Opinião
Vivemos no país um
momento estranho, onde a revolta é algo defendido e contestado ao mesmo tempo.
Os que defendem o direto de revolução tem por base a filosofia de John Locke,
mas muitos outros justificam o dever do governo de fazer o necessário para
continuar no poder, conforme pregava Maquiavel. Mas em qualquer um dos casos o comportamento
tem por base uma verdade a respeito do momento que vive nosso país. Para alguns
vivemos um golpe de esquerda, o “petismo” que toma o poder com base nas teorias
de Gramisci, pelas beiradas, pela base. Outros acreditam que vivemos o cúmulo
da corrupção e o absurdo do descaramento onde os políticos se apoderam do
público fazendo-o privado. E agora? Qual é a verdade? Existe uma?
Para elucidar esta
questão recorro a Platão, filósofo que tratou de modo magistral o significado
de opinião e ciência. Para ele a ciência nos leva ao conhecimento do Ser e a
opinião leva a julgar pelas aparências. Ainda segundo Platão a opinião está
entre a ciência e a ignorância, sendo que para ele a opinião tem traços de
coisas que levam o homem ao conhecimento, assim como também tem traços de
ignorância. Em outros termos, ter opinião não é ser totalmente ignorante sobre
um assunto assim como também não é ser totalmente sábio. É bom e producente ter
uma opinião, mas também entender que a opinião não é uma ciência. Quanto mais
uma pessoa conhece sobre um assunto, mais sua opinião é válida porque menos
ignorante é.
Com leituras atentas,
acompanhando notícias das mais variadas é possível elaborar as mais diversas
opiniões sobre qualquer assunto, mas conhecimento é para poucos. É possível ler
comentários de toda ordem sobre o momento nacional, mas são poucos os que podem
afirmar com grande certeza como serão os próximos capítulos. Purificar o que se
lê, o que se vê pela televisão é um bom caminho para sair das opiniões mais
ignorantes para as opiniões mais sábias. Ainda assim a opinião é o que resta,
ou seja, é o julgar pelas aparências.
Em nossa região,
independente do momento cívico nacional, com os PECs e outros assuntos, é
hábito julgar pelas aparências. Vive-se o dia-a-dia como um teatro de sombras,
onde cada um posiciona a luz de modo a criar a melhor sombra aos outros. Esse é
o grande problema, enquanto prestam atenção às colunas sociais, ao
sensacionalismo, à imagem caricata, o que realmente tem de ser visto passa despercebido.
No dia-a-dia mais e mais regras, menos direitos e mais deveres, mais direitos
aos políticos e menos aos cidadãos. Se isso é uma verdade ou uma opinião, não
sei, é algo que estamos presenciando. Fechar os olhos e achar que tudo vai
continuar igual é a maior prova da inaptidão para ver.
Sair da opinião que são
as sombras da caverna do mito platônico na direção do sol que se apresenta como
conhecimento é o grande desafio. Sócrates, personagem principal do Mito da
Caverna, queria tirar os homens da opinião e levá-los ao conhecimento e pagou
com a vida. Pelo mundo houve muitos que tentaram gritar aos ouvidos de quem
quisesse ouvir e pagaram também com a vida, tais como Gandhi, Martin Luther
King. Os que ouvem a verdade, mas estão acostumados a viver de opiniões entre a
ciência e a verdade, podem estar confortáveis assim. A opinião para muitos é
mais do que julgar pelas aparências, é estilo de vida.
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