Encontro Nacional

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terça-feira, 24 de junho de 2014

O que eu acho que tenho!

Há um ditado que diz que uma mentira contada muitas vezes se torna verdade, segundo alguns historiadores esta frase é atribuída a Joseph Goebbels. Apenas por curiosidade, Goebbels foi o ministro da propaganda que acompanhou Hitler como governante alemão. Outra versão ainda diz que uma mentira se torna verdade à medida que o próprio mentiroso acredita nela. Numa outra versão se diz que uma mentira se torna verdade quando é aquilo que queremos ouvir. Digo isso para falar um pouco sobre o auto-diagnóstico, pessoas que ao verem um programa de televisão, lerem um livro ou até mesmo numa conversa de amigos descobrem que são doentes.
Comecei a falar a partir da mentira por causa dos sintomas. O que é um sintoma? Quando uma pessoa percebe que algo nela está diferente, no seu corpo, no seu pensamento, no seu relacionamento, enfim, na sua vida, podemos falar em sintoma. O sintoma, ou seja, a alteração, só pode ser percebida pela pessoa. Caso seja relatado por outra pessoa passa a ser sinal. Vamos mostrar a diferença: se você passa na rua e vê alguém tossindo, isso é sinal de gripe, claro que quem está dizendo isso é você. Agora, se chegar até a pessoa e perguntar a ela o que passa, pode ser que ela diga que estava se engasgando. Essa é uma problemática bastante difícil na área das terapias, muitos livros dizem o que está de errado na vida da pessoa sem sequer conhecer a pessoa.
Quando uma pessoa relata o que está vivendo, com todas as questões, ela está relatando seus sintomas, ou seja, sua percepção a respeito de suas coisas. Mas muitas vezes, no contato com amigos, livros, revistas, programas de televisão, a pessoa acaba recebendo informações que combinam com muitas de suas percepções. A partir dessa combinação entre as informações e aquilo que ela percebe como sintoma a própria pessoa se dá o diagnóstico. É assim que nascem muitos dos hipocondríacos que conhecemos, pessoas que se automedicam por combinarem informações e sintomas. No entanto, quando uma pessoa fica doente e tem a percepção de alterações na sua vida ela procura um médico. O médico, profissional preparado, reune todos os sintomas da pessoa com as informações que tem a respeito das doenças conhecidas e dá o seu diagnóstico.
No dia a dia muitas pessoas não percebem as pequenas alterações que têm em sua vida, só vão perceber quando alguém diz. Ai nasce o problema, quase que filosofal: “Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?” Aqui não é diferente, quem veio primeiro, a informação de uma pessoa que traduziu um sinal ou o sintoma que só foi percebido porque a pessoa falou? É ai que entra a questão da mentira. Muitas pessoas não têm os sintomas, mas alguém disse que elas têm, então passa a ter. Usando uma expressão popular, é aquela coisa da vizinha que diz: “Nossa, vi na televisão que quem repete mais de uma vez a mesma coisa é obsessivo compulsivo”. Até aquele dia a pessoa nunca tinha notado que repetia mais de uma vez, depois que a outra falou ela percebe. E agora, já era problema ou se tornou problema?
Um empresário pode achar que sua empresa está em crise porque algum amigo disse que sua empresa está com sintomas de crise. Uma mulher pode achar que seu marido a está traindo porque uma amiga disse que os sintomas indicam isso. Lembre-se de que cada um percebe os seus sintomas, mas saber se o sintoma é realmente uma doença, problema, dificuldade, isso deve ser feito por quem entende do assunto.


Rosemiro A. Sefstrom

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