Não estou ouvindo nada!
Não é de hoje que
escuto histórias sobre pessoas que só ouvem o que querem ouvir. Normalmente
pode-se falar de tudo perto da pessoa que ela não escuta, mas se falar sobre
algo que a interessa ou chame sua atenção, logo ela se manifesta: “Hã?” Parece
estranho, mas isso não acontece só com pessoas mais velhas que usam a desculpa
da surdez para não se envolver em alguma questão sem sentido. Esse recurso
também é muito usado por pessoas mais novas. Essa “surdez existencial” acontece
por alguns motivos, podemos pensar em alguns.
Imagine que você
trabalha como vendedor e está com seus produtos ou portfólio mostrando a um
cliente que se mostra reticente, nega a compra. Você, como o perspicaz vendedor
que é não escuta a negativa e continua tranquilamente argumentando por seu
produto. Não é que não tenha escutado, mas é conveniente fazer de conta que não
escutou. Essa surdez serve a um propósito: a venda de um produto. Imagine se o
vendedor parar de mostrar o seu produto cada vez que receber um não? Quantos
produtos você já comprou pela insistência do vendedor? Sem essa surdez,
provavelmente o vendedor não sobreviveria com suas vendas.
Outro caso é daquelas
pessoas que não ouvem uma parte de si, são surdas para si mesmas. Você, será
que é surdo? “Claro que não!”, podes responder, mas acho que muitos
provavelmente são surdos para si mesmos. Quantos de vocês já sentiram dores de
dente, o corpo já está avisando que é hora de voltar ao dentista, mas nem por
isso foi. Há também o antigo, na verdade novo problema criado pela balança.
Basta ver a quantidade de pessoas que percebem claramente o corpo dizendo para
diminuir a quantidade de alimento, de bebida, mas não param. Um último exemplo
desses é a mulher que se casou com um marido violento, a razão dela diz que ela
corre perigo, mas nem por isso ela vai embora.
O ouvido, assim como os
olhos, os músculos e qualquer outra parte de nosso organismo precisa ser
treinado para que tenha um bom desempenho. Um atleta que treina para um
campeonato de tiro, enquanto engatilha sua arma e olha para o alvo, presta cem
por cento de atenção naquilo que vai lhe dar o resultado. Um maestro, enquanto
rege sua orquestra, percebe cada um dos instrumentos, desde a afinação, o tom,
o tempo, tudo. Essa atenção se dá pelo objetivo que ele tem, ou seja, fazer com
que o som produzido seja o melhor possível.
O problemático é que
sem ouvir não há como responder e muitas pessoas respondem mesmo sem entender o
que foi dito. São como surdos que erraram a leitura labial, mas respondem mesmo
assim. Como saber? Na maior parte das vezes é bastante simples examinar se a
resposta tem a ver com o que foi falado, ver se o que é dito tem a ver com o
assunto. Pessoas que não escutam frequentemente reclamam de maus entendidos,
mas na maioria das vezes elas mesmas provocaram o mal entendido.
Se você disser a sua
mulher: “Como você está linda hoje!” e depois disso ela lhe perguntar se estava
feia ontem, provavelmente ela não lhe ouviu. Limpe os ouvidos dela dizendo:
“Não foi isso que eu disse. Eu disse que você está linda hoje. Não falei de
ontem”. É preciso estar atento ao discurso do outro, de modo a ouvir o que ele
realmente diz, não aquilo que você quer ouvir.
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