Bipolar!
Segundo o DSM IV a
bipolaridade ou Transtorno Afetivo Bipolar tem como característica básica “a
alteração de humor com episódios maníacos e depressivos ao longo da vida”. No
que se refere à bipolaridade, a psiquiatria tem como base única para o entendimento
do transtorno as alterações do humor. Em Filosofia Clínica o humor está ligado
ao tópico 04, as Emoções. Sendo assim, a bipolaridade pode ser entendida como a
troca de conteúdos em um mesmo tópico, ou seja, ou estou emotivamente muito
feliz (maníaco) ou estou emotivamente muito triste (depressivo). Segundo o próprio DSM estas alterações
episódicas se dão ao longo da vida, ou seja, tanto podem se dar em poucos
minutos como podem levar muitos anos. Enfim, a alteração de qualidade das
emoções faz com que uma pessoa possa ser considerada Bipolar pela psiquiatria.
Não há aqui a intenção
de concordar ou discordar com a nomenclatura ou o diagnóstico sintomático da
bipolaridade, mas propor outros entendimentos. Até o momento se fala em
bipolaridade, mas existem pessoas que são “tripolares” ou “tetrapolares”. No
consultório, uma bipolaridade muito comum que encontro é a briga entre as
emoções e o raciocínio. Acontece algumas vezes de encontrar pessoas que estão
saindo de um casamento, e, ao falar do amor que sentia pelo marido ou esposa, a
dificuldade com os filhos, a pessoa sofre, chora, fica desolada. No entanto,
quando o assunto é divisão de bens, cálculo de valores, ajustes judiciais, a
pessoa se ilumina, os olhos brilham, ela adora isto.
Há ainda pessoas para
as quais podemos chamar de “tripolares”: são pessoas que apresentam vivências
pontuais em cada um dos tópicos. Seria o caso de uma pessoa que quando está na
Igreja, rezando, se porta como o maior dos fiéis, se compromete com Deus, é um
exemplo de fé. Porém, saiu da Igreja, viu seu carro sendo riscado por um rapaz,
pega o mesmo e quase o espanca. Pergunta: onde está a fé? O perdão? O detalhe é
que neste momento ao viver o conteúdo das emoções, no caso a raiva, ele a vive
intensamente, ficando cego para a fé. Acontece que ainda chegando na delegacia
para lidar com o problema gerado pela agressão ao menino ele se apresenta calmo
e extremamente calculista. Agora, frente ao delegado é o raciocínio quem
comanda, nem a fé da Igreja, nem a emoção do momento estão presentes, é apenas
o pólo da razão que comanda agora. Os “tetrapolares” também são pessoas que tem
vivências pontuais de acordo com o momento.
Outro tipo de
bipolaridade se encontra nos papeis existenciais. Provavelmente você já deve
ter ouvido a expressão: “Meu pai com os amigos dele é uma pessoa, em casa é
totalmente outra”. E quando a pessoa se referia que seu pai era totalmente
outra pessoa, estava falando de um homem agressivo, bravo, frio, calculista.
Essa bipolaridade vem do exercício dos papeis existenciais, onde ele aprendeu
que como amigo não tem compromisso, é momento de falar bobagem. No entanto como
pai ele tem o compromisso de educar, orientar, ensinar, mostrar como o mundo
funciona. A quebra que o papel existencial amigo e pai mostram, na maior parte
das vezes não são compreendidos.
Quando as vivências são
pontuais elas podem se apresentar como polares, ou seja, voltadas a um extremo.
Provavelmente cada um de nós somos bipolares, uns mais, outros menos.
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