Meu corpo é uma jaula
Assistindo a um famoso
seriado estadunidense, Dr. House, ouvi uma canção interpretada por Peter Gabriel
intitulada “My body is a Cage”. Essa expressão quer dizer, “meu corpo é uma
jaula”, ou seja, “o corpo é o que me prende”. No decorrer da música, Peter diz
que o corpo é uma jaula, mas que sua mente é a chave. O restante da música é
composta por uma série de emoções que localizam a pessoa muito para baixo, onde
ela vive um sofrimento profundo, mesmo dizendo o contrário. Ela está muito mal
porque seu corpo é uma jaula, pois o impede de dançar com quem ama, mas sua
mente é a chave para sair disso. Para ele, pelo menos na música, a mente é o
caminho a seguir para sair do que lhe estiver impedindo de chegar perto de quem
ama.
Passei algum tempo pensando
nisso e nas pessoas que conheci pela vida. Para muitas delas seu corpo sempre
será uma jaula. Pessoas como estas fizeram da mente o meio através do qual
vivem sendo que ao corpo resta apenas realizar e acompanhar, pelo menos tentar.
São corriqueiras as expressões que denotam a falta de agilidade do corpo frente
a uma mente tão rápida. Expressões como: “precisaria ao menos três de mim para
o que pensei em fazer hoje”; “eu ainda estou aqui, mas minha cabeça já está lá
na frente”; “sou desastrado, pois acho que já fiz alguma coisa, mas meu corpo
ainda está fazendo”. No caso do autor da música e da música em si, diz que suas
emoções não podem ser vividas por causa de seu corpo. Para muitas pessoas é
assim: se não fosse o corpo seriam o casal perfeito, os pensamentos, as ideias
e tudo o mais têm a mesma velocidade, mas seus corpos não acompanham. Pessoas
assim normalmente se encontraram cedo demais ou tarde demais.
Em outros casos a mente
é justamente o que torna inviável as experiências do corpo e não uma solução.
Essas pessoas são aquelas que vivem através do corpo e a mente é um
acompanhante que pode ou não ser agradável. Quando o corpo estiver bem, os
pensamentos dessas pessoas estarão bem, como exemplo podemos citar: “quanto
estou com sono não consigo pensar em nada”; “se estiver com fome não consigo
raciocinar”; “quando estou doente não consigo me concentrar nem na leitura”. Estas
expressões dizem com clareza que o ponto de partida é o corpo, para estas
pessoas a chave para viver bem com o que amam está longe da mente. Pessoas
assim, para viver bem com o que amam devem estar com o corpo bem, assim poderão
pensar e realizar as coisas com mais clareza. Para estas pessoas a prisão pode
ser o pensamento, quando não conseguem parar de pensar algo ruim, quando estão
com medo, quando cometem pecados. A chave será viver as coisas do corpo, as
sensações, cheiros, cores, gostos e sons.
Aqui estão apenas dois
exemplos de possibilidades da relação entre o corpo e a mente, em cada um tanto
o corpo quanto a mente são e se relacionam de maneira diferente. Alguns serão
mais de acordo com o corpo e suas vivências serão mais sensoriais, já outros
terão a maior parte de suas vivências enquanto ideias, conceitos, abstrações. O
que fará do corpo ou da mente uma prisão é o que não me deixa sair e a chave
para isso dependerá de como a prisão foi construída. Em cada um de nós estão as
chaves para abrir os cadeados existenciais que forem necessários abrir.
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