Em Filosofia Clínica a
palavra Interseção designa o contato entre duas pessoas, assim como na
matemática Intersecção ou Interseção refere-se aos elementos compartilhados por
dois conjuntos. O contato matemático é definido por aquilo que os conjuntos
compartilham entre si. Em Filosofia Clínica, esse conceito tem ainda outro
desdobramento: a definição da qualidade desse contato. Em outras palavras, para
um filósofo clínico, ao observar o contato entre duas pessoas ele presta
atenção no que é partilhado no contato e ainda na qualidade desse contato. Sendo
assim, uma Interseção pode ser positiva, negativa, confusa ou indeterminada.
O programa Super Nanny
que passa na TV aberta mostra a interseção entre os pais e os filhos. A relação
exposta no início do programa geralmente mostra filhos dos quais os pais não
“dão mais conta”. Crianças extremamente desobedientes, boa parte das mesmas
agressivas com os pais e os irmãos, geralmente usando de agressão para
conseguirem o que desejam. Quando suas vontades são supridas, as crianças se
acalmam até que venham a ter uma nova necessidade que deverá ser satisfeita
pelos pais. Em outras palavras, a interseção com os pais é positiva para a
criança enquanto ela consegue o que quer, caso contrário a interseção fica extremamente
negativa.
Referente a um outro
artigo chamado de “Arapuca”, onde eu falava dos pais que se tornaram reféns das
necessidades dos seus filhos, recebi um comentário no qual uma pessoa disse
mais ou menos assim: “Os filhos não vêm com manuais de instrução, não sabemos
como eles vão receber o que damos”. O parágrafo acima praticamente responde
esta questão: os filhos aprendem inclusive a receber com seus pais. Então,
quando um pai entrega algo a um filho, e o dá como sendo algo sem valor como
espera ele que o filho aprenda a valorizar? Pode até ser que aprenda na escola,
com um vizinho, mas com certeza não aprenderá em casa. O programa Super Nanny é
claro ao mostrar que desde muito cedo a criança deve aprender que ela tem
direitos, mas também muito deveres e o que ganha é mérito seu.
A interseção pode ser
de grande ajuda na hora da educação, uma criança que tem interseção positiva
com a mãe, com o pai talvez seja mais facilmente ensinada. Diferente daquela
criança que vive uma interseção confusa em que hora recebe agrados, pouco
depois xingões, sem nem mesmo saber o que houve. É necessário que o pai ou a
mãe sente-se junto e mostre o motivo pelo qual a qualidade da interseção ficou
ruim. Aponte para a criança que quebrar os brinquedos deixa o pai e a mãe
triste, mostre a ela, de um jeito que ela entenda, que deve ser diferente. Promover
uma atitude consciente na relação da criança com os pais e dela com os objetos
é um bom caminho para a educação.
Em muitos casos pais e
filhos chegam na escola e não tem a menor ideia de como está a sua interseção.
São interseções de qualidade indeterminada, nem boa, nem ruim, mas também não é
confusa, é uma interseção onde a criança não sabe o que esperar do pai ou da
mãe. Muitos destes casos vêm de pais que de alguma maneira não estão bem e
deixam as crianças a ver navios, sob a tutela de empregados, avós. Nem sempre a
interseção positiva é recomendável, algumas vezes punir o filho pode ser
extremamente negativo para a interseção, mas positivo enquanto educação. Como
disse Pitágoras: “Eduquem as crianças e não será necessário punir os homens”.
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