Arapuca
Numa conversa com um
amigo fiquei sabendo de um artigo escrito por Eliane Brum que tem por título
“Meu filho... você não merece nada!!!” É um texto interessante e realmente
recomendo a leitura. No texto a autora começa por mostrar como os pais criaram
armadilhas nas quais eles mesmos estão ficando presos. São uma geração de pais
( nem todos) que criam os filhos com tudo o que eles não tiveram, inclusive a
falta de educação, juízo de valor, senso de coletividade, vontade de vencer.
Enfim, como diz a Elaine Brum, “nossa época tem sido marcada pela ilusão de que
a felicidade é uma espécie de direito”. Essa ilusão de que a felicidade é uma
espécie de direito faz com que, cada vez mais, os pais se tornem refém da
felicidade dos filhos.
É provável que você já
tenha ouvido a expressão: “Vou dar ao meu filho o que o meu pai não pode me
dar”. Essa expressão não é de todo ruim, em muitos casos o pai não dava
carinho, atenção, amor, educação, orientação, mas em geral essa afirmação está
relacionada apenas com bens materiais. São pais que atingiram uma posição
social cômoda e que têm para dar aos filhos “o que os pais não tinham para dar”
desconsiderando que muitos filhos, que eles mesmos criam, são como poços sem
fundo: quanto mais os pais derem, mais terão que dar. No dia em que o pai não
tem mais como oferecer aquele manancial de coisas à criança, jovem e muitos
adultos, os filhos voltam-se contra os pais porque eles têm o direito de ter o
que querem. O pai e a mãe podem estranhar, mas foi exatamente o que eles
ensinaram aos filhos a vida toda: que eles iriam ter tudo. A armadilha que
muitos pais estão se metendo é fruto de uma visão míope, onde ter conforto pode
significar viver melhor.
Muitos destes pais, no
entanto, esqueceram até rápido demais que quando pequenos a falta do que comer
lhes fez buscar. Muitos não lembram que a ausência dos bens não significou a
ausência do pai, da orientação, da educação. Muitos pais de hoje em dia fazem o
contrário: dão uma imensidão de coisas os filhos e se eximem de serem pais. O
que espanta em muitos casos é a falta de uma visão sobre si mesmos como pais, de
modo que se veem nas escolas mãe que dizem: “já não dou mais conta do meu filho”.
Aí ficam os professores reféns de pais que não dão limites aos filhos, mas dão
tênis caro, roupa cara, passeios caros.
Estes pais se tornam
reféns do assalto dos filhos dentro do supermercado, onde gritam, esperneiam
até que ganham o que querem. Tornam-se reféns da educação que deram aos filhos,
pois não conseguem perceber que a arapuca na qual estão presos foi construída
com muito zelo por eles mesmos. Em Filosofia Clínica essa prisão, amarra,
chama-se Armadilha Conceitual, ou seja, um conceito que prende alguém. A
Armadilha Conceitual do qual muitos pais se tornaram reféns foi o conceito de
filho, crianças que perderam noções básicas ou tem visões distorcidas a
respeito de si próprios e do mundo onde vivem.
Estar preso ao filho
que criou pode ser falta de conhecimento, vontade, sabedoria, ajuda, enfim,
pode ser muitas cosias. Mas, continuar prisioneiro de alguém que no futuro vai
muito provavelmente acusar a você pelos prováveis insucessos é uma escolha.
Existem pessoas, livros, vídeos, programas de televisão que sugerem formas de
educação nas quais o filho não é uma arapuca, uma prisão, mas uma pessoa com
quem se vai curtir a vida. Ter um filho companheiro, não credor, ter um filho
amigo, não aliado político, ter um filho carinhoso, não interesseiro, é
possível, mas é preciso que os pais saibam educar. Pense nisso: talvez muito do
que você não teve fez de você quem você é.
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