“Puro sangue, puxando
carroça”
A música “Dom Quixote”
composta por Humberto Gessinger e Paulo Galvão canta a vida de uma pessoa que
se dedica às causas perdidas. Ao longo da música vários trechos citam a forma
inadequada como são aproveitados conhecimentos e recursos. Logo na primeira
estrofe aparece a expressão “puro sangue, puxando carroça”, em outra parte diz
ainda “grandes negócios, pequeno empresário”. Esses dois trechos, entre outros
que possui a letra da música, retratam muitos casos onde se tem um recurso
inestimável e o mesmo não é utilizado de forma adequada. Em cada pessoa há uma
profunda e inestimável fonte de recursos, recursos que podem fazer a própria
vida e de outras pessoas muito melhor.
Se alguém perguntasse a
você, quais são seus potenciais e quantos deles você desenvolveu, o que responderia?
Algumas pessoas têm muito potencial na área esportiva, mas abdicam de investir
nesse potencial pela segurança financeira. Em muitos casos essa decisão custará
uma vida inteira sem sentido, dias intermináveis dentro de um escritório e
noites longas de insônia. Em outros casos ocorre o contrário: grandes
oportunidades aparecem para pessoas que não sabem aproveitá-las, como diziam os
antigos: “às vezes Deus dá asas para quem não sabe voar”. Esta é, na verdade,
uma frase incompleta, pois Deus deu asas, mas a pessoa não aprendeu a voar. São
os “grandes negócios para pequenos empresários”, como as empresas que sofrem da
“síndrome do milhão”, que crescem até a capacidade de gerenciamento do
proprietário.
Muitos professores em
salas de aula, nos dias de hoje, podem sentir-se verdadeiros “puro sangue
puxando carroça”. Imagine um professor com vinte e sete anos de idade, dos
quais passou ao menos vinte em sala de aula, com uma experiência acadêmica e
conhecimentos espetaculares. Esse professor está em uma sala de aula
pré-histórica, com uma pedra riscando em outra (quando muito tem o quadro
branco e canetão), numa sala de aula em que até o momento havia trinta alunos e
que agora querem passar para quarenta por sala. A questão é: como um puro
sangue vai ser aproveitado numa carroça? Na educação particular não é muito
diferente, o professor é servo, tratado quase como empregado do aluno, o pai muitas
vezes é conivente com a má educação dos filhos e a escola, refém do pagamento
da mensalidade. Neste caso o “puro sangue” tem uma boa estrutura, mas está
amarrado a falta interesse ou ao interesse exagerado em notas.
Muitas vezes esse “puro
sangue” somos nós, puxando uma carroça ou carregando uma cangalha como um burro
de carga. Em Filosofia Clínica, com um bom exame da história de vida da pessoa
e todo o restante do trabalho é possível tirar o “puro sangue” da carroça,
fazê-lo deixar o peso da cangalha. Para muitos é cômodo sentar em frente do computador
e fazer um trabalho repetitivo, ganhar seu dinheiro e fazer cara de feliz,
mesmo morrendo por dentro. Para muitos toda a imagem, toda essa exposição é
como “aerodinâmica num tanque de guerra, vaidades que um dia a terra há de
comer”. Não tem nada de mais em ser o que os outros esperam, viver o que os
outros vivem, comer o que os outros comem, mas tem de se aceitar o preço disso.
Um “puro sangue” às
vezes não se percebe, precisa ser percebido, não se vê, precisa ser visto.
Muitos grandes empresários têm empresas de sucesso porque aprenderam a ver um “puro
sangue” e investir nele. Muitas vezes o discípulo irá muito mais longe que o
mestre, algumas vezes o empresário percebe que está apenas mostrando o caminho.
São grandes os empresários que identificam e aproveitam o potencial de um “puro
sangue”.
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