Não sou pessimista, sou
realista!
Quando era pequeno
costumava subir no mudo de casa com um pedaço de pano amarrado ao pescoço e
pular. Quando pulava do alto do muro de pouco mais de um metro, me sentia como
se estivesse voando, era uma sensação tão boa que repetia esse movimento várias
vezes, até ficar exausto. Era o próprio super homem voando para salvar pessoas,
ajudar os necessitados. Outra coisa que costumava fazer era sentar no pátio,
pegar meus carrinhos e planejar como seriam as estradas, casa, garagem. Nestes
e outros tantos momentos de minha infância vivia um mundo de mentira, uma
realidade inventada em minha cabeça. Essa realiade não era verdadeira, eu sabia
disso, mas nada me impedia de um dia após o outro brincar neste mundo de faz de
conta.
Então cresci, passei a
olhar o mundo com outros olhos, aprendi a ver a realidade e não ir mais ao
mundo do faz de conta. Essa nova realidade que aprendi a ver é um mundo
interessante, nele aprendi a ver as dores, o sofrimento de pessoas que, como meu
pai, dormia durante o dia e trabalhava duro durante a noite. Também aprendi a
ver a realidade de uma mãe de família que mês a mês juntava os poucos trocados
ganhos com um mês de trabalho e tentava alimentar, vestir, educar, manter
saudáveis os membros da família. Aprendi ainda que a realidade é aquela em que
a verdade é sempre obrigatória, uma necessidade de primeira ordem, quase mais
importante do que comer.
O relato mostra o
oposto entre a vida criativa de uma criança e a vida calcada na realidade de um
adulto. Na vida adulta, tanto uma quanto a outra realidade são parte do
discurso: faz parte da vida acordar num dia de domingo, sentar-se na sala,
pegar seu video game e se achar o piloto de formula 1. Assim como não tem nada
de errado juntar os recibos do mês, colocá-los numa planilha e projetar os
gastos dos meses seguintes. O problema que vem ocorrendo são os excessos
cometidos por pessoas que se dedicam exclusivamente em criar um mundo de faz de
conta, onde a realidade se perde de vista. Na outra ponta existem os casos de
pessoas conhecidas por serem verdadeiras, algumas delas cometem o
“sincericídio”, ou seja, o ato de assassinar pessoas justamente por serem
extremamente verdadeiras, em certos casos, sem necessidade alguma.
O realista é uma pessoa
sincera, vê o mundo com uma clareza impressionante, é espantosa a maneira como
consegue traduzir com poucas e duras palavras a realidade. Ao sincero o filho
com problemas de aprendizado é um vadio, alguém sem a capacidade de aprender o
que todo mundo aprende. Para ele o casamento é uma instituição criada pela
igreja para dominar as pessoas através de teorias não verificáveis em vida. O
salário é um triste fardo a ser administrado de forma que acabe depois da
necessidade. Pior ainda: a necessidade continua e o salário já terminou. Existe
uma série de predicados que torna uma pessoa realista um bom modelo de vida,
alguém que vive a realidade.
Ver um mundo em que
tudo deu, está dando ou vai dar errado não é uma boa forma de ser realista.
Isto está mais para pessimista. Sentar ao video game e simplesmente brincar de
ser piloto de corrida, jogador de futebol ou lutador de luta livre não é deixar
de ser realista, mas perceber que a realidade não vai mudar só porque eu faço
questão de ver o pior dela.
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