Encontro Nacional

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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Dói mais em mim do que em você!

Acredito que muitos já ouviram esta frase. Quando eu era pequeno, tinha como referência meu pai e minha mãe, tanto um quanto o outro procuraram corrigir ou orientar os meus modos. Engraçado, há muito tempo que não me lembrava da palavra modos. Quando criança, de vez em quando escutava: “Olha os modos”. Durante o processo educativo eu, assim como muitas outras crianças não tende a passar o dia fazendo tarefas do lar, mas com certeza faz de tudo por uma tarde brincando com os amigos. Essa vontade de ir brincar, por vezes brincadeiras inconseqüentes, era solenemente vetada com um não categórico, ao que geralmente se perguntava: “Mas por que não?” Minha mãe dizia: “Por que não”.
Com oito, dez anos, as respostas rápidas e nada explicativas de minha mãe pareciam apenas falta de vontade de deixar. Olhava para ela e pensava que poderia, quem sabe, argumentar, dizer que se fossemos faríamos isso ou aquilo, mas o não falava muito mais alto. Algumas vezes, como não era de ferro, acabava por desobedecer e quando ela menos esperava já estava na rua brincando. Pela desobediência recebia o velho e pedagógico puxão de orelhas, quando a “arte” era um pouco mais grave, umas palmadas e somente para aquelas muito graves, a cinta. Nunca entendi direito a escala de “arte” média, leve e grave, provavelmente a mãe deveria saber, pois a cada pouco estava cometendo alguma delas e sendo corrigido.
Quando me tornei homem, proprietário do meu próprio nariz, tornei-me dono daquilo que todos acham que tem em quantidade e qualidade o suficiente: o bom senso. Nesse momento comecei a tomar as minhas próprias decisões, comecei a errar e, agora, não havia mais o puxão de orelhas, a palmada ou cinta, tão temida. Agora os agentes corretivos são outros: para as minhas artes financeiras tem a Receita Federal, para as minhas artes contra os outros há a Polícia e assim por diante. Há muitas pequenas artes que não tive o privilégio de fazer, e fico muito feliz por não tê-las feito, não me fez falta. Mas, diferente de muitos que se identificaram até aqui, que ouviram os conselhos dos pais e se tornaram pessoas educadas, há muitos que não entenderam nada do que os pais disseram.
Para muitas pessoas, o aprendizado, chamado epistemologia em Filosofia Clinica, só acontece pelo tópico 02. Estas pessoas precisam viver na própria carne para poderem aprender. Algumas dessas aprendem que é errado mexer no que não é seu só após serem duramente castigadas, caso contrário, continuam fazendo. É por isso que, muitas vezes, o pai castiga em casa, para que outros não precisem fazê-lo. Não há nenhum tipo de apologia à violência, mas a atitude educativa dos pais diante de um filho. Infelizmente, muitas vezes minha mãe queria me deixar ir brincar, mas sabia que a torturante tarefa de matemática me faria bem no futuro.
Em muitos casos ser pai não é nada fácil, sofrer com um filho que precisa aprender sofrendo, é, para muitos pais, sofrer junto. Quando o pai se coloca no lugar do filho, o sofrimento desse filho se torna tão real para o pai quanto para o filho. É interessante, primeiro sofre-se como filho até ser enquadrado socialmente, depois pode-se sofrer como pai tentando enquadrar os filhos.

Rosemiro A. Sefstrom

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