Construção
Compartilhada
No final de semana
passado, enquanto assistia a comentários esportivos a respeito da rodada que
finalizou os campeonatos estaduais, ouvi uma observação pouco dita. Enquanto
falavam a respeito dos jogos do final de semana, um dos cronistas criticava tal
treinador e tal time. Isso prosseguiu até que um jornalista abertamente disse:
“Como é fácil para um ex-jogador, que nem foi tão bom assim, criticar o
trabalho alheio. Porque comentar é fácil, gostaria de vê-los fazendo o papel
que julgam”. Um ponto de vista interessante do jornalista, mas ele não se dá
por conta que, até mesmo o comentarista cumpre um papel. Aquele de que, quando
um treinador ou jogador estão muito envolvidos podem esquecer, ou seja, olhar
as próprias falhas. O papel do comentarista seria então apontar estes erros ,
eles estarão apontando.
Assim acontece no filme
Encontrando Forrester, onde um menino negro, Jamal Wallace, de classe pobre,
consegue uma bolsa numa escola particular. Ele assume sua vaga pelo que escreve,
por ser muito bom no que faz, mas melhora ainda mais com a ajuda de um famoso
amigo, William Forrester. Seu professor, Crowford, destina todo seu tempo e
habilidade para provar que um menino negro e pobre não poderia ser tão bom
escritor. Willian Forrester, por sua vez, mostra ao menino que alguns sabem
fazer e trilham um belo caminho, enquanto outros podem não saber fazer, mas
serão muito bons na arte de abrirem os caminhos. Ao menino, em seu processo de
aprendizagem, muitas palavras ditas pelo seu amigo passaram em branco. Eram
conselhos de um homem velho que tinha lá suas esquisitices. Em muitas vezes
Jamal se nega a aceitar as críticas como se já soubesse caminhar com as
próprias pernas, mal nota que ainda repete os passos daquele que o ensina. Ao
final do filme o rapaz pega um texto produzido conjuntamente com seu amigo e
apresenta ao professor Crowford. Este, por sua vez, descobre que o escrito era
um plágio de um antigo trabalho publicado numa famosa revista. Para se redimir
do erro e continuar estudando seu professor exige uma retratação pública. Jamal
se nega a fazer uma retratação pública, mesmo sabendo que teria de deixar a
escola. William Forrester, amigo de Jamal, claramente diz que cada um assume a
responsabilidade pelo que faz, mas decide intervir pelo aprendiz e amigo.
Durante todo o filme o jovem precisou desconstruir o que achava que sabia para
realmente aprender, o mesmo aconteceu com seu amigo.
Tanto um quanto o outro
no processo de se conhecer foram deixando de lado os pontos de diferença e
encontrando os pontos de igualdade. Este processo levou o menino ao aprendizado
e desenvolvimento de sua escrita, ao passo que seu mestre reaprendera o valor
da vida e recuperara alguns sonhos há muito perdidos. Ao esquecerem as
diferenças e viverem no espaço que chamamos de interseção eles construíram de
forma compartilhada uma nova vida. Um novo caminho, que já não fazia mais
distinção entre um e outro, mas um caminho do meio que contemplava as duas
partes. Cada um apontou os pontos cegos da vida do outro e vagarosamente foram
melhorando um ao outro, cada um de acordo com suas capacidades.
Quantas vezes você
parou para ouvir uma pessoa que lhe criticou ou apontou uma falha sua? Não
estou falando de um completo estranho em uma fila de banco, mas alguém que tem
com você uma caminhada. Uma pessoa que sabe de onde você vem e para onde se
encaminha. Boa parte das vezes o que se ouve é a proposta do jornalista: “Faça
você então!” Não se trata de fazer melhor, mas de ensinar a fazer melhor.
Muitos acham que porque cometem certos erros, todos o cometem, esquecem que há
muito conhecimento para aprenderem, muitas vezes com alguém mais novo. Não se
trata de estar certo ou errado, mas de ouvir o que o outro diz e avaliar se ele
realmente tem razão e, caso tenha, entender que também podemos cometer erros.
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