Pessoa certa, tempo
errado!
Em Filosofia Clínica,
antes de entrar na análise dos pormenores dos dados da historicidade da pessoa,
o filósofo observa os Exames da Categorias. Esta etapa é aquela na qual o
terapeuta observa na narrativa da pessoa como ela se localiza existencialmente
no mundo em que se coloca. A localização existencial é dada pela pessoa mesmo,
ou seja, não é o filósofo que interpreta estes dados a partir da história, e
sim, percebe literalmente segundo o que é contado pela pessoa. As categorias
que ele observa são: assunto imediato e último, circunstância, lugar, tempo e
relação. Em cada uma destas categorias se observa como a pessoa está
existencialmente em cada etapa de sua vida.
É interessante o estudo
destas categorias porque algumas vezes o problema que deverá ser trabalhado
nada tem a ver com os tópicos da Estrutura de Pensamento. Em vários casos o
problema está na localização da pessoa, ou seja, onde ela se colocou
existencialmente. Uma das categorias nas quais pode ocorrer problemas pode ser
o tempo. Nesta categoria o filósofo se dedica, a saber, qual é a relação entre
o tempo subjetivo e o tempo convencionado. Ele verá, segundo as vivências da
pessoa, a duração dos eventos e o tempo verbal em que eles são vividos. O tempo
subjetivo diz respeito ao rápido ou demorado que costumeiramente se diz. Como
uma pessoa que afirma que nos dias em que as coisas vão bem ela sente como se o
tempo passasse mais rápido, assim como o contrário. Só é possível que a pessoa
diga que o tempo passou rápido se houver um parâmetro de comparação, e tal
parâmetro é o tempo do relógio. Então, a relação entre o tempo convencionado do
relógio e a sensação temporal da pessoa é que dão ao filósofo a possibilidade
de dizer qual é a localização temporal das suas vivências.
Mesmo falando de um só
tópico, apenas no parágrafo anterior encontram-se teorias de nada mais nada
menos que Aristóteles e Kant. Não se trata de uma cópia de suas categorias, mas
sim, uma adaptação dos conceitos desenvolvidos pelos dois para o trabalho
terapêutico..O tempo, como já conceituado anteriormente, é a categoria que
cuida da relação entre o tempo objetivo e subjetivo.
No consultório, dia
destes, um partilhante dizia que já era tempo de encontrar alguém na vida que lhe
fosse “completar”, em suas palavras: “Alma gêmea”. Depois de alguns meses de
trabalho, a pessoa encontrou um par, segundo ela, perfeito. Conversa vai,
conversa vem e o que parecia perfeito acabou se revelando um problemão, pois a
pessoa perfeita era 20 (vinte) anos mais nova e isso tornava o relacionamento
impossível. Não é que assim seja para o terapeuta ou para a sociedade, mas
segundo os valores da pessoa era algum inimaginável, muito menos praticável.
Veio então a expressão: “Pessoa certa no tempo errado”. Esta pessoa estava
agora, depois de se constituir na vida, no tempo de aproveitar, de abrir as
asas e voar, mas precisava de alguém com quem compartilhar este vôo. No
entanto, da maneira que aconteceu, não seria a ela possível dar continuidade ao
que poderia ser um relacionamento.
A temporalidade é
diferente em cada pessoa, o tempo que cada um leva para ser “adulto” é
diferente. Vários são os casos nos quais a pessoa é “obrigada” a amadurecer bem
mais cedo e o tempo de suas vivências é alterado. Muitas vezes você cruzará com
o seu par perfeito no tempo errado, mesmo sendo perfeito, ou é cedo demais ou é
tarde demais. O ideal é estar aberto para as experiências, um amor pode vir
cedo demais, mas pode vir uma vez só.
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