Encontro Nacional

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segunda-feira, 12 de maio de 2014

Dizer o indizível!

Existem horas para as quais as palavras não servem, momentos em que não há como usar palavras para comunicar o que desejamos falar. Diariamente usamos palavras ditas, escritas ou símbolos que significam coisas e nos fazem entender por onde passamos. Mas nem sempre estes artifícios são suficientes para comunicar o que precisamos dizer. Podemos citar momentos como o vivido pelo ator Adan Sandler na obra “Reine sobre mim”. Nesta obra o personagem perde a família em 11 de setembro e, após alguns meses, encontra um ex-colega da faculdade. Esse ex-colega, a partir deste encontro, tem como objetivo ajudar o amigo que se entregou ao sofrimento de ter perdido a família. No entanto, não é possível sequer falar a respeito do acontecido. Como poderíamos fazer para falar com o personagem de maneira a trabalhar seu sofrimento?
Dizer nem sempre pressupõe palavras, muitas vezes queremos dizer e até mesmo dizermos, explicamos, mas a outra pessoa não ouve. É uma outra situação que pode acontecer, aquela em que dizemos, mas não somos ouvidos. Situações como o fim de um relacionamento em que a mulher comunica ao seu companheiro que a relação terminou. Ela fala e explica a ele que tudo está acabado e que cada um deve seguir o seu caminho, no entanto, ele simplesmente não ouve, continua agindo como se fosse marido. O mais interessante é que mesmo desta maneira ocorre o processo de separação e eles se separam. Mas o homem continua agindo como um homem casado, quando está com ela age como marido, tem ciúmes e espanta qualquer um que chegue perto de sua esposa.
Alguns conteúdos que guardamos há muito tempo, já nem temos mais coragem de comentar, mas nos trazem um profundo sofrimento. São segredos, pecados não confessos, palavras que jamais devem ser ditas, mas que algumas pessoas precisariam falar. Para estas pessoas só a ideia de comentar sobre o assunto já traz um sofrimento tão grande que é impossível suportar. Por isso pensam, remoem, guardam pela vida afora uma mancha que escurece qualquer pontinha de luz que apareça.
Dizer o indizível é dar vazão aos conteúdos existenciais, de uma maneira que possa haver um esvaziamento dos conteúdos ou uma compreensão da parte de quem ouve. Para muitas pessoas o caminho das palavras não é o melhor para trabalhar suas dores e sofrimentos. Como no filme “Reine sobre mim”, onde o personagem sequer fala sobre o assunto, mas retoma incessantemente a rotina de reformar a cozinha. Como o menino que não consegue dizer que ama a menina, mas faz uma seleção musical para ela, pois de outro jeito seria indizível.
O verbo falado é uma forma de comunicação tradicional e em muitos casos inútil. Como para o marido, que depois de uma longa conversa não ouviu que o casamento acabou. A mulher provavelmente não disse de uma maneira que ele pudesse ouvir, como através de uma carta, através de um amigo, através de seus perfumes. Dizer, fazer com que o conteúdo guardado no íntimo ganhe o mundo é uma arte que pode ser desenvolvida e cultivada. Como o caso de Frida Kahlo que diz o indizível sofrimento de não poder ser mãe através de suas pinturas. Algumas pessoas descobrem na arte uma forma muito interessante e forte de deixar sair o sofrimento que não sairia falando, escrevendo. Dizem através de outras formas de verbo o que através dele jamais diriam.

Rosemiro A. Sefstrom

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