Desfecho
Esta semana lendo o
jornal vi uma reportagem que falava de um grande pesquisador americano que se dedica
a mostrar como o cérebro nos engana. O exemplo usado pelo pesquisador é da
dieta que a pessoa diz que vai começar na segunda, mas que antes do fim de
semana come mais que o normal, que compra frutas e verduras na sexta-feira, mas
as deixa murchar até a segunda-feira, deixando-as de certa forma menos
atrativa. Outro exemplo são de grandes objetivos que temos com relação a nós
mesmos que não conseguimos alcançar porque nosso cérebro não nos deixa levar
adiante. Os exemplos citados por ele mostram situações em que o cérebro não nos
deixa concluir nossos objetivos, realizar uma tarefa que “queríamos” fazer.
É comum ouvir num
consultório de Filosofia Clínica coisas como: gostaria de começar um regime,
mas não consigo; queria voltar a estudar; nunca conseguir dizer que amo aquela
garota. Cada um destes exemplos são situações em que o que eu quero, preciso,
devo, enfim, o que era para ser feito, não foi. Mas o que fez com que não
acontecesse o desfecho? O que travou a pessoa a ponto de ela não levar a cabo o
que pretendia? Para cada um pode ser um motivo diferente, mas em cada um de nós
há o que nos estimula e o que nos trava. Em Filosofia Clínica, ao estudar a
história de vida da pessoa, provavelmente vamos saber o que a travou, ou seja, que
não deixou a pessoa ir ao desfecho. Lembrando que algumas coisas não devem
mesmo ir em direção ao desfecho, são perfeitas quando não acabadas.
Mesmo sem saber o que
travou o projeto de alguém, pode-se indicar algumas maneiras de começar o que deveria
levar a um fim. Para algumas pessoas o projeto não começou ainda porque não tem
uma data, ou seja, a falta de estipular um início e fim faz com que ela nem
inicie. Se for este o caso, pode-se ver o projeto de vida e colocar datas,
tanto de início quanto de fim, com isso provavelmente ele sairá do pensamento.
Alguns podem dizer: “eu já fiz isso”. Talvez sim, mas para alguns as datas não
podem vir deles mesmos, precisam vir de fora. Pode-se citar um exemplo da
esposa que chega para o marido e diz: “Você tem seis meses a partir da semana
que vem para perder 10 quilos”. Pronto, agora, com uma data que veio de fora
ele consegue colocar em prática o que há anos sozinho não conseguia.
Em outros casos o
problema está no tamanho do percurso que se tem de trilhar para chegar a um
fim. É como uma caminhada, enquanto o objetivo final não é visível o caminhante
permanece firme e forte, sequer cansa, mas quando vê o objetivo a alguns metros
parece que não vai lcançar. Para este tipo de pessoa, normalmente se diz que
nadaram, nadaram e morreram na praia. Talvez se para estas pessoas a caminhada
fosse dividida em pequenas etapas, é provável que cada pequeno trecho teria um
peso muito menor que o todo. É como a faculdade que tem cinco longos anos, sendo
que a mesma pode ser dividida em dez curtos semestres. Se o caminho tiver
pequenas divisões e for completado em cada parte, ao final a pessoa terá o
todo.
Há ainda as pessoas que
precisam de companhia, aquelas que têm seus objetivos, mas concluí-los depende
de alguém que possa fazer parte. É o caso das milhares de meninas e meninos que
vão para a academia enquanto têm companhia de outros amigos. É o caso daquele
rapaz que tem grandes ideias, mas o desfecho delas só acontecerá na companhia
daquele amigo mais despachado, mas afoito. O desfecho, o término de um trajeto
pode ser importante para algumas pessoas, para tantas outras não. Quando for
importante o desfecho, o término, é preciso estudar na pessoa as ferramentas
que possam levá-la até lá.
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