FLOR DE CEMITÉRIO
Algumas pessoas a cada tempo vão ao cemitério com flores para depositá-las nos túmulos de seus entes queridos. Algumas destas gastam um valor alto nestas flores, justificando que a pessoa querida merece o que tem de melhor. Esse movimento é interessante e mostra que o ser humano que ali está, morreu apenas corporalmente, permanecendo vivo para aqueles que continuam lembrando-se dele. No entanto, algumas pessoas somente visitam um ente querido depois que este faleceu. Quantos filhos pouco visitam seus pais por falta de tempo e quando tem oportunidade, colocam outros compromissos na frente. Mas o dias em que esses pais morrem são quase que cultuados por estes filhos, a memória se fortalece e antigos conteúdos são retomados.
Um paralelo a ser feito com este movimento é como cada pessoa lida com sua própria vida: muitas têm oportunidades diárias de cultivar coisas boas dentro de si, mas o tempo, as necessidades, os interesses, a preguiça impedem. E aí, quando se encontrarem longe demais daqueles conteúdos que tanto lhes faziam bem começarão reclamar que a vida anda um tanto sem sentido. Nada mais natural, assumem as atribuições diárias como se apenas isso fosse sua vida, deixando de vivenciar aquilo que lhe faz bem. Para não ficar tão difícil de entender, basta pensar em pessoas que quando eram mais novas jogavam futebol semanalmente. Com o tempo o futebol foi sendo deixado de lado, substituído por mais um turno de trabalho, por um tempo a mais de dedicação aos filhos, a mulher, ao carro, à casa, etc.. Depois de muito tempo fazendo diariamente as mesmas coisas, vivendo com as mesmas preocupações, a vida parece perder o sentido, não vale a pena viver. Algumas pessoas usam uma expressão interessante: “Eu lutei tanto por isso!” Claramente percebem que dedicaram a vida a perderem-se de si mesmos. Neste momento da vida os comentários começam a ser de lembranças de quando faziam isto e aquilo. Os comentários remontam tempos felizes em que essas pessoas realizavam atividades que tinham tudo a ver com elas: um futebol, uma pescaria, uma noite de carteado, a simples atitude de ir até o pomar, apanhar uma laranja no pé e se deliciar. É visível a reconstrução destes belos momentos como uma boa parte da vida que passou. Vêem o passado como algo enterrado e bem marcado, algo que está lá como referência para que possam de vez em quando depositarem flores. Bons momentos merecem ser repetidos, mas não só bons momentos. Podem-se repetir boas emoções, boas sensações, boas ideias, tudo o que for bom e causar um bem estar subjetivo deveria ser repetido.
É fácil olhar para algumas pessoas e verificar que estas vivem à sombra de apenas boas recordações. Mas, como fazer para ajudá-las? Para ficar um pouco mais fácil de fazer com que a vida ganhe sentido outra vez e deixe de ser apenas memória pode-se indicar um caminho. Você pode parar e pedir para a pessoa pensar numa boa lembrança, como o início de um namoro. Tempo em que tanto um quanto o outro ficavam felizes só de ouvir a voz no telefone perguntando se está tudo bem. Ver a alegria nos olhos da namorada ao presenteá-la com um ramalhete de flores, ir às nuvens só de dar um cheirinho e sentir o perfume do outro. Recuperar o que for possível de recuperar antes que o máximo seja apenas lembrar.
Quanto tempo faz que você não olha mais para a mulher ou o homem por quem se apaixonou e diz: “Eu te amo!” Não aquele “eu te amo” de canto de boca e resmungado. Aquele “eu te amo” grande, alto, pomposo! Quanto tempo faz que você não fica no colo alisando os cabelos dela enquanto apenas aproveitam a companhia um do outro? Quanto tempo faz que você não visita aquele velho amigo que gosta de bater um bom papo? A cada pequena atitude que tomar no sentido de retomar aquilo que era seu, você deixará de ter uma vida instrumental e mecânica. Para não depositar flores com a dor de quem perdeu, aproveite bem cada momento transformando sentimentos de perda em sentimentos de gratidão.
Rosemiro A. Sefstrom
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