Fala por
mim!
Há uma
passagem da Bíblia que é mais ou menos assim: “Dize-me com quem andas e te direi
quem és”. Essa frase trata de considerar as companhias que tenho como um
testemunho de quem sou. Sendo assim, se ando com pessoas religiosas, logo, sou
religioso, se ando com pessoas bonitas, logo, sou bonito. O primeiro exemplo
fica fácil de aceitar, mas o segundo nem tanto. Isso acontece por haver uma
série de problemas quando tentamos definir uma pessoa. Na realidade, não seria
necessário definir uma pessoa, mas geralmente conhecer passa pela definição,
não se tem como conhecer algo que seja indefinido. Ao menos é o que temos
experimentado depois do advento da ciência.
Na
atualidade, existem tantas formas diferentes de se montar um “perfil” de uma
pessoa, ou uma definição, que fica difícil saber o que exatamente diz algo
sobre ela. Há algumas semanas, trocando de canais na televisão, vi uma
reportagem na qual uma pessoa definia a personalidade através da roupa. Para
este profissional, as roupas diziam tudo da pessoa, segundo ela, era possível
traçar um perfil completo apenas pela roupa. Interessei-me pelo assunto e fui
para a internet para ver quantas seriam as maneiras de se criar um perfil de
uma pessoa. O susto foi grande, pois, segundo a rede, existem centenas de
maneiras de se dizer quem é a pessoa, como ela é, sem que ela se quer fale.
Entre os
métodos que encontrei há um que funciona através da escrita. A pessoa que
apresentava esta técnica dizia que, segundo os traços de cada letra, seria possível
descrever a personalidade do indivíduo. Havia uma outra, essa sim é boa: a
pessoa conseguia dizer tudo sobre a pessoa analisando a fisionomia dos dedos do
pé. Outro ainda conseguia fazer o mesmo que os anteriores só observando o
formato do nariz. Há aqueles profissionais que dão um perfil psicológico pelas
roupas, organização do guarda roupa, postura do corpo e assim por diante.
Em
Filosofia Clinica temos um cuidado muito maior para este tipo de trabalho.
Quando uma pessoa chega ao meu consultório, não tenho a mínima ideia do que
nela ou fora dela fala sobre sua pessoa. Em outras palavras, não sei se seu
nariz, seus dedos do pé, sua roupa, gestos, são as ferramentas que vão me
mostrar quem ela é. Em cada pessoa há elementos muito específicos que dizem
quem ela é e isto só pode ser observado na história de vida de cada um. Não
tenho como dizer que uma pessoa está sempre triste porque está vestida de
preto, pode ser apenas que ela goste dessa cor. Não tenho como dizer que uma
pessoa é séria porque vive com a testa franzida, pode ser que tenha aprendido a
ser assim.
Em
Filosofia Clinica, o tópico expressividade é aquele que trata do quanto a
pessoa flui em direção ao outro quando se comunica. A expressividade de uma
pessoa pode acontecer por diversas maneiras e algumas, talvez, nem saibam como
falar delas mesmas. Algumas pessoas são extremamente expressivas quando cantam,
dançam, falam, escrevem, estão sempre dizendo delas mesmas. Outras, no entanto,
podem cantar muito bem, escrever de maneira especial, mas em nada falarem de
si. É preciso conhecer este outro que se coloca diante de mim para saber o que
da vida dele fala sobre ele.
Para
finalizar este artigo, coloco uma proposta: se você, leitor, tivesse uma
pergunta que quisesse respondida num dos meus artigos, o que perguntaria? Envie
sua questão e esta será respondida de acordo com as técnicas e ferramentas da
Filosofia Clínica.
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