Eu sou o meu paradigma!
É difícil quem ainda
não ouviu falar da palavra “paradigma”, principalmente se estiver na área
acadêmica. Ela se tornou moda na década de noventa, e em muitos lugares
continua sendo muito utilizada. Paradigma é uma palavra que designa modelo. Um
modelo é uma representação a ser seguida, ou seja, uma visão de mundo que
servirá de modelo. Inicialmente, a palavra paradigma era utilizada apenas para
designar um modelo no que diz respeito à gramática. O uso se dava no sentido de
mostrar uma relação específica estrutural entre os elementos da linguagem. Isso
segundo Ferdinand de Suassure.
Mas a visão que mais me
chamou atenção a respeito do que quer dizer paradigma foi a visão de Thomas
Kuhn, filósofo estadunidense. Diferente de Suassure, Kuhn utilizou o termo
paradigma, com uma nova definição, para designar o trabalho da ciência na
produção do conhecimento. Para o filósofo, o termo descreve um modelo elaborado
a partir de uma série de pesquisas e debates que servem mais como uma forma de criar
escolas do que de resolver as questões. O modelo de visão paradigmático
elaborado por cada escola se apresenta como uma possibilidade de ver e também
de entender os problemas do mundo. Um paradigma, então, não é uma possibilidade
de resolução de um problema, mas um novo modelo de estruturar o problema.
Ao longo da história da
humanidade, cada instituição procurou elaborar um modelo estrutural de homem, e
a partir deste modelo elaborou as suas questões. O modelo de homem elaborado
pela religião é de que ele é filho de Deus e por isso deve se direcionar a Deus
para encontrar a salvação de sua alma. Na ciência, o homem é um corpo e deve
cuidar deste de maneira que possa viver mais e melhor. Já a psicologia entende
o homem como um ser dotado de uma psique e esta tem um modelo que pode
diferenciar o normal do doentio. Não é de estranhar que um médico, o qual cuida
do corpo, pense que todos os males sejam de origem física, este é o modelo que
ele tem. O mesmo serve para cada uma das áreas. Vale lembrar Pitágoras, para
quem tudo era número.
Segundo Thomas Kuhn, as
ciências elaboram paradigmas para as máquinas, para o mundo e, a partir deles
estudam os problemas. Para as coisas, talvez um modelo possa ajudar na
compreensão, mas como entender o ser humano a partir de um modelo? Pense em
você mesmo: se você escrevesse um livro dizendo como é o ser humano, o que é
certo, errado, bom, mau, como seria este livro? É interessante pensar nisso,
pois geralmente ouvimos um autor, filósofos ou marqueteiros falando e apenas
pela forma eloquente com a qual ele fala, acreditamos realmente que ele está
certo.
Imagine se homens como
Rousseau tivessem razão: para ele, o
homem é bom e a sociedade o corrompe. Quem leu seu livro percebe que ele é
muito convincente. Posso também citar como exemplo Thomas Hobbes, para quem “o
homem é o lobo do homem”. Há um mais antigo, Sócrates, para o qual o homem só
fazia coisas erradas porque não sabia que era errado.
Proponho uma visão
diferente, onde eu seja o paradigma de mim mesmo. Na Filosofia Clínica eu
construo o paradigma do outro por ele mesmo, através de sua história de vida.
Não há bom ou mau, certo ou errado, mas uma série de conteúdos e movimentos que
formam o paradigma que cada um é em si mesmo. Eu sou o meu paradigma.
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