Encontro Nacional

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domingo, 22 de dezembro de 2013



Ao longo da história da Filosofia, uma entre tantas de suas buscas consiste em encontrar receitas que mostrem como o homem funciona, procurando apontar características universais e necessárias de qualquer ser vivente. Mesmo assim, praticamente dois mil e quinhentos anos após o início destes esforços cada vez mais se percebe que o ser humano é único. Sua participação em algumas características mais amplas não faz dele um igual a todos os outros. No entanto, na atualidade o que vem acontecendo com certa rapidez é a diferenciação por massificação. Explico: cada vez mais se busca ser diferente sendo igual. Um sujeito que vive no interior do Estado do Amazonas para ser diferente dos outros de sua cidade busca ter o melhor celular de todos. Esta regra também vale por aqui, ou seja, o sujeito busca ter características divulgadas pela mídia para ser diferente dos que estão ao seu redor. Esta é uma forma de diferenciação feita via massificação, como alguém que compra a melhor marca de carro para se diferenciar do restante das pessoas com quem convive. É claro que a olhos vistos ele não conseguirá diferenciar-se ao massificar-se, mas a ele, enquanto ser vivente dentro de um contexto específico se sentirá diferente pelo que tem.

Atualmente, via internet e outros meios de divulgação é cada vez mais fácil ter o que é moda nos mais diversos centros mundiais. Ao mesmo tempo é cada vez mais comum um jovem querer ser diferente sendo igual a muitos outros pelo mundo, o ser individual dele morre ao passo que ele se massifica. Foucault, filósofo francês, prega que a ciência deveria ser chamada de “heterotopologia”, o que significa ser uma ciência dedicada a estudar os diferentes espaços presentes numa mesma realidade. Para ele não há duas pessoas iguais, mas sim um sistema que cria regras para tratar a todos como iguais, para entender um pouco disto basta ler seu livro “História da loucura na Idade Clássica”. Nesta obra ele é taxativo: se existem regras abrangentes, estas existem para facilitar o domínio das pessoas como um todo, não mais como indivíduo.

Em outra obra chamada “As palavras e as coisas” Foucault mostra que quanto mais palavras são utilizadas para descrever algo, menos se tem do objeto. Levando em conta esta obra do autor e o atual passo da ciência reconhece-se que estamos cada vez menos o homem é visto como experiência pura. O homem enquanto ser puro é experiência única, você, a pessoa que está lendo este artigo agora é único. No entanto, ao olhar-se no espelho, ao andar com seu carro, estando numa escola, ao pagar seus impostos, você é apenas mais um, em alguns casos nada mais que um número. Não há mais a experiência pura de você, em alguns casos nem mais no seu casamento onde a esposa ou marido lhe vê apenas como mais um marido ou esposa. A experiência radical do outro é feita quando não há dados descritivos comparativos, onde suas características são um agrupamento único de características.

Como forma de exemplificar, comparemos uma pessoa a um café. Se você sentar e tomar um café, você sabe que é café, mas qual será seu gosto? Se você prestar muita atenção verá que não existe um café comparado ao outro. Se a experiência do café for radical ele fará parte de você, será único por si mesmo, porque faz parte de você. Retornando à ideia de Foucault de experiência pura, seria então perceber num mesmo espaço diferentes pessoas, cafés, sucos, paisagens. Quando alguém compara você, de alguma forma você está morto, porque a partir daquele momento você é apenas mais uma experiência contabilizada. Se você for vivido radicalmente e viver radicalmente o outro, fará parte dele e ele de você, não haverão pessoas, coisas, haverá sempre pessoa, coisa, únicos como experiência e participação.

Rosemiro A. Sefstrom

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