Psyché
A palavra “Psyché” em
grego ou psique em qualquer um dos idiomas em que é utilizada se refere à alma.
Um belo mito está por trás deste nome: a história de amor entre Éros e Psyché,
contada pelo romano Apuleio no livro “O Asno de Ouro”. Da forma grega o mito
procurava explicar a realidade e orientar as práticas das pessoas de acordo com
a vontade de seus deuses. Atualmente, após mais de dois mil anos a psique se
dissociou da alma, hoje a alma é da religião e a psique é da ciência. A alma
platônica vinha pronta, acabada e chegada ao corpo tinha como função subjugá-lo
para que o homem pudesse relembrar tudo o que esqueceu no processo vindo da
alma para o corpo. Seríamos então a junção de dois elementos, o corpo e a alma.
Não muito diferente
daquela época ainda hoje somos seres amplamente mitológicos, ainda utilizamos
figuras fantasiosas para explicar o que a ciência não explica. Entre estes
“mitos” existe um muito popular em nossa região: a benzedura. É algo
interessante, basta parar por meia hora em uma roda de conversa de pessoas de
pouco mais de vinte anos para ouvir histórias diversas de pessoas que foram
curadas pela benzedura. Em alguns lugares dizem que a benzedura vai contra a
religião, e é justamente o contrário: benzer é a atividade de um rezador,
alguém que lida com o que é bento, com o que é de Deus. Como explicar que uma
senhora, com pouca ou nenhuma educação consiga promover verdadeiros “milagres”
com a sua oração em favor de alguém? Como é possível que um apelo à alma cure
as doenças do corpo?
Algumas pessoas têm o
que chamam de dom da revelação, que seria a capacidade de executar certas
atitudes com base na fé. Outros têm o dom da Cura, da Palavra, enfim são dons por
meio dos quais as pessoas agem em nome de seu deus. Estas atitudes são utilizadas
também como forma de mostrar a presença e a ação de Deus entre as pessoas, são
os Dons do Espírito Santo. Também existem as marcas, chamadas de “chagas da
cruz”, que são as marcas que a crucificação deixou em Jesus, sendo que algumas
pessoas recebem estas marcas pela sua ligação com Cristo. As chagas podem ser
vistas em filmes como “Estigmata”, onde uma mulher recebe as marcas da cruz.
Fenômenos sem
explicação, vivências singulares e ainda sem explicação são vistas em Filosofia
Clínica como um Tópico chamado de Singularidade Existencial. Para os filósofos,
benzer, dons, marcas da cruz, ver aura, telecinese, enfim, todo tipo de
vivência singular não comum é vista como algo a ser estudado e não expurgado.
Essa postura diante do novo é uma postura de respeito, de cuidado, de entender
que ainda não temos explicação para tudo. A Filosofia Clínica entende que cada
um é singular, cada um têm vivências propriamente de tudo o que acontece neste
mundo. Estar diante do outro entendendo-o como um fenômeno único, singular é
entender que ele pode viver algo somente seu, sem ser doente ou normal, apenas ser
singular.
No entanto, ao longo da
vida aprendemos o mito da normalidade, o mito de que existe um jeito certo de
ser, em detrimento de um jeito errado. Quem vive na mitologia do normal, faz o
que é normal, se comporta como o normal, sendo que é alguém ou alguma
instituição que diz o que é normal, assim como também diz o que é doente.
Alguns já perceberam que vivemos uma época onde todos estão em maior ou menor
grau doentes, ou seja, em maior ou menor grau não conseguem ser “normais”. A
alma, diferente do corpo, é onde podemos viver o fenômeno da singularidade,
podemos ser diferentes de todos e qualquer um. Ser singular é assumir que posso
não ser o que atribuem por normal, mas sou do meu jeito.
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