Dizer o indizível!
Existem horas para as
quais as palavras não servem, momentos em que não há como usar palavras para
comunicar o que desejamos falar. Diariamente usamos palavras ditas, escritas ou
símbolos que significam coisas e nos fazem entender por onde passamos. Mas nem
sempre estes artifícios são suficientes para comunicar o que precisamos dizer.
Podemos citar momentos como o vivido pelo ator Adan Sandler na obra “Reine
sobre mim”. Nesta obra o personagem perde a família em 11 de setembro e, após alguns
meses, encontra um ex-colega da faculdade. Esse ex-colega, a partir deste
encontro, tem como objetivo ajudar o amigo que se entregou ao sofrimento de ter
perdido a família. No entanto, não é possível sequer falar a respeito do
acontecido. Como poderíamos fazer para falar com o personagem de maneira a
trabalhar seu sofrimento?
Dizer nem sempre
pressupõe palavras, muitas vezes queremos dizer e até mesmo dizermos, explicamos,
mas a outra pessoa não ouve. É uma outra situação que pode acontecer, aquela em
que dizemos, mas não somos ouvidos. Situações como o fim de um relacionamento
em que a mulher comunica ao seu companheiro que a relação terminou. Ela fala e
explica a ele que tudo está acabado e que cada um deve seguir o seu caminho, no
entanto, ele simplesmente não ouve, continua agindo como se fosse marido. O
mais interessante é que mesmo desta maneira ocorre o processo de separação e
eles se separam. Mas o homem continua agindo como um homem casado, quando está
com ela age como marido, tem ciúmes e espanta qualquer um que chegue perto de
sua esposa.
Alguns conteúdos que
guardamos há muito tempo, já nem temos mais coragem de comentar, mas nos trazem
um profundo sofrimento. São segredos, pecados não confessos, palavras que
jamais devem ser ditas, mas que algumas pessoas precisariam falar. Para estas
pessoas só a ideia de comentar sobre o assunto já traz um sofrimento tão grande
que é impossível suportar. Por isso pensam, remoem, guardam pela vida afora uma
mancha que escurece qualquer pontinha de luz que apareça.
Dizer o indizível é dar
vazão aos conteúdos existenciais, de uma maneira que possa haver um
esvaziamento dos conteúdos ou uma compreensão da parte de quem ouve. Para
muitas pessoas o caminho das palavras não é o melhor para trabalhar suas dores
e sofrimentos. Como no filme “Reine sobre mim”, onde o personagem sequer fala
sobre o assunto, mas retoma incessantemente a rotina de reformar a cozinha.
Como o menino que não consegue dizer que ama a menina, mas faz uma seleção
musical para ela, pois de outro jeito seria indizível.
O verbo falado é uma
forma de comunicação tradicional e em muitos casos inútil. Como para o marido,
que depois de uma longa conversa não ouviu que o casamento acabou. A mulher
provavelmente não disse de uma maneira que ele pudesse ouvir, como através de
uma carta, através de um amigo, através de seus perfumes. Dizer, fazer com que
o conteúdo guardado no íntimo ganhe o mundo é uma arte que pode ser
desenvolvida e cultivada. Como o caso de Frida Kahlo que diz o indizível
sofrimento de não poder ser mãe através de suas pinturas. Algumas pessoas
descobrem na arte uma forma muito interessante e forte de deixar sair o
sofrimento que não sairia falando, escrevendo. Dizem através de outras formas
de verbo o que através dele jamais diriam.
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