Encontro Nacional

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quinta-feira, 3 de abril de 2014

Crítica Construtiva

Recebi via e-mail esta semana a seguinte pergunta: “O que tu achas quando uma pessoa diz: “Vou fazer uma crítica construtiva?”” Para responder a esta pergunta, devemos retornar ao significado das palavras envolvidas na questão, para podermos dizer o que  se traduz por “crítica construtiva”. O temo “Crítica” é uma palavra que quer dizer análise, ou seja, ela tenta desenvolver um parecer técnico a respeito do que está em questão. Por ser uma análise técnica, como uma crítica de cinema, uma crítica de arte e até mesmo de um restaurante não tem como ser classificada como boa ou má. É apenas uma análise, que busca emitir um parecer e este tem por objetivos apontar pontos positivos e negativos do material em questão. No entanto, outra vertente diz que “crítica” é uma opinião desfavorável, como uma censura ou condenação. Já a palavra construtivo significa algo que serve para construir, como palavras que ajudam pessoas a viver melhor. Ainda quanto ao significado de construtivo pode-se dizer que é algo positivo, eficaz do ponto de vista prático.
Uma análise fria das palavras combinadas em uma mesma ideia pode dar a impressão de que estamos fazendo algo certo, uma análise eficaz, um estudo com finalidade prática. Se assim for entendida, parece viável, mas também pode ser entendida como uma condenação construtiva. Essa segunda forma de combinar os significados pareceu mais estranha, de certa forma até contraditória. As combinações e explicações em torno do uso dos termos e seus significados podem seguir num sem fim de combinações que funcionam e outras que simplesmente se contradizem.
Em Filosofia Clínica, quando uma pessoa usa uma frase como esta não sabemos o que significa antes de saber como a pessoa elaborou o que está nos dizendo e qual o significado para ela. Do meu jeito, posso interpretar como quiser e geralmente, pela região que estamos, uma “crítica” é algo ruim e não pode fazer par com algo bom. Seria como dizer ao filho que você está batendo nele batendo para que ele tenha um futuro melhor. Ele até pode entender, mas bater e educar parecem caminhos diferentes. Mas como faremos para saber o que a pessoa quer nos dizer com “crítica construtiva”? O caminho mais fácil de chegar a essa conclusão é perguntando à pessoa, como fazemos na clínica filosófica. Perguntaríamos à pessoa: “Você disse uma crítica construtiva, como assim?” Não preciso perguntar o que significa, com esta pergunta a pessoa me dará o que ela quer dizer com isto. Em muitos casos quem ouve está querendo ser literal e dizer que o que a pessoa expressou com o que disse foi tal e tal coisa. Pelo contrário, ela mesma ao analisar o que a outra pessoa disse está fazendo uma interpretação.
Em cada um de nós as palavras ganharam seus significados de acordo com nossa história, enquanto para uns a tal “crítica construtiva” é possível, para outros é simplesmente impensável. Cada palavra, cheiro, som, gosto pode estar ligado a uma série de conceitos que estão guardados em nosso intelecto. Quando nos expressamos, são estes conceitos que estão saindo, significados ao nosso jeito, da nossa maneira e segundo nossa história de vida. Então, se me perguntasse o que acho de uma crítica construtiva, não sei, teria de saber o que a pessoa que vai me criticar entende por “crítica construtiva”.


Rosemiro A. Sefstrom

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