Consciência
Nos estudos de
Filosofia Clínica, muitas vezes se ouve a expressão: “Mas é preciso que a
pessoa tenha consciência do que está errado para mudar!” Sem muito esforço, quase
todos os presentes na aula, palestra, conversa, concordam de pronto. Mas o que
seria a consciência? Numa pesquisa rápida pela internet aparecem diversas
definições, mas uma delas me atrai mais. Nesta definição a palavra consciência
é dividida em duas partes, a primeira “com” que quer dizer junto, e a segunda
parte é “scire” que quer dizer “saber, conhecer”. De acordo com esta definição a palavra
consciência significa conhecer com outras pessoas, ou seja, aquilo que sei com
os outros.
Fazendo uma busca mais
ampla encontrei o significado dos livros de filosofia, onde o termo consciência
traduz a capacidade de uma pessoa de ver a relação entre si e o ambiente. Para
muitos filósofos existem dois tipos de consciência, a fenomenal e a consciência
de acesso. A consciência fenomenal é a capacidade que a pessoa tem ou pode ter
de processar os dados de sua experiência no ambiente. Simplificando, é a
capacidade que você tem, de agora, enquanto lê, ouvir o som, sentir o cheiro,
perceber o mundo a sua volta. Já a consciência de acesso, esta é um pouco
diferente, é a capacidade que temos de entender ou não a nossa relação com o
que se passa em volta. Neste caso é a capacidade que você tem de ouvir uma
pessoa falar o seu nome e saber que ela fala com você.
Para transpor esse
termo para a Filosofia Clinica precisamos entender o processo da consciência,
ao menos o que se diz que as pessoas têm que ter. O primeiro passo é a pessoa
se perceber dentro de um contexto específico, ou seja, se você está dirigindo
na pista do ônibus em plena avenida, deve saber que é errado. Pode parecer
estranho, mas algumas pessoas não se percebem dentro de um contexto, para elas
o que importa, interessa, é que elas façam o que entendam precisam, ou querem
fazer. Esse é um primeiro obstáculo para
a consciência, pois, para muitas pessoas, por mais que falemos, elas sempre vão
entender que elas estão certas. Tenho certeza que você conhece alguém que
sempre está certo, ou, como se diz, não tem consciência do que fez.
Uma segunda questão de
tantas, é a epistemologia, o conhecimento. Digamos que a pessoa se vê dentro do
contexto, percebe-se na relação com as outras pessoas, mas ela não consegue
conhecer o que está acontecendo. Um exemplo são as pessoas que sabem que o
casamento está desmoronando, sabem que elas são as mais responsáveis por isso,
mas não conseguem aprender com isso, conhecer. Parece estranho, mas acho que
você já deve ter olhado o motor de um carro, até dirigido um, mas não tem a
menor ideia de como funciona. Isso faz com que, mesmo você se vendo, não
consiga ter consciência do que está errado, isso porque o aprendizado não
acontece.
Muitas pessoas têm
consciência quando estão em relação com outras, entendem perfeitamente o seu
lugar em cada espaço, mas, infelizmente, não têm consciência de si próprios,
são pessoas que comem mal, dormem mal, vivem mal e não tem a menor ideia que
estão fazendo isso. São pessoas que aprenderam conhecer tudo, menos elas
mesmas. É perfeitamente possível que você tenha fortes dores de cabeça, mas
nunca aprendeu a lidar com ela, nunca tentou conhecer a sua própria dor de
cabeça.
Esse tema é muito
vasto, aqui apenas coloquei algumas possibilidades. Apenas ilustrei as
possibilidades de se ter ou não consciência, mas gostaria de deixar uma
pergunta: “Por que ter consciência?”
Rosemiro A. Sefstrom
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