Fora de mim!
Diariamente estamos em
relação com pessoas, objetos, sentimentos, pensamentos, sensações. Nossas
relações podem, em certa medida, mostrar como estamos em relação ao mundo e
alguns dos motivos pelos quais sofremos.
Relacionar-se é estar em contato, ou seja, criar uma ponte que me liga
ao outro, ao diferente, àquilo que não sou eu. Essa relação pode ocorrer em
caráter positivo, negativo, confuso ou indefnido. O recomendável é o positivo,
mas algumas relações só serão produtivas se forem negativas. Este, no entanto, não
é o foco do que estamos trabalhando neste escrito. O que interessa aqui são as
formas como criamos essas pontes em relação ao outro.
Uma forma de se
construir uma relação com o outro é pela necessidade, ou seja, a falta me leva
a buscar o outro. Nesta relação eu me coloco em direção ao outro porque preciso
dele, como o corpo que precisa de alimento, e essa necessidade só passará
quando for saciada. Este tipo de relação, a necessidade, torna-me dependente do
outro na medida em que preciso dele. Precisar é inevitavelmente estar amarrado,
fadado a viver na dependência daquilo que preciso e a sua ausência terá
consequências. Esta relação de necessidade torna tanto o sujeito quanto o objeto
prisioneiros de sua condição, é uma relação de causa e efeito.
Outro tipo de relação é
a de propriedade, muito comum nos dias de hoje, onde eu me relaciono com as
coisas porque elas me pertencem. Aqui a relação se dá no nível de pertença,
sendo assim, a minha ponte com o outro é a minha propriedade sobre ele: eu sou
aquele a quem o objeto pertence. Pode-se pensar no caso dos relacionamentos,
onde a menina ou o menino diz que o outro é “seu” namorado ou namorada, assim
como a “minha” esposa e assim por diante. A relação de propriedade reduz o
objeto a minha vontade, é meu, faço o que me for conveniente, perigosa esta
ideia, mas fora da ética ela anda solta.
Há uma forma de relação
da qual se fala pouco, mas que a ciênca tem feito de tudo para alcançar: a
relação de dominação. Diferente da relação de pertença onde o outro é meu,
agora eu domino, posso não ter propriedade, mas tenho controle. Forma estranha
de se criar uma ponte com o outro, como se fosse realmente possível dominar
pensamentos, emoções, etc. Mas mesmo sendo um tipo de relação pouco falada é
por ela que muitos relacionamentos afetivos se dão, onde o marido controla a
esposa, os filhos. Esse tipo de relação
é quase o “pátrio poder” que se vivia na Grécia Antiga, mas é uma relação que
dá certa segurança a quem domina. Uma ponte em que um lado está acima do outro,
onde o dominador tem o controle, uma relação em que pode haver oprimidos.
Algumas pessoas gostam de ser controladas, precisam disso, mas será que é para
todos assim?
Nos dias atuais, depois
de centenas de anos de escravidão e discriminação, o discurso é que temos de
ter relações de igualdade, afinal somos todos iguais. É um discurso amplamente
estranho, uma vez que me relaciono com o outro como me relaciono comigo. Então,
o outro é nada mais do que um eu copiado em outro corpo, é o mesmo eu vivendo
numa roupagem nova, o eu que não está em mim. Esse tipo de relação é a mais
perigosa, visto que algumas pessoas não se tratam muito bem, não se cuidam.
Apenas como iustração, se eu fumo e acho isso bom, então isso é bom para todos,
porque somos todos iguais.
O melhor ou a melhor
forma de construir uma relação é entender que o outro, por mais que seja como
eu, é ainda diferente. É justamente na igualdade que somos tão difentes, somo
seres de diferença. Só é possível acessar ao outro realmente se ele se deixar
vir a mim, é na relação com o outro que chego a ele, pela vontade dele e não
pela minha. É o outro quem se doa a mim e não eu que entro na realidade dele.
Rosemiro A. Sefstrom
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