É mesmo!
A expressão do título do
presente artigo é muito utilizada quando conversamos com outra pessoa e
concordamos com ela. Geralmente ela é utilizada para dizer que estamos de
acordo com o que o outro diz. É como e eu lhe dissesse: “O dia está lindo hoje!”,
e você, para dar continuidade sem se estender pode dizer: “É mesmo!” Veja, ao
concordar comigo você torna parte de você a minha afirmação, ou seja, como se
fosse você mesmo que tivesse dito que o dia está lindo. Do mesmo modo funciona
para todas as outras coisas, segundo Emmanuel Levinas. Quando você olha uma
bela paisagem e fica com aquela imagem em sua mente, a partir daquele momento ela
já não é mais ela mesma, paisagem, agora é você.
Este “é”, uma pequena
palavrinha do verbo “ser” designa algo no seu estado atual. Assim, quando se
diz que algo é, está se falando da atualidade. Mas, muito mais do que isso, se
fala de uma longa discussão filosófica em torno do ser. Essa discussão acontece porque boa parte dos filósofos que já
passaram por sobre a terra se dedicaram a entender ou definir o que é o ser.
Muitas pessoas já se perguntaram: “Quem sou?” Os filósofos se perguntam: “Quem
somos?” Para se perguntar sobre isso eles falam em ser, ou seja, quem é o ser. Eu, você, seus filhos e tudo o que existe é
ser, porque está, de alguma forma, sendo. Assim, aquele pequeno pedaço de um
galho de árvore que se desprende e cai ao chão “é” graveto.
Diferente de um graveto
que por acidente se torna graveto ao se desprender de um galho maior, nós
podemos decidir, até certo ponto, o que somos. Você ao sentar em algum canto e
ler este pequeno ensaio é um leitor, não por um acidente qualquer, mas por
escolha. Aí é que vem uma das grandes contribuições de Heidegger, pois segundo
ele o verbo ser não diz de uma coisa parada, mas de algo em contínuo movimento.
Então o “é” da filosofia quer dizer, pelas mãos de Heidegger, “estar sendo”.
Como você, que ainda lê, está sendo um leitor.
Este contínuo movimento
do ser ou, como dito anteriormente, esse “estar
sendo” que o filósofo diz abre uma profunda lacuna filosófica. Até o
momento, muitos filósofos acreditavam nesse ser que “é”, ou seja, algo parado,
estático, sendo assim de fácil apreensão e compreensão. Por isso criaram uma
área da Filosofia chamada de ontologia, que se dedica a estudar o ser, tentar
circunscrevê-lo. Mas, um filósofo chamado Emmanuel Levinas pega a ideia de
Heiddeger e avança, dizendo que esse movimento do galho que se transforma em
graveto e do trabalhador em leitor é que esconde o caminho para a origem do ser.
Para Levinas o “é mesmo”
é o movimento que leva os conteúdos de fora para dentro. Esta expressão é a
prova de que quando você, ao concordar comigo tornou seu tudo o que escrevi até
aqui. Pode-se dizer que o é mesmo é a prova de que tudo o que estiver fora pode
se tornar parte de mim. Esse movimento que leva os conteúdos de fora para
dentro também pode trazer os conteúdos para fora, ou seja, o ser, seu ser. Eis
o ponto mais difícil, porque é neste momento que Levinas vai mostrar que eu,
você e qualquer outro ser somos inatingíveis. Somos inatingíveis porque o nosso
ser está muito mais longe do que aparece. Você pode ser e é muito mais do que
uma imagem refletida no mundo. É mesmo!
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