Encontro Nacional

Encontro Nacional

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Igualando desiguais

Se eu dissesse que você é igual aos outros e por isso deve ser tratado como os demais, provavelmente você concordaria. Digamos que você passou em um sinal vermelho sem perceber, mas o agente de trânsito percebeu e veio para lhe multar. Num momento como este, você aceitaria a multa por ser igual aos demais que passaram o sinal vermelho e foram multados ou tentaria um tratamento diferenciado? Em casa, quando morava com os pais era tratado como todos os outros da casa, agora que saiu dela e mora fora, quando vem visitar os pais quer ser tratado diferente? Numa empresa, todos são orientados a chegar no horário, mas você acabou por se atrasar por conta do despertador que não funcionou. É claro que você sempre chega na hora, foi a primeira vez, poderia ser tratado de modo diferente. Nós somos seres de desigualdade, cada um é totalmente único e inigualável.
Um filósofo francês chamado Jean-Jacques Rousseau escreveu o livro “Discurso sobre a origem e os fundamentos das desigualdades entre os homens”. Para este filósofo, a desigualdade tem basicamente duas raízes: uma é natural ou física e a outra social ou política. A primeira desigualdade é facilmente compreendida, basta olhar a pessoa ao seu lado para perceber que ela é diferente, ainda que seja gêmea sua. A diferença social ou política já não é de tão fácil percepção pelo “apelo à igualdade” que é feito em todo veículo de comunicação. Mas, caso queira perceber este tipo de desigualdade dê um passeio em sua cidade e perceba que algumas pessoas têm grandes residências enquanto outras se escondem embaixo de pedaços de papelão. De forma definitiva pode ser dito, sem chance de erro, somos diferentes.
As diferenças existentes entre as pessoas vêm sendo paulatinamente escondidas via propaganda, políticas de massificação e outras tantas ferramentas de alienação. No entanto, cada um, por suas características tem uma gama limitada de futuros possíveis. Quando um jovem chega numa organização e inicia sua carreira, o leque de futuros possíveis é muito grande, mas logo após sua primeira promoção para o setor financeiro este leque reduz. Mas todos os colegas dele poderiam ser promovidos para o financeiro? Será que todos têm as mesmas características que ele? Alguns podem dizer que basta querer e tudo é possível. No entanto, você deve conhecer muitas pessoas que não são jogadoras de basquete por causa da altura, que não são jóqueis por serem baixos demais, que não foram para o exército pelo mesmo motivo. Essa é a desigualdade física, aquela da qual Rousseau já chamou atenção.
Ainda que fisicamente fosse possível a todos os rapazes da organização trabalhar no financeiro, será que todos têm como perfil trabalhar numa sala e num ofício muito mais cerebral do que físico? Muitos são os profissionais que são promovidos de trabalhos físicos para trabalhos cerebrais que não suportam, pedem demissão ou são demitidos. Não é só porque uma pessoa gosta mais deste do que daquele trabalho que pode ser remanejado, mas porque seu perfil se adequa melhor a um trabalho do que outro. Esse é um dos motivos pelos quais alguns jovens fazem teste vocacional, querem saber pelo seu perfil a profissão a qual se adequarão melhor.
O perfil de cada um é único e se adequa melhor nesta ou naquela profissão. A vontade, a possibilidade de mudar ou moldar são limitadas. Algumas pessoas são mais maleáveis, outras nem tanto, por isso, quando uma organização contrata ou promove deve estar atenta ao perfil do candidato. Contratar alguém com um perfil mais dinâmico, voltado às relações, comunicativo e colocar numa salinha empoeirada para fazer trabalho de arquivamento é provavelmente condenar o profissional a sair da organização. Conhecer o perfil do profissional e tornar a relação entre profissional, função e organização harmônicas, é um caminho para se conseguir com que cada um dê o seu melhor.

Rosemiro A. Sefstrom

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Vontade e método

Para algumas organizações o que vale é basicamente a motivação, o ânimo, a vontade. Dizem os gestores que sem motivação os resultados não aparecem, por isso estão constantemente investindo em palestras motivacionais. A motivação tem como função fazer com que a pessoa tenha vontade de trabalhar, que ela queira, busque, tenha ânimo para produzir. Para outras organizações o peso maior está sobre o método, sendo que o aspecto motivacional fica um tanto de lado, cabendo aqui um discurso mais racional, de cunho mais prático. Tanto na organização voltada para a motivação, quanto naquela voltada para o método, os resultados irão aparecer. No entanto, há uma limitação quando se fala em vontade, pois por mais que se tenha vontade, a falta de um método pode conduzir tudo ao fracasso. A vontade pode continuar e o fracasso se repetir, isso intermináveis vezes. A não ser que se tenha um complexo de Sísifo, que é começar algo que já sabe que vai dar errado, a sugestão é continuar com a vontade, revendo o método.
Infelizmente não é assim tão simples aprender e aplicar métodos, pois em muitos casos o método freia a vontade, o ímpeto. Por exemplo, um vendedor que vai na vontade, no ânimo, fala mais. Com isto, pode se colocar de maneira inadequada muitas vezes. Perde alguns negócios, mas vivencia a vontade. Não há nada de errado com isso, é o estilo dele, faz parte dele vivenciar a venda de maneira subjetiva. O que logo começa a aparecer é que certos clientes não são atendidos a contento e a organização percebe que a qualidade técnica do vendedor limita sua produtividade. Não é diferente no setor financeiro, mesmo com toda a vontade possível, a falta de método pode gerar graves problemas. A vontade pode criar relacionamentos, trazer melhores propostas, mas a falta de método faz com que a pessoa não perceba onde e como pode melhorar o desempenho da organização.
Com relação ao tema aqui exposto, um filme que vale a pena assistir se chama “Rush – No limite da emoção”. Este conta a história da temporada de 1976 da Formula 1, tendo como centro do enredo a competição entre James Hunt e Niki Lauda. James Hunt era jovem e conhecido em sua época pela vontade com a qual vivia a vida. Essa vontade podia ser traduzida na intensidade com que fazia tudo, desde a vida profissional até o trabalho. Do outro lado Niki Lauda, também jovem, mas de uma vertente diferente, muito mais metódico e calculista. O diferencial entre Hunt e Lauda nas pistas era o modo como cada um conduzia seu carro, a vontade de um contrastava com o método do outro. Para Lauda, por mais que houvesse vontade, o método vinha em primeiro lugar, enquanto Hunt vivia a vida ao máximo colocando a vontade em primeiro lugar.
Nas telas dos cinemas, em histórias contadas em programas sensacionalistas, em livros de autoajuda e tantos outros materiais, o destaque geralmente se dá na vontade. No entanto, a vontade limita, o próprio James Hunt é prova disto: sua vontade levou a conquista de apenas um campeonato, enquanto Niki Lauda foi tricampeão de Formula 1.
Em Filosofia a vontade, como apontada por Schopenhauer, pode ser a forma como algumas pessoas constroem sua representação de mundo. No entanto, outros tantos optam por Descartes, filósofo para o qual o método ganha importância e torna a ciência confiável. Não recomendo a disputa entre a vontade e o método, mas a união das duas, uma equipe com vontade e método. Quando esse for o cenário, com certeza o desempenho será o melhor possível.
Numa organização, parafraseando Arthur Shcopenhauer, os resultados virão de forma mais expressiva quando tivermos “O mundo com vontade e método”. A vontade, como elemento motivacional, que também pode ser dado pela organização e o método, como um caminho seguro que conduz ao resultado.

Rosemiro A. Sefstrom

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Rotina

Quando retornam às atividades cotidianas do ano a maior parte das pessoas utiliza a expressão: “De volta à rotina”. De acordo com o dicionário on line, a palavra rotina quer dizer “caminho utilizado normalmente”; rotina pode ainda ser descrita como “hábito de fazer uma coisa sempre do mesmo modo”. Independente do uso, a palavra rotina indica algo que é feito repetidas vezes sem o acréscimo de conteúdo, como um trabalho que a pessoa realiza repetidamente e nada aprende. No verão, boa parte das pessoas de nossa região, Sul do Estado de Santa Catarina, se desloca para as praias e ali moram por alguns meses. Conforme afirmam boa parcela destas pessoas, é bom morar na praia porque ali quebram a rotina, caminham na orla, conversam com os vizinhos, confraternizam mais. O que estas pessoas não percebem é que estão apenas alterando sua rotina, ou seja, deixam a rotina que estruturaram na cidade e assumem a da praia. É possível dizer que as pessoas que deixam de morar na cidade e vão morar na praia por alguns meses estão apenas trocando de rotina.  
O que faz a praia ser melhor é a inclusão de comportamentos que não acontecem quando estão na cidade. Muitas destas pessoas moram em apartamentos, mas não conhecem seus vizinhos, não tiram um tempo para conversar entre si e confraternizar. Quando estão na praia estão atentas aos vizinhos, nos finais de tarde sentam-se na frente de casa e ficam papeando, conhecendo-se e confraternizando-se. Quando estão na cidade, no início do dia e ao final dele estas pessoas não têm tempo, estão ocupados com o trabalho. No verão esvaziam a agenda e se dirigem para a praia, passando algumas horas paradas no congestionamento. Claro que se sabe que há alterações de horário e temperatura do verão para o inverno, que são épocas diferentes, com possibilidades diferentes. Olhando a rotina de modo macro, anualmente se vai à praia no verão e vive-se na cidade no inverno.
O que faz a praia algo diferente na rotina é o esforço que se faz para que seja um período diferente do normal. E se cada um se dedicasse com o mesmo empenho para fazer com que durante o ano os dias também fossem diferentes, e não fosse simples refém de sua própria agenda, talvez fora do período de verão a rotina também seria agradável. Durante o ano os sábados e domingos são os dias nos quais se pode quebrar a rotina, diferenciando dos dias de semana. Novamente, olhando de forma mais ampla, os fins de semana são rotina, ou seja, uma vez por semana temos dois dias diferenciados. O que vai caracterizar estes dois dias como quebra de rotina é o esforço de fazê-los diferenciados, caso contrário serão dois dias iguais a qualquer outro.
Cabe então a cada pessoa construir sua própria rotina. Alguns, para não dizer muitos, alegam que não é tão simples quanto parece, mas basta olhar o que fazem com o tempo livre ao longo do ano e o que é feito com o tempo livre no verão. Os comportamentos de sair, passear, confraternizar que são comuns no verão desaparecem em muitas pessoas durante o ano. Voltar à rotina é uma opção, pois é possível fazer cada dia um dia diferente, mesmo que ele seja igual ao dia anterior. Nos finais de semana procurar programas diferenciados, conhecer pessoas novas, ler novos livros, ver novos filmes, estar aberto ao novo. Voltar à rotina é opcional, pois cabe a cada um organizar seus compromissos de forma que não fiquem repetitivos.

Rosemiro A. Sefstrom