Pensar
dialético
Inicio por
lembrar que cada pessoa é um mundo, uma realidade completamente diferente de
todas as outras. Isso faz com que cada um de nós seja diferente, desde nossa
realidade física até a cognitiva. Digo isto apenas para salientar que, quando
usar neste artigo a expressão “tipo de pessoa” estou me referindo a uma forma
de se relacionar com a exterioridade que é o mundo. O mundo é tudo aquilo que é
exterior a mim, ou seja, o sol, as nuvens, as árvores, etc. Além de tudo isso
que existe e constitui o mundo de cada um há também pessoas, os outros. Nós, no dia-a-dia nos relacionamos,
inevitavelmene, com o mundo e com os outros.
Das várias formas
de se relacionar vamos nos dedicar a uma em especial, a relação dialética. A
dialética enquanto método ganhou conhecimento por Hegel, mas diz-se que o pai
desta teoria pode ser Zenão de Eléia ou até mesmo Sócrates, o qual se
popularizou entre os gregos por levar as pessoas à verdade. O pensamento
dialético cresceu, se popularizou na filosofia e foi adotado por muitos
filósofos como método científico, assim como foi condenado por muitos outros
como não sendo nada científico. Enfim, científico ou não, interessa em que
medida essa metodologia contribui para a Filosofia Clínica.
A dialética enquanto método se realiza em três
estágios: a tese, a antítese e a síntese. Na tese eu tenho aquilo que é como
teoria, ou seja, tenho uma ideia já formada. Pense no conceito que você tem de
você mesmo: essa ideia que você elaborou de você mesmo pode ser considerada uma
tese. Num segundo momento vem uma ideia contrária a que você formou de si
mesmo, essa ideia contrária é a antítese. Vamos dizer que você se considera uma
pessoa bondosa e desprendida, essa é a sua tese, mas um amigo seu, muito
sincero, diz que você não é bom e muito menos desprendido. Para ser mais
sincero, este amigo diz que você é avarento. Agora, com a tese a respeito de
você e a antítese dada por seu amigo também a respeito de você, irá surgir uma
terceira e nova ideia: a síntese. A síntese é o resultado da união da tese com
a antítese, não a simples negação de uma pela outra.
Pessoas que
têm o pensamento dialético costumam ter uma ideia feita, pronta a respeito das
coisas da vida. No entanto, no dia-a-dia, no convívio com as pessoas e com as
coisas, elas podem tanto receber quanto perceber opiniões diferentes das que têm.
Quando isto acontece, elas entram num processo de reflexão a respeito daquilo
que sabiam com o que receberam, para então formular algo novo. Se o processo
dialético foi feito por simples negação, pode acontecer o famoso oito ou
oitenta, onde a pessoa aceita ou nega aquilo que veio de fora.
O processo
dialético não precisa necessariamente de um agente externo, algumas pessoas fazem
esse caminho sozinhas. Elas mesmas, pela maneira como se desenvolveram na vida,
precisam da contradição como maneira de desenvolver o seu pensamento. Não é
certo, nem errado, bom, nem mau, é apenas uma das formas de se pensar. Há
tantas outras com eficácia igual ou maior e também menor do que esta.
Na relação
com o outro, seja ele coisa ou pessoa, qualquer processo de conhecimento só
acontece na medida em que eu recebo o outro. Alguns filósofos falaram em sair
de si como processo de antítese, mas a antítese só acontecerá realmente se eu
me abrir para o outro, é ele quem me trará o diferente, e não eu. Como em
Heráclito, só me darei conta de que não me banho duas vezes no mesmo rio se eu deixar
que o rio passe por mim e não eu por ele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário