muito provavelmente acusar a você pelos prováveis insucessos é uma escolha. Existem pessoas, livros, vídeos, programas de televisão que sugerem formas de educação nas quais o filho não é uma arapuca, uma prisão, mas uma pessoa com quem se vai curtir a vida. Ter um filho companheiro, não credor, ter um filho amigo, não aliado político, ter um filho carinhoso, não interesseiro, é possível, mas é preciso que os pais saibam educar. Pense nisso: talvez muito do que você não teve fez de você quem você é.

Rosemiro A. Sefstrom

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