Encontro Nacional

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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

TransitórioTransitório

Em alguns anos de terapia comecei a perceber que algumas pessoas são afligidas por um pequeno problema: a passagem das coisas. Uso a palavra coisas porque tudo o que está ao redor destas pessoas não pára, não permanece exatamente como está, inclusive elas mesmas. Este pequeno problema começa a aparecer quando estas pessoas começam a pensar em sua vida como uma linha do tempo, deixam de olhar a vida como experiências isoladas e passam a perceber o contínuo. Ao perceber a transitoriedade descobrem que estão sujeitas também às mudanças e em cada caso existem mudanças que assustam mais. Para algumas pessoas o que as assusta é a possibilidade que a passagem do tempo possa levar as pessoas que elas amam, pai, mãe, irmão, marido, filhos, etc. Outras pessoas têm medo de perder sua aparência física , são devotos do próprio corpo, passam horas ao dia cultivando a beleza que temem perder. Um último exemplo são as pessoas que veem na passagem do tempo o problema de terem de mudar, se adaptar, renovar, ou seja, para elas o ideal é que as coisas continuassem sempre assim, pois estavam boas do jeito que estavam.  
Estas pessoas que se assustam com a passagem do tempo, em boa parte, estão agarradas a algo que têm medo de perder com o passar dos dias. Não percebem que a vida acontece no agora, que tudo o que está a sua volta faz parte da vida como transitoriedade, ou seja, são coisas que estão de passagem, inclusive elas mesmas. Essa transitoriedade remete a um conceito simples: participação, ou seja, tudo quanto faz parte de minha vida agora, participa de minha vida agora. Hoje você tem um carro modelo X, ano X, valor X, mas daqui há algum tempo compra outro e este deixa de participar de sua vida. Uso o carro como um primeiro exemplo desta participação porque é um bem do qual muitas pessoas se desfazem com certa facilidade. Mas uma casa também pode servir de exemplo, a casa ou apartamento no qual você vive participa de muitas coisas. É interessante perceber que tudo o quanto pode ser vivido está apenas de passagem, elas participa de sua vida e você participa destas coisas, mas apenas momentaneamente. Mesmo as coisas que estão há muito tempo com você também estão de passagem, apenas têm um tempo de passagem maior que outras.
Quanto for possível perceber que tudo participa de nossa vida e nós participamos destas coisas se tornará possível escolher quando e quanto participar. Se você percebe, por exemplo, que seu marido está de passagem em sua vida, a participação dele pode ser muito melhor aproveitada. O mesmo pode acontecer com ele em relação a você, ele pode querer participar muito mais de você. Pense em sua casa, o quanto você participa daquilo que dispõe? Há muitos dos casos em que a mulher ou o marido compram objetos e os guardam, estes objetos acabam não participando de suas vidas de fato, estão ali, deixados de lado. A participação lembra que é possível viver ao máximo um fim de semana na praia, porque ele passa, mas eu posso participar dele ou ficar chateado porque ele vai passar.
A noção estática da vida faz com que boa parte das pessoas pare no tempo, deixe de se atualizar, deixe de se melhorar. Por incrível que pareça, algumas pessoas deixam de participar da própria vida. Participar das coisas que estão ao nosso redor e permitir que elas participem de nossa vida é uma das maneiras de viver o agora, tanto com vinte quanto com cinqüenta anos de idade. Em cada etapa a participação é diferente, não melhor nem pior, apenas diferente.

Rosemiro A. Sefstrom

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